Alberto Casal Castel
Publicista Argentino (1907-1948)
Se pudéssemos contar nossos dias como contamos nosso dinheiro,
empregá-lo-íamos com maior prudência. Começaríamos por adquirir artigos de
primeira necessidade: afetos sinceros, noções precisas, uma vocação à altura
de nosso entusiasmo.
Depois, sonharíamos um pouco…
Com isso temos bastante. Porque, no fim das contas, para converter uma vida
comum numa grande vida, somente é necessário inteiro desprendimento para com
os outros; saber qual é o nosso eu e suas reações com o universo, e alcançar
a esperança que imaginamos.
Quem se conforme com o desprender-se para com os demais, será bom. Quem se
desprende para com os demais e faça alguma coisa para que melhorem, será bom
e generoso. Quem além de desprender-se para com os outros e os obsequiar com
sua ciência e arte, fizer todo o possível para triunfar em meio deles, será
bom, generoso e sábio.
O desprendimento é, portanto, o grande egoísmo. Porque num mundo diáfano
todas as coisas são mais formosas, e este mundo é um mundo velho, de
obscuras ruazinhas cheias de dor e espanto. Alguém chora, seu pranto
envergonhará nossa alegria; alguém se queixa, seus gritos mortificarão nossa
calma; alguém permanece faminto, nossa será a sua miséria; e embora alguém
possa ser chamado ignorante, temos de desconfiar de nossa sabedoria, porque
a verdadeira sabedoria consiste em destruir uma verdade universal ou em
encontrar a verdade para todos.
Evitar sofrimentos, responder aos pais com uma palavra de consolo;
compartilhar o pão; aluminar com nossa fé as consciências obscuras ou
extraviadas, esse é o programa de uma alma reta. Mas quem se atreve a
elaborá-lo? E quem que o tenha elaborado o cumpre cabalmente?
O mais comum é que gastemos sem regra nem medida o grande capital que Deus
nos empresta à hora do nascimento e cujo recibo ele mesmo recolhe à hora da
morte.
O sacrifício é mais belo e nobre que o prazer, mas o prazer é mais
procurado. Não há duvidas alguns se aproveitam de nossas energias, outros a
dissipam.
Disse M. Lambert que “os prazeres humanos são enganadores: prometem-nos mais
do que na realidade nos dão”. Na verdade, prometem-nos tudo e não nos dão
nada. Nada, senão a dor tão bem desafogada na copla de Manrique.
Buscar a felicidade pelo caminho que muitos a buscaram equivale a encontrar
a desdita de que eles tiveram notícia antes de nós outros, a felicidade se
encontra pelo caminho do sofrimento, quando esse termina, e nele são poucos
os que a têm procurado.
Quereis que a vida não seja breve? Engrandecei-a com os vossos projetos!
Quereis que a vida não seja pequena? Vivei-a como se ela fosse terminar
amanhã! Cada um possui uma vida tão rica e tão nobre quanto o cuidado que
teve em modelá-la.
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