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"Só algumas pessoas escolhidas pela fatalidade do acaso provaram da liberdade esquiva e delicada da vida" "Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa, ou forte como uma ventania, depende de quando e como você me vê passar" "Clarice Lispector"

27.1.08

O Problema do Ser, Léon Denis




O primeiro problema que se apresenta ao pensamento é o do próprio pensamento, ou, antes, do ser pensante. É isto, para todos nós, assunto capital, que domina todos os outros e cuja solução nos reconduz às próprias origens da Vida e do Universo.
Qual a natureza da nossa personalidade?
Comporta um elemento suscetível de sobreviver à morte? A esta resposta estão afetas todas as apreensões, todas as esperanças da Humanidade.

O problema do ser e o problema da alma fundem-se num só.
É a alma que fornece ao homem o seu princípio de vida e movimento. A alma humana é uma vontade livre e soberana, é a unidade consciente que domina todos os atributos, todas as funções, todos os elementos materiais do ser, como a alma divina domina, coordena e liga todas as partes do Universo para harmonizá-las.

A alma é imortal, porque o nada não existe e nenhuma coisa pode ser aniquilada, nenhuma individualidade pode deixar de ser. A dissolução das formas materiais prova simplesmente uma coisa: que a alma é separada do organismo por meio do qual comunicava com o meio terrestre. Não deixa, por esse fato, de prosseguir a sua evolução em novas condições, sob formas mais perfeitas e sem nada perder da sua identidade.
De cada vez que ela abandona o seu corpo terrestre, encontra-se novamente na vida do Espaço, unida ao seu corpo espiritual, de que é inseparável, à forma imponderável que para si preparou com os seus pensamentos e obras.

Esse corpo sutil, essa duplicação fluídica existe em nós no estado permanente. Embora invisível, serve, entretanto, de molde ao nosso corpo material. Este não representa, no destino do ser, o papel mais importante.
O corpo visível, o corpo físico varia. Formado de acordo com as necessidades da vida terrestre, é temporário e perecível; desagrega-se e dissolve-se quando morre. O corpo sutil permanece; preexistindo ao nascimento, sobrevive às decomposições da campa e acompanha a alma nas suas transmigrações. É o modelo, o tipo original, a verdadeira forma humana, à qual vêm incorporar-se temporariamente as moléculas da carne.
Essa forma sutil, que se mantém no meio de todas as variações e de todas as correntes materiais, mesmo durante a vida pode separar-se, em certas condições, do corpo carnal, e também agir, aparecer, manifestar-se à distância, de modo a provar de maneira irrecusável sua existência independente.



A noção do bem, gravada no fundo das consciências, é, igualmente, prova evidente da nossa origem espiritual.
Se o homem procedesse do pó ou fosse resultante das forças mecânicas do mundo, não poderíamos conhecer o bem e o mal, sentir remorso nem dor moral.
"Essas noções, dizem-nos, provêm dos vossos antepassados, da educação, das influências sociais!"
Mas, se essas noções são heranças exclusivas do passado, de onde foi que ele as recebeu?
E por que se multiplicam em nós, não achando terreno favorável nem alimento?

Se a vista do mal vos tem causado sofrimento, se tendes chorado por vós e pelos outros, haveis de ter podido entrever, nessas horas de tristeza, de dor reveladora, as secretas profundezas da alma, as suas ligações misteriosas com o Além, e deveis compreender o encanto amargo e o fim elevado da existência, de todas as existências.

Este fim é a educação dos seres pela dor; é a ascensão das coisas finitas para a Vida Infinita.

Não, o pensamento e a consciência não derivam de um universo químico e mecânico. Ao contrário, dominam-no, dirigem-no e subjugam-no do Alto.
Com efeito, não é o pensamento que pesa os mundos, mede a extensão e discrimina as harmonias do Cosmo?
Só por um lado pertencemos ao mundo material. E por isso que tão vivamente padecemos com os seus males.
Se lhe pertencêssemos completamente, sentir-nos-íamos muito mais em nosso elemento e ser-nos-iam poupados muitos sofrimentos.

A verdade acerca da natureza humana, da vida e do destino, o bem e o mal, a liberdade e a responsabilidade não se descobrem no fundo das retortas nem na ponta os escalpelos.

A ciência material não pode julgar coisas do espírito.
Só o espírito pode julgar e compreender o espírito, e isso na razão do grau da sua evolução.
É da consciência das almas superiores, dos seus pensamentos, dos seus trabalhos, dos seus exemplos, dos seus sacrifícios, que brotam a luz mais intensa e o mais nobre ideal que podem guiar a Humanidade no seu caminho.

O homem é, pois, ao mesmo tempo, espírito e matéria, alma e corpo; mas, talvez que espírito e matéria não sejam mais do que simples palavras, exprimindo de maneira imperfeita as duas formas da vida eterna, a qual dormita na matéria bruta, acorda na matéria orgânica, adquire atividade, se expande e se eleva no espírito.

Não haverá, como admitem certos pensadores, mais do que uma essência única das coisas, forma e pensamento ao mesmo tempo, sendo a forma um pensamento materializado e o pensamento a forma do espírito?
E possível.
O saber humano é limitado e até os olhares do gênio não são mais do que relâmpagos no domínio infinito das idéias e das leis.
Todavia, o que caracteriza a alma e absolutamente a diferencia da matéria é a sua unidade consciente. Sob a ação da análise, a matéria dispersa-se e dissipa-se.

O átomo físico divide-se em subátomos, que, por sua vez, fragmentam-se indefinidamente.
A matéria é inteiramente desprovida de unidade, como o estabeleceram as recentes descobertas de Becquerel, Curie, Le Bon.

No Universo só o espírito representa o elemento uno, simples, indivisível e, por conseguinte, logicamente indestrutível, imperecível, imortal.



Imagens encontradas na net.

No amor, nem sempre são as faltas o que mais nos prejudica, mas sim a maneira como procedemos depois de as ter cometido. "Oví­dio"