Psy

"Só algumas pessoas escolhidas pela fatalidade do acaso provaram da liberdade esquiva e delicada da vida" "Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa, ou forte como uma ventania, depende de quando e como você me vê passar" "Clarice Lispector"

29.9.07

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O Samadhi do Espelho

Durante uma conferência, o Buddha Shakyamuni tomou de uma flor e fê-la girar delicadamente entre os dedos. Os discípulos presentes não lhe compreenderam o gesto e apenas Mahakashyapa sorriu... Disse-lhe, então, o Buddha:

— Apenas tu compreendeste o segredo do nirvana, meu maravilhoso espírito; ei-lo, é teu.

É o samadhi do espírito do Buddha.

O espírito do Buddha é como um espelho e o espírito de Mahakashyapa se refletia nele. A imagem refletida era um espírito perfeitamente puro, o espírito original, em perfeita e total unidade com o espírito do Buddha. O Buddha era o espelho. O espírito de Mahakashyapa penetrou o espelho. Só o karma, só a forma de Mahakashyapa penetrou o espelho. Só a forma de Mahakashyapa olhava para o espelho; mas o reflexo do espelho não era Mahakashyapa, senão o espírito perfeitamente original, puro, em perfeita unidade com o espírito do Buddha, com a luz de Buddha.

O reflexo de Mahakashyapa tornara-se o Buddha. Mahakashyapa olhava objetivamente para o seu espírito no espírito do Buddha. E isso Mahakashyapa compreendera:

A imagem no espelho sois vós,
Mas vós não sois a imagem;
Vossa existência não é a imagem do espelho.

Quando o contemplamos, o espelho não fabrica o reflexo por si só. Não lhe é dado captar a forma. Faz-se mister a combinação dos dois.

Ainda que o espelho exista, se não olharmos para ele não veremos reflexo.

As relações da consciência e da sabedoria com o cosmo são as mesmas que existem entre o espelho, o reflexo e a forma.

Até a nossa morte não podemos ver o nosso rosto. Só conhecemos o reflexo do espelho, nunca nos contemplamos diretamente. Devemos passar pelo reflexo no espelho. Mas o espelho não é a verdade, é apenas um espelho.

Quinhentos macacos observam o reflexo da Lua na água e pensam: "Que fruto maravilhoso, vamos comê-lo?" Todos juntos, desde o vale até o lago, dão-se as mãos para ir colher o fruto maravilhoso da Lua que aparece na água, e todos caem no lago.

Querer meter o céu num balde. Querer agarrar o vento e tentar amarrá-lo com uma corda. Nossa civilização é assim, e por isso está dito no Shodoka: não se deve tentar pegar a Lua no balde, nem o vento no céu.

No zazen, temos ilusões provocadas pelos cinco sentidos: a cor, a voz, o olfato, o gosto, o tato. Ainda que tenhamos sensações, não devemos inquietar-nos com elas, pois o samadhi, a concentração do espelho, não é manchado por elas.

Não se deve separa shiki e kû (fenômeno e essência), é precioso abandonar os dois, tanto shiki quanto kû.

Não devemos estabelecer categorias. Na vida cotidiana, nas discussões, é sempre assim: "Estou certo, mas tu não estás."

Queremos estar sempre competindo com os demais.

Assim, nos sutras, no nirvana, no lótus, no diamante [vajra] corta, o monge zen fala com uma língua sem osso: isso significa que ele deve falar em todas as direções, abranger as contradições, sem oposição.

Deshimaru, Taisen. O Anel do Caminho: Palavras de um Mestre Zen.





Retratos

No que falas e escreves, a cultura te revela a imagem do celebro,
à frente dos semelhantes.
Nas provações que suportas com paciência e naquilo que fazes com amor,
a caridade, perante os outros, te mostra o retrato do coração.

Emmanuel, Psicografia do médium Francisco Cândido Xavier.



”Somos mais pais do nosso futuro do que filhos do nosso passado". Miguel de Unamuno



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No amor, nem sempre são as faltas o que mais nos prejudica, mas sim a maneira como procedemos depois de as ter cometido. "Oví­dio"