Psy

"Só algumas pessoas escolhidas pela fatalidade do acaso provaram da liberdade esquiva e delicada da vida" "Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa, ou forte como uma ventania, depende de quando e como você me vê passar" "Clarice Lispector"

25.5.07

So-Ham



"O sábio fala porque tem alguma coisa a dizer.
O tolo, porque tem a dizer alguma coisa
."
Platão



O Silêncio de Deus


Sem dúvida, pode ser dito que quem cala sua própria voz passa a escutar a voz de Deus, o Deus que é o Ser Real de todos e está dentro de cada um.

A Divina Voz, ininterruptamente, nos fala a sentença da Verdade que liberta: “EU SOU DEUS”. Mas, como A escutar? Nosso incessante agir, sentir, falar, desejar, rememorar, planejar, anelar, sonhar..., em andamento aflito, faz um ruído tão fascinante quanto ensurdecedor. A inquietude normal que nos engolfa não nos permite salvar-nos por escutar o clamor da voz no deserto, a melodia da flauta de Krishna, a comovente lira de Orfeu, a salvação que vem do Divino Verbo e a lição-ternura e o poder da vibração do OM.

Só escutaremos DEUS dizer-nos EU SOU quando lhe oferecermos a condição precisa, isto é, rendermo-nos totalmente a ELE e lhe ofertarmos nossa tranqüilidade ou quietude:

“Rendei-vos e reconhecei que eu sou Deus”.
(Salmos 46, 10 – Bíblia de Jerusalém)

“Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus”
(Salmos 46, 10 – Sociedade Bíblica do Brasil)

Essa tranqüilidade total, que só se alcança com uma incondicional rendição a Deus é que torna audível o Divino Verbo.

Não foi somente David que nos falou da necessidade de quietude libertadora. Escutemos também Isaías:

“Se vos retirardes e aquietardes, sereis salvos.
Tranqüilidade e segurança serão a vossa força.”
(Isaías, 30:15)

O como alcançar a quietude plena torna-se, assim, um imenso valor para todos que buscam contatar ou unir-se com Deus. A isso se chama salvação, re-ligação e Yoga, e é a meta suprema da vida, direito e desafio nosso.

Os Avatares (encarnações divinas) e os Rishis (sábios videntes) da Índia ensinaram a arte-ciência da meditação, com a qual podemos alcançar a quietude, o vazio e o silêncio da mente. A parada total das atividades mentais, chamada samádhi, é meta suprema, pois permite a fusão da alma individual do meditante com a Alma Universal ou Deus, com tudo o que Deus pode e é.

Um objetivo tão alto, evidentemente, não se consegue com facilidade, mas através de um caminho estreito. Estreito mas, ao mesmo tempo, venturoso e convidativo para a alma que amadureceu e aprendeu que as delícias e os poderes, a paz e a segurança “que o mundo dá” são falsos e frustradores por serem inevitavelmente fugazes.



Alcançar a parada da mente é possível, mas somente depois de estabelecido o controle sobre o corpo físico, sobre a bioenergia (prána) e sobre as sensações (pratyáhára).

A posição ideal para a prática de meditação atende a quatro condições:

1) ser estável;
2) ser confortável;
3) ser relaxada;
4) e manter a verticalidade da coluna vertebral.

Em condições tais é que se consegue reduzir à plena quietude o corpo físico.

O controle das energias é alcançado através da disciplina respiratória.

Aquietados o corpo e as energias, fácil se torna deixar de sentir dor, ruídos, frio, calor... Nada se vê, pois os olhos estão fechados. “Entra em teu quarto e fecha a porta...”

A intenção do meditador longe está de manter-se pensando, refletindo, lembrando, sonhando, desejando, imaginando... É parar, esvaziar e silenciar a mente, que, por natureza, é imensamente adversa a qualquer controle, e muito mais contra ser detida. O meditador aspira somente por encontrar-se com o “Pai que está no secreto”. Não deseja ter visões, escutar vozes, ser envolvido em percepções extra-sensoriais, sair do corpo, “incorporar”... Apenas aspira a estancar a mente.

Sentado confortável e estavelmente, com a coluna vertical, em relax, com os olhos fechados, o meditador põe-se a contemplar o livre fluir de sua respiração, procurando manter-se, assim, sem outra pretensão que continuar ininterruptamente mirando a entrada e a saída do ar. E nisso evita a mínima dose de “briga” com a mente, a qual logo se revela e vai para onde mais deseja, ou melhor, para os objetos do mundo externo que ela sempre deseja.

Qualquer tentativa de submeter a mente, obrigando-lhe a ficar atenta somente sobre o objeto escolhido para a “concentração”, é uma forma de lhe dar maior força e segura vitória. Não há qualquer esperança de, pela força, vencer a mente. Mas, ela não é assim tão invencível. Basta que o meditador não aceite o confronto, que não ouse a impossível tarefa de vencê-la, mas, ao contrário, cultive paciência, gentileza e, digamos, amor.






A mente não é para ser combatida, mas seduzida e conquistada.

Para isso, Avatares e Sábios da tradição ensinaram um método milenarmente conhecido como ajapa japa, que consiste em repetir um mantra. O mantra repetido, no silêncio interior, tem o sortilégio de acalmar e convidar a mente a aprofundar-se em camadas universais cada vez mais sutis, no rumo de se infinitizar na unidade do Ser.

Não é absolutamente indispensável que o mantra seja específico, pessoal. Deus é muito misericordioso e, assim, através dos Mestres, ensinou um mantra universal, isto é, um que serve a todos indiscriminadamente. Ele é so ham. So vem de Sat, isto é, o Ser, o Deus Supremo. Ham significa “eu sou”. So ham é o mesmo que “eu e o Pai somos um”. So é o som da nossa inspiração. Ham, o da exalação.

Sentado, em relax, com o corpo inerte, silente, e as sensações cortadas, a meditação entra numa nova fase, a de associar à inspiração a pronúncia mental do so, e, à exalação, ham. A mente entretida continua com o so ham, no compasso dos movimentos respiratórios, a essa altura muito harmoniosos, livres, sincrônicos e sensivelmente reduzidos.

Não demora muito, o meditador se dá conta de que sua mente já está muito longe, seja no tempo, no espaço, ou em ambos. O que lhe cabe fazer é ter paciência e calma e, com brandura, trazer de volta a recalcitrante para continuar no so ham, tantas vezes quantas ela fugir.

A meta suprema – a parada total (como que a supressão) da mente e a simultânea união com Deus – é obra para muita persistência e paciência, e pode requerer encarnações e mais encarnações. A prática diária (vinte minutos pela manhã e à noite), porém, assegura a colheita de preciosos frutos psicossomáticos, evidenciados em controles de laboratórios científicos austeros.

Qualquer que seja a religião de alguém, a meditação lhe é de imenso valor e até mesmo indispensável.

In: Saúde Plena: Yôgaterapia, Hermógenes, Record/Nova Era, Rio de Janeiro, 1992




1 Comments:

Blogger Soham diz...

Gostei do blógui, essa postagem particularmente achei especial.

Abraços e parabéns.

4:19 AM  

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No amor, nem sempre são as faltas o que mais nos prejudica, mas sim a maneira como procedemos depois de as ter cometido. "Oví­dio"