Acordei com os primeiros pássaros, já minha lâmpada morria. Fui até à janela aberta e sentei-me, com uma grinalda fresca nos cabelos desatados... Ele vinha pelo caminho na névoa cor de rosa da manhã. Trazia ao pescoço uma cadeia de pérolas e o sol batia-lhe na fronte. Parou à minha porta e disse-me ansioso: — Onde está ela? Tive vergonha de lhe dizer: — Sou eu, belo caminhante, sou eu.
Anoitecia e ainda não tinham acendido as luzes. Eu atava o cabelo, desconsolada. Ele chegava no seu carro todo vermelho, aceso pelo sol poente. Trazia o fato cheio de poeira. Fervia a espuma na boca anelante dos seus cavalos... Desceu à minha porta e disse-me com voz cansada: — Onde está ela? Tive vergonha de lhe dizer: — Sou eu, fatigado caminhante, sou eu.
Noite de Abril. A lâmpada arde neste meu quarto que a brisa do Sul enche suavemente. O papagaio palrador dorme na sua gaiola. O meu vestido é azul como o pescoço dum pavão, e o manto verde como a erva nova. Sentada no chão, perto da janela, olho a rua deserta ... Passa a noite escura e não me canso de cantar: — Sou eu, caminhante sem esperança, sou eu.
Rabindranath Tagore, in "O Coração da Primavera"
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Damos, muitas vezes, nomes diferentes às coisas: O que para mim são espinhos, vós chamais-lhe rosas
Corneille , Pierre |
| O que é que há, pois, num nome? Aquilo a que chamamos rosa, mesmo com outro nome, cheiraria igualmente bem
Shakespeare, William |
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1 Comments:
Oi Psy, tudo jóia? Passei um tempo sem visitar seu blog... Que bom que ainda continua um dos mais lindos da net. Parabéns!
Abraços,
Antônio Eduardo
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