Psy

"Só algumas pessoas escolhidas pela fatalidade do acaso provaram da liberdade esquiva e delicada da vida" "Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa, ou forte como uma ventania, depende de quando e como você me vê passar" "Clarice Lispector"

1.6.06

Um Querer Feminino

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Ando exausta.
Sinto dentro de mim que quero paz. Paz das plantas. Paz de criança dormindo.
Quero um homem que vele pelo meu sono, tire carinhosamente os meus sapatos, me
leve mansamente para a cama e me cubra com o mesmo carinho de uma mãe com seu
bebé. Quero que ele traga chá quente para me aquecer por dentro e ache graça no
meu nada-fazer.
Quero um quarto macio e cor-de-rosa, com cortinas românticas nas janelas, para
filtrar a luz forte e penetrante do dia. Quero que ele me dê banho de banheira e
não puxe pela minha cabeça. Nada de conversas intelectuais.
Na realidade, não quero nem que ele me diga palavras mansas de amor apaixonado.
Não quero ser desejada fisicamente.
Quero apenas a presença dele, discreta e silenciosa.
Que fique ali, fazendo as suas coisas e contemplando, com olhar doce e sem
súplica, a minha quietude.
Quero ruminar como um boi manso olhando a imensidão do pasto.
Assistir à televisão sem som, como se assiste às labaredas de uma lareira.
Quero o amor do meu homem, seu sexo em ereção por mim, mas sem que me solicite
nada.
Que seu coração emocionado e seu sexo desejante não me invadam o corpo ou me
penetrem a alma.


Eu o quero disponível, ali, para a hora em que eu o desejar.
Quero que não se magoe por nem sempre eu estar disponível para ele.
Que seu sexo pertença ao meu corpo como um dedo de minha mão, mas que não me
pressione.
Quero que ele sinta o meu amor e o meu desejo por ele.
Quero ser vista como uma princesa, e que seus olhos fiquem mansamente
embevecidos por me ver assim.
Ah, se ele pudesse me entender nesse meu temo deleite! Ah, se ele pudesse ser um
manso regaço para a minha exaustão!
Estou exausta até de amar e ser amada, de desejar e ser desejada.
Que bom se ele pudesse viajar comigo em busca de paz!
Sei que estou pedindo muito, mas não quero isso para sempre.
É só por algum tempo, como alguém que precisa dormir para despertar com novas
energias.
Preciso passar só uns dias nos jardins do Éden, comendo os doces frutos do
paraíso.
Quero uma pausa nos orgasmos do corpo e dos sentimentos.



Quero repouso no êxtase.
Ele nem imagina como seria maravilhoso se pudesse me acompanhar nessa viagem,
mansamente e cheio de prazer.
Ele me veria repousada e saciada da minha fome de paz. E presenciaria o meu
amanhecer, cheio de genuína gratidão e encantamento por ele. Desse sono
reparador eu sairia restaurada. Ele então veria uma dança espanhola possuir meu
corpo, castanholas marcarem a minha cadência, a potranca árabe que trago em mim
entrar no cio. Eu voltaria, de corpo e alma, para o lindo universo da paixão.
Meus sentimentos e desejos entrariam em erupção.
Minha cabeça, num cio intelectual. Eu recuperaria todo o meu gosto pêlos
prazeres masculinos - até ao futebol eu iria. Mas que ele vivesse, pelo menos
durante um tempo, os meus prazeres femininos. Tão femininos que nem são próprios
da mulher adulta. Um prazer pré-sexual, pré-emocional, pré-amoroso. A sensação
de ser criança pequena aconchegada nos braços tranquilos da mãe. Todo um clima
de bonança tão necessário a quem navegou nas tempestades.

Ah, se o homem soubesse disso, quanto prazer ele não seria capaz de extrair de
sua mulher!
Quantas noites de amantes enlouquecidos ele não viveria!
Se o homem pudesse arejar o seu vigor masculino, deixando penetrar em suas
brechas as brisas femininas...
Que sua renúncia transitória à busca aflita de encontros pudesse deixar nele
a certeza de que encontros rejuvenescidos não tardariam a vir.
Estou convencida de que muita mulher jamais se entregou a seu parceiro porque
ele jamais se entregou a ela. O masculino não soube enxergar o feminino nas suas
formas mais extremas, de puro deleite de sensações plácidas. Desgraçadamente,
essa necessidade feminina é vivida pelo homem como rejeição, frigidez, recusa e
desamor. Por isso, tantos garanhões de raça não conseguem despertar a potranca
puro-sangue que sua mulher recolhe nas entranhas.

Extraído do livro: A costela de Adão - Eduardo mascarenhas.
Texto de Autoria Desconhecida.



1 Comments:

Blogger Unknown diz...

Por muito tempo eu entrei numas que entendia as mulheres que amei, mas com o tempo fui ficando com algumas dúvidas sobre isso.Lendo esse texto vejo que não entendia nada e não entendo nada, mas vou me esforçar... até porque, noooossaaa como eu gosto delas.

12:09 PM  

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No amor, nem sempre são as faltas o que mais nos prejudica, mas sim a maneira como procedemos depois de as ter cometido. "Oví­dio"