Psy

"Só algumas pessoas escolhidas pela fatalidade do acaso provaram da liberdade esquiva e delicada da vida" "Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa, ou forte como uma ventania, depende de quando e como você me vê passar" "Clarice Lispector"

10.7.06

Confluência

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Kenneth L. Patton in: [ livro Não Aprece o Rio, (ele corre sozinho) Barry Stevens]




Palavras, nossas ou dos outros, nunca podem ser mais do que um comentário sobre a experiência vivida.
Ler ou estar on-line nunca pode substituir o viver.
O que entendo de uma árvore? Subi nos galhos e senti o tronco balançar ao vento, e me ocultei entre as folhas, como uma maçã.
Deitei-me entre os galhos, e cavalguei neles, e rasguei a pele das mãos e o pano das minhas calças subindo e descendo pela áspera casca. Descasquei o salgueiro e afaguei a madeira branca e doce, e meu machado mordeu as fibras puras, e a serra deixou descobertos os velhos anéis e o cerne da madeira.
Através do microscópio copiei os traços das células, e sacudi as raízes como cabelos nas minhas mãos; e masquei a goma e enrolei a língua em torno da seiva, e senti a fibra da madeira entre os meus dentes.




Deitei-me entre as folhas de outono, e minhas narinas beberam o fumo de seu sacrifício.
Aplainei o tronco amarelo e bati pregos, e poli a madeira macia com a minha mão. Agora dentro de mim existem grãos e folhas, uma confluência de raízes e galhos, florestas próximas e distantes, e um solo macio feito de milhares de anos de plantas caídas, e este sussurro, esta lembrança de dedos e narinas, o frágil brotar das folhas reluzindo dentro dos meus olhos.
Qual é a minha compreensão das árvores se não esta realidade que está além de pobres nomes? Assim os lábios, a língua, ouvidos e olhos e dedos juntam suas vozes e falam para dentro, para a compreensão. Se eu sou sábio, não tento conduzir o outro para esse lugar estranho, sem lugar, que são os meus pensamentos; mas eu o levo para a floresta e solto-o entre as árvores, até que ele descubra as árvores dentro de si mesmo, e descubra-se dentro das árvores.
Como podemos ser livres para olhar e aprender quando nossas mentes, desde o instante em que nascemos até o instante em que morremos, são moldadas por uma cultura particular, dentro dos padrões estreitos do "eu"? Durante séculos temos sido condicionados pela nacionalidade, casta, classe, tradição, religião, língua, educação, literatura, arte, costumes, convenções, propaganda de todos os tipos, pressões econômicas, comida que comemos, clima em que vivemos, família, amigos, nossas experiências - toda influência que se possa imaginar - e portanto nossas respostas a cada problema estão condicionadas.




Você tem consciência de estar condicionado? Esta é a primeira coisa que você deve perguntar a si mesmo, e não como se libertar do condicionamento.
Pode ser que você nunca se liberte, e se você disser: "Preciso me libertar", poderá cair em outra armadilha de outra forma de condicionamento.
Então, você tem consciência de estar condicionado?
Você sabe que mesmo quando olha para uma árvore e diz: "Isto é um carvalho", ou "Isto é uma figueira-brava", o nome da árvore, que é conhecimento de botânica, já condicionou tanto a sua mente que a palavra o impede de realmente ver a árvore.
Para entrar em contato com a árvore você precisa colocar a mão nela, e a palavra não o ajudará em nada...


No amor, nem sempre são as faltas o que mais nos prejudica, mas sim a maneira como procedemos depois de as ter cometido. "Oví­dio"