Se um homem de uma civilização anterior à nossa - um grego da Antiguídade, digamos, um romano - aparecesse de súbito entre os seres humanos do presente, suas primeiras impressões o levariam a considerá-los uma raça de mágicos, de semideuses. Mas fosse um Platão ou um Marco Aurélio e se recusasse a ficar deslumbrado ante as maravilhas materiais criadas pela tecnologia avançada e examinasse a condição humana com mais cuidado, suas primeiras impressões dariam lugar a uma grande consternação.
Notaria logo que o homem, não obstante o imponente grau de domínio sobre a natureza, possui um controle muito limitado sobre o seu interior. Perceberia que esse mágico moderno, capaz de descer ao fundo do oceano e de projetar-se até a lua, é, em larga medida, ignorante do que se passa nas profundezas do próprio inconsciente e incapaz de se elevar aos luminosos níveis da supraconsciência, tornando-se cônscio de seu próprio self. Verificaria que esse pretenso semideus que controla grandes forças elétricas com o mover de um dedo e inunda o ar de sons e imagens para divertimento de milhões de pessoas - é incapaz de lidar com as próprias emoções, impulsos e desejos.
Conforme indicaram diversos autores, entre os quais Toynbee, esse abismo que se interpõe entre as forças internas e externas do homem é uma das causas mais importantes e profundas dos males individuais e coletivos que afligem nossa civilização e tão gravemente lhe ameaçam o futuro.
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