Velho Estilo Coisa que passas, como é teu nome? De que inconstância foste gerada? Abri meus braços para alcançar-te: fechei meus braços, – não tinha nada!
De ti só resta o que se consome. Vais para a morte? Vais para a vida? Tua presença nalguma parte É já sinal da tua partida.
E eu disse a todos desse teu fado, Para esquecerem do teu chamamento, Saberem que eras constituída Da errante essência da água e do vento.
Todos quiseram ter-te, malgrado, Prenúncios tantos, tantas ameaças, Grande, adorada desconhecida, Como é teu nome, coisa que passas?
Pisando terras e firmamento, Com um ar de exausta gente dormida, Abandonaram termos tranqüilos, Portas abertas, áreas da vida.
E eu, que anunciei o acontecimento, Fui atrás deles, com insegurança, Dizendo que ia por dissuadi-los, Mas tendo a sua mesma esperança.
No ardente nível dessa experiência, Sem rogo, lágrima, nem protesto, Tudo se apaga, preso em sigilos: Mas no desenho do último gesto,
Há mãos de amor para a tua ausência. E esse é o vestígio que não se some: Resto de todos, teu próprio resto. - Coisa que passas, como é teu nome?
Canção do Mundo Acabado Meus olhos andam sem sono Somente por te avistarem de uma tão grande distância
De altos mastros ainda rondo tua lembrança nos ares O resto é sem importância
Certamente não há nada de ti, sobre este horizonte desde que ficaste ausente
Mas é isso que me mata Sentir que estás não sei onde mas sempre na minha frente
Não acredites em tudo que disser a minha boca sempre que te fale ou cante
Quando não parece, é muito quando é muito, é muito pouco e depois nunca é bastante
Foste o mundo sem ternura em cujas praias morreram meus desejos de ser tua
Água salgada me escuta e mistura nas areias meu pranto e o pranto da lua,
A mim não fizeste rir e nunca viste chorar
Por que o tempo sempre foi longo pra me esqueceres e curto pra te amar...
É preciso não esquecer nada É preciso não esquecer nada: Nem a torneira aberta nem o fogo aceso, Nem o sorriso para os infelizes Nem a oração de cada instante. É preciso não esquecer de ver a nova borboleta Nem o céu de sempre. O que é preciso é esquecer o nosso rosto, O nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso. O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos, A idéia de recompensa e de glória. O que é preciso é ser como se já não fôssemos, Vigiados pelos próprios olhos Severos conosco, pois o resto não nos pertence.
Murmúrio Traze-me um pouco das sombras serenas que as nuvens transportam por cima do dia! Um pouco de sombra, apenas, - vê que nem te peço alegria.
Traze-me um pouco da alvura dos luares que a noite sustenta no teu coração! A alvura, apenas, dos ares: - vê que nem te peço ilusão.
Traze-me um pouco da tua lembrança, aroma perdido, saudade da flor! - Vê que nem te digo - esperança! - Vê que nem sequer sonho - amor!
Despedida Por mim, e por vós, e por mais aquilo que está onde as outras coisas nunca estão, deixo o mar bravo e o céu tranqüilo: quero solidão.
Meu caminho é sem marcos nem paisagens. E como o conheces? - me perguntarão. - Por não ter palavras, por não ter imagens. Nenhum inimigo e nenhum irmão.
Que procuras? Tudo. Que desejas? - Nada. Viajo sozinha com o meu coração. Não ando perdida, mas desencontrada. Levo o meu rumo na minha mão.
A memória voou da minha fronte. Voou meu amor, minha imaginação... Talvez eu morra antes do horizonte. Memória, amor e o resto onde estarão?
Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra. (Beijo-te, corpo meu, todo desilusão! Estandarte triste de uma estranha guerra...) Quero solidão.
Canção Nós somos como perfume da flor que não tinha vindo: esperança do silêncio, quando o mundo está dormindo.
Pareceu que houve o perfume... E a flor, sem vir, se acabou. Oh, abelha imaginativa o que o desejo inventou...
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