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"Só algumas pessoas escolhidas pela fatalidade do acaso provaram da liberdade esquiva e delicada da vida" "Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa, ou forte como uma ventania, depende de quando e como você me vê passar" "Clarice Lispector"

22.7.06

A criança em Ruínas

ouvindo




No tempo em que éramos felizes não chovia.
Levantávamo-nos juntos, abraçados ao sol.
As manhãs eram um céu infinito nosso amor
era as manhãs.
No tempo em que éramos felizes
o horizonte tocava-se com a ponta dos dedos.
As marés traziam o fim da tarde e não víamos
mais do que o olhar um do outro.
Brincávamos e éramos crianças felizes.
Às vezes ainda te espero como te esperava quando chegavas
com o uniforme lindo da tua inocência.
Há muito tempo que te espero.
Há muito tempo que não vens.

Na hora de pôr a mesa éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs,
E eu.
Depois a minha irmâ mais velha casou-se.
Depois a minha irmã mais nova casou-se.
Depois, o meu pai morreu.
Hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
Menos a minha irmã mais velha
que está na casa dela,
Menos a minha irmã mais nova,
que está na casa dela.
Menos o meu pai,
Menos a minha mãe viúva.





Cada um deles é um lugar vazio
nesta mesa onde como sozinho.
Mas irão estar sempre aqui.

Na hora de pôr a mesa,
seremos sempre cinco.
Enquanto um de nós estiver vivo,
seremos sempre cinco.

O que somos hoje poderá estar
na parede ou sótão da casa dos outros...
ou somente no vazio das lembranças "sentidas"...

Quem foi aquele(a)? perguntam ao passar.
Ou, nada disso, se o papel amarelado,
fora da moldura, em uma caixa estiver.

Aproveitemos, pois o agora!
Só esse nos pertence.
Viver o presente,
Sem regras fúteis,
Etiquetas frívolas.
E sentimentos banais.

>José Luís Peixoto<




1 Comments:

Anonymous Anônimo diz...

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»

9:14 AM  

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No amor, nem sempre são as faltas o que mais nos prejudica, mas sim a maneira como procedemos depois de as ter cometido. "Oví­dio"