| Jean-Leon Gerome's - Pygmalion and Galate Gift of Louis C. Raegner, 1927 (27.200) Imagem:, apygmalion galatea by bananasfritters
| | | Pigmaleão achou que as mulheres tinham tanto defeitos que resolveu abster-se de sexo e permanecer solteiro. Ele era um escultor, e, com grande talento tinha feito uma estátua de marfim tão bela que a beleza de mulher alguma chegava aos seus pés. Era, de fato, a imagem de uma donzela viva, cuja modéstia impedia-a de mover-se. Sua arte era tão perfeita que não parecia ter sido feita pela mão do homem e sim pela própria natureza.
Pigmaleão admirava a sua própria obra, tanto que acabou se apaixonando pela estatua. Muitas vezes tocava-a para certificar-se de que não estava vivendo, e ainda não acreditava que se tratasse apenas de marfim. Fazia carícias na estátua e dava-lhe os presentes que as jovens tanto gostam de receber: conchas brilhantes e pedras preciosas, pequenos pássaros e flores de várias matizes, contas de âmbar. Pôs-lhes vestidos no corpo, jóias nos dedos, e um colar no pescoço. Nas orelhas, pendurou brincos e correntes de pérolas. Vestiu-a, e ela não se tornou menos encantadora do que nua. Pigmaleão a reclinou num sofá com panos tingidos de tírio, a chamou de esposa e apoiou sua cabeça em um travesseiro macio de penas, como se ela pudesse sentir a maciez.
O festival de Vênus, celebrado com grande pompa em Chipre, estava próximo. Vítimas eram oferecidas em holocausto, fumaça subia dos altares e o perfume de incenso enchia a atmosfera.
Quando Pigmaleão já havia cumprido sua parte nas solenidades, parou em frente ao altar e timidamente disse: - Ó vós, deuses onipotentes, daí-me por esposa... ” Não ousou dizer minha donzela de marfim”, mas em vez disso pediu “alguém que seja como a minha virgem de marfim”. Vênus, que estava presente ao festival, ouviu-o e conhecia a intimidade de seus pensamentos; e como um sinal de seu favorecimento, fez que a chama do altar subisse três vezes no ar.
Quando Pigmaleão voltou para casa, encontrou sua estátua deitada no sofá e deu-lhe um beijo na boca. Pareceu-lhe que ela estava quente. Ele apertou os lábios nos dela novamente, e tocou-lhe o corpo com as mãos; o marfim pareceu-lhe macio e flexível, como a cera de Himeto. Ficou ao mesmo tempo assombrado e alegre, embora duvidasse do que via, temendo que poderia estar enganado, e assim, por diversas vezes, tocou o objeto de suas esperanças. Ela estava realmente viva! As veias cediam aos dedos quando pressionadas e voltavam ao seu formato natural. Afinal, o adorador da deusa disse algumas palavras de agradecimento e beijou os lábios ta reais quanto os dele. A virgem sentiu os beijos e corou, e, abrindo seus olhos acanhados, fixou-os naquele mesmo instante em seu amante.
Vênus abençoou o casal que ela havia unido, e dessa união nasceu Pafos, de quem a cidade consagrada a Vênus recebeu o seu nome.
Schiller, em seu poema Ideais, aplica essa lenda de Pigmaleão ao amor à natureza que vive nos corações juvenis.
Certa vez, em suas preces, no fluxo de sua paixão, Pigmaleão abraçou a pedra. Até que do mármore gelado fez brilhar A luz do sentimento sobre ele. Assim abracei, tomado de devoção juvenil, A natureza brilhante, neste meu coração de poeta; Até que a respiração e o calor e o movimento vital Pareciam saltar das formas da estátua.
E ai, compartilhando todo o meu ardor, A silenciosa forma encontrou expressão; Devolveu o meu beijo de ousada juventude, E compreendi o som ágil de meu coração. Foi quando viveu para mim a brilhante criação; O riacho prateado de canções provido; As árvores, as sensações das rosas repartidas, E um eco de minha vida ilimitada.
Pigmaleão e Galatéia, in O Livro de Ouro da Mitologia – Thomas Bulfinch
Imagens: Jean-Leon Gerome's
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2 Comments:
Agradeço a sua mensagem e a visita ao meu blogue.
Ainda agora comecei a explorar o seu. É curioso que ambos tenhamos a lenda de Pigmaleão nos nossos pequenos espaços.
Do que até agora vi estou a gostar imenso do seu. Sou também admirador da Cecília Meireles e de Gabriel Garcia Marques.
A forma força com que usa a imagem, a sua selecção, as animações, a música estão fantásticas. Parabéns
Curioso, Psytasia, que hoje ao colocar no nosso modesto blog magatom.blogspot.com um ensaio psicanalítico sobre o mito de Pigmalião, encontrei também no seu blog tão lindo, inteligente, caprichoso e bem ordenado, a par de muito bem musicado, o referido mito de Pigmalião.
Como o texto que escreví é longo e não quero ocupar o seu espaço, pediria que acessasse o meu blog a fim de conhecer o que que escrevi.
Tenho pela frente todo o tempo para me deliciar com a matéria contida no seu espaço, o que farei de bom grado.
Assina-se, Washington Magalhães.
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