Toda a vida (ainda das coisas que não têm vida) não é mais do que uma união. Uma união de pedras é edifício. Uma união de tábuas é navio. Uma união de homens é exército. E sem esta união tudo perde o nome e mais o ser. O edifício sem união é ruína.
O navio sem união é naufrágio. O exército sem união é despojo. Até o homem (cuja vida consiste na união de alma e corpo) com união é homem, sem união é cadáver. Por mais alta que esteja a cabeça, se não está unida é pés. Por mais ilustre que seja o ouro, se não está unido é barro. Nobreza desunida não pode ser, porque, em sendo desunida, logo deixa de ser nobreza, logo é vileza.
Para derrubar um reino e muitos reinos onde há desunião não são necessárias baterias, não são necessários canhões, não são necessários trabucos, não são necessários balas, nem pólvora: Basta uma pedra: o lápis.
Para derrubar um reino, e muitos reinos onde falta à união, não são necessários exércitos, não são necessárias campanhas, não são necessárias batalhas, não são necessários cavalos, não são necessários homens, nem um homem, nem um braço, nem uma mão: sine manibus.
Não temos muito boas mãos e o sabem muito bem nossos competidores, mas se não tivermos união, nem eles haverão mister mãos para nós. Nem a nós nos hão de valer as nossas.
Trechos do Sermão do Santíssimo Sacramento,
pregado pelo Padre Antônio Vieira (1608-1697), em Santa Engrácia, no ano de 1662
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