A noção do bem, gravada no fundo das consciências, é, igualmente, prova evidente da nossa origem espiritual.
Se o homem procedesse do pó ou fosse resultante das forças mecânicas do mundo, não poderíamos conhecer o bem e o mal, sentir remorso nem dor moral.
"Essas noções, dizem-nos, provêm dos vossos antepassados, da educação, das influências sociais!"
Mas, se essas noções são heranças exclusivas do passado, de onde foi que ele as recebeu?
E por que se multiplicam em nós, não achando terreno favorável nem alimento?
Se a vista do mal vos tem causado sofrimento, se tendes chorado por vós e pelos outros, haveis de ter podido entrever, nessas horas de tristeza, de dor reveladora, as secretas profundezas da alma, as suas ligações misteriosas com o Além, e deveis compreender o encanto amargo e o fim elevado da existência, de todas as existências.
Este fim é a educação dos seres pela dor; é a ascensão das coisas finitas para a Vida Infinita.
Não, o pensamento e a consciência não derivam de um universo químico e mecânico. Ao contrário, dominam-no, dirigem-no e subjugam-no do Alto.
Com efeito, não é o pensamento que pesa os mundos, mede a extensão e discrimina as harmonias do Cosmo?
Só por um lado pertencemos ao mundo material. E por isso que tão vivamente padecemos com os seus males.
Se lhe pertencêssemos completamente, sentir-nos-íamos muito mais em nosso elemento e ser-nos-iam poupados muitos sofrimentos.
A verdade acerca da natureza humana, da vida e do destino, o bem e o mal, a liberdade e a responsabilidade não se descobrem no fundo das retortas nem na ponta os escalpelos.
A ciência material não pode julgar coisas do espírito.
Só o espírito pode julgar e compreender o espírito, e isso na razão do grau da sua evolução.
É da consciência das almas superiores, dos seus pensamentos, dos seus trabalhos, dos seus exemplos, dos seus sacrifícios, que brotam a luz mais intensa e o mais nobre ideal que podem guiar a Humanidade no seu caminho.
O homem é, pois, ao mesmo tempo, espírito e matéria, alma e corpo; mas, talvez que espírito e matéria não sejam mais do que simples palavras, exprimindo de maneira imperfeita as duas formas da vida eterna, a qual dormita na matéria bruta, acorda na matéria orgânica, adquire atividade, se expande e se eleva no espírito.
Não haverá, como admitem certos pensadores, mais do que uma essência única das coisas, forma e pensamento ao mesmo tempo, sendo a forma um pensamento materializado e o pensamento a forma do espírito?
E possível.
O saber humano é limitado e até os olhares do gênio não são mais do que relâmpagos no domínio infinito das idéias e das leis.
Todavia, o que caracteriza a alma e absolutamente a diferencia da matéria é a sua unidade consciente. Sob a ação da análise, a matéria dispersa-se e dissipa-se.
O átomo físico divide-se em subátomos, que, por sua vez, fragmentam-se indefinidamente.
A matéria é inteiramente desprovida de unidade, como o estabeleceram as recentes descobertas de Becquerel, Curie, Le Bon.
No Universo só o espírito representa o elemento uno, simples, indivisível e, por conseguinte, logicamente indestrutível, imperecível, imortal.
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