O prazer é uma canção de liberdade, Mas não é a liberdade. É o desabrochar de vossos desejos, Mas não o seu fruto. É um abismo olhando para o cume, Mas não é nem o abismo nem o cume. É o engaiolado ganhando espaço, Mas não é o espaço que o envolve.
Sim, na verdade, o prazer é uma canção de liberdade. E de bom grado eu vos ouviria cantá-la de todo vosso coração; porém, não gostaria que perdêsseis vosso coração no canto. Alguns de vossos jovens procuram o prazer como se fosse tudo na vida, e são condenados e repreendidos. Eu preferiria nem condená-los, nem repreendê-los, mas deixá-los procurar. Pois encontrarão o prazer, mas não só ele. Sete são suas irmãs, e a última dentre elas é mais bela que o prazer. Não ouviste falar do homem que cavava a terra à procura de raízes e descobriu um tesouro? E alguns de vossos anciãos recordam seus prazeres com remorso, como se fossem erros cometidos num estado de embriaguez. Mas o remorso é o escurecimento da alma e não o seu castigo. Deveriam antes recordar seus prazeres com reconhecimento, como recordariam um colheita de verão.
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Todavia, se acharem conforto no remorso, deixemo-los se confortarem. E há entre vós aqueles que não são jovens para procurar, nem velhos para recordar; E no seu temor de procurar e recordar, desprezam todos os prazeres por medo de afugentar ou ofender o espírito. Porém, na sua renúncia está seu prazer. E, assim, eles também descobrem um tesouro embora cavem com mãos trêmulas à procura de raízes. Mas, dizei-me, quem pode ofender o espírito? Ofende o rouxinol a quietude da noite ou o pirilampo, as estrelas? E poderá vossa flama ou vossa fumaça sobrecarregar o vento? Credes que o espírito é um poço tranqüilo que podeis perturbar com um bastão?
Muitas vezes, ao negardes a vós mesmos um prazer, nada mais fazeis do que represar vosso desejo nos recessos de vosso Eu. E quem sabe se o que parece omitido hoje não espera pelo amanhã? Mesmo vosso corpo conhece sua herança e seus direitos, e vós não o podeis iludir. E vosso corpo é a harpa de vossa alma: A vós pertence tirar dele música melodiosa ou ruídos dissonantes.
E agora perguntais em vosso coração: 'Como distinguiremos o que é bom no prazer do que é mau?' Ide, pois, aos vossos campos e pomares e, lá, aprendereis que o prazer da abelha é sugar o mel da flor, Mas que o prazer da flor é entregar o mel à abelha. Pois, para a abelha, uma flor é uma fonte de vida. E para a flor, uma abelha é uma mensageira de amor. E para ambas, a abelha e a flor, dar e receber o prazer é uma necessidade e um êxtase. Povo de Orphalese, nos vossos prazeres, imitai as flores e as abelhas.
O Profeta - Gibran Khalil Gibran
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