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"Só algumas pessoas escolhidas pela fatalidade do acaso provaram da liberdade esquiva e delicada da vida" "Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa, ou forte como uma ventania, depende de quando e como você me vê passar" "Clarice Lispector"

27.6.06

Fragmentos de um discurso amoroso

de Roland Barthes
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"Encontro pela vida milhões de corpos;
desses milhões posso desejar centenas;
mas dessas centenas, amo apenas um.
O outro pelo qual estou apaixonado
me designa a especialidade do meu desejo.




(...) Foram precisos muitos acasos, muitas coincidências
surpreendentes (e talvez muitas procuras) para
que eu encontre a Imagem que, entre mil,
convém ao meu desejo. Eis um grande enigma do qual
nunca terei a solução: por que desejo Esse?
Por que o desejo por tanto tempo, languidamente?...




Como termina um amor? - O quê? Termina?
Em suma ninguém - exceto os outros - nunca sabe disso;
uma espécie de inocência mascara o fim
dessa coisa concebida, afirmada,
vivida como se fosse eterna.
O que quer que se torne objeto amado,
quer ele desapareça ou passe à região da Amizade,
de qualquer maneira, eu não o vejo nem mesmo
se dissipar: o amor que termina se afasta
para um outro mundo como uma nave espacial
que deixa de piscar: o ser amado ressoava como um clamor, de repente ei-lo sem brilho (o outro nunca desaparece
quando e como se esperava).
Esse fenômeno resulta de uma imposição do discurso amoroso: eu mesmo (sujeito enamorado) não posso construir até o fim de minha história de amor: sou o poeta (o recitante apenas do começo);
o final dessa história, assim como a minha própria morte,
pertence aos outros; eles que escrevam romance,
narrativa exterior, mítica."


No amor, nem sempre são as faltas o que mais nos prejudica, mas sim a maneira como procedemos depois de as ter cometido. "Oví­dio"