Psy

"Só algumas pessoas escolhidas pela fatalidade do acaso provaram da liberdade esquiva e delicada da vida" "Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa, ou forte como uma ventania, depende de quando e como você me vê passar" "Clarice Lispector"

26.6.08





Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final...
Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver.
Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos.
Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.

Foi despedido do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais? Partiu para viver em outro país?
A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações?

Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu...



Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó.
Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seus amigos, seus filhos, seus irmãos, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado.

Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco.
O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar.
As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora...
Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem.

Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração... E o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar.
Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se.
Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos.
Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor.
Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando, e nada mais.

Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do "momento ideal".
Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará!
Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade.
Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante. Encerrando ciclos.
Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida.
Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira.
Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é!
Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu próprio, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja quem tu és...
E lembra-te: Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão!





Fernando Pessoa



Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso.
Nunca se sabe qual é o
defeito que sustenta nosso
edifício inteiro.
Clarice Lispector


24.6.08



Fale apenas com uma boa finalidade.




Dá-se muita atenção à importância moral de nossas ações e de seus efeitos.


Os que procuram viver uma vida mais elevada passam também a compreender o poder moral de nossas palavras, tantas vezes esquecido.


Um dos sinais distintivos mais claros da vida moral é o discurso correto.


O aperfeiçoamento de nosso discurso é um dos princípios básicos de um programa espiritual autêntico.

Antes de tudo, pense antes de falar para ter certeza de que está falando com uma boa finalidade.

O falatório vazio é um desrespeito aos outros A exposição inconseqüente de sua intimidade é um desrespeito a você mesmo.

Inúmeras pessoas sentem-se impelidas a dar vazão a cada sensação, pensamento ou impressão passageira que têm.
Despejam ao acaso o conteúdo de suas mentes sem fazer caso das conseqüências.

Isso é prática e moralmente perigoso.

Se tagarelarmos sobre cada idéia que nos ocorre, seja pequena ou grande, corremos o risco de desperdiçar idéias que têm real valor em meio ao fluxo de trivialidades de uma conversa vazia.

O falar irreprimido é como um veículo descontrolado desviando-se de um lado para o outro até cair em uma vala.

Se for preciso, mantenha-se sobretudo em silêncio ou fale com moderação.

O falar, em si, não é bom nem ruim, mas o falar descuidado é tão comum que você precisa estar atento.

Uma conversa frívola é uma conversa prejudicial. Além disso, é muito indelicado ser uma pessoa tagarela.

Participe de discussões quando as ocasiões sociais e profissionais exigirem, mas cuide para que o espírito e o intento da discussão, assim como o conteúdo, mantenham o seu valor. A conversa fiada é uma atividade sedutora.

Não se deixe envolver por ela. Não é necessário limitar-se a assuntos elevados ou filosofar todo o tempo, mas fique atento para que o falatório comum não seja considerado uma discussão de alto nível.

Nestes casos ele tem um efeito corrosivo no objetivo superior que você escolheu.

Quando tagarelamos sobre frivolidades, nossa atenção fica tomada por elas e nós nos tornamos frívolos.

Você se torna aquilo a que dá atenção.
Nós nos tornamos mesquinhos quando nos envolvemos em conversar a respeito de outras pessoas. De modo especial, evite acusar, elogiar ou comparar pessoas.

Tente, sempre que possível, quando perceber que a conversa em torna de você descai para o falatório fútil, trazer sutilmente o rumo da conversa de volta para assuntos mais construtivos.

Se, contudo, você estiver cercado de estranhos indiferentes, pode simplesmente se manter calado. Seja uma pessoa bem humorada e não dispense uma boa risada, quando for o caso, mas evite o tipo de riso desenfreado que se ouve em salão de bar e que degenera facilmente em vulgaridade ou malevolência.



Ria "com", mas nunca ria "de".


Se puder, evite sempre fazer promessas frívolas.



Do livro Epicteto - A Arte de Viver. Sharon Lebell





Cuide para que suas palavras

não sejam piores que o seu silêncio

21.6.08

Bertold Brecht




Enquanto o nosso país vive num mar de
lama... "Considerando nossa fraqueza, os senhores forjaram suas leis
para nos escravizar. As leis não são mais respeitadas considerando
que não queremos mais ser escravos. Considerando que os senhores nos
ameaçam com fuzis e canhões, nós decidimos: de agora em diante
tememos mais a miséria que a morte".









Se os tubarões fossem homens, construiriam no mar grandes gaiolas para os peixes pequenos, com todo tipo de alimento, tanto animal quanto vegetal. Cuidariam para que as gaiolas tivessem sempre água fresca e adotariam todas as medidas sanitárias adequadas.

Se, por exemplo, um peixinho ferisse a barbatana, ser-lhe-ia imediatamente aplicado um curativo para que não morresse antes do tempo. Para que os peixinhos não ficassem melancólicos haveria grandes festas aquáticas de vez em quando, pois os peixinhos alegres têm melhor sabor do que os tristes. Naturalmente haveria também escolas nas gaiolas.

Nessas escolas os peixinhos aprenderiam como nadar alegremente em direção à goela dos tubarões. Precisariam saber geografia, por exemplo, para localizar os grandes tubarões que vagueiam descansadamente pelo mar.

O mais importante seria, naturalmente, a formação moral dos peixinhos.

Eles seriam informados de que nada existe de mais belo e mais sublime do que um peixinho que se sacrifica contente, e que todos deveriam crer nos tubarões, sobretudo quando dissessem que cuidam de sua felicidade futura.

Os peixinhos saberiam que este futuro só estaria assegurado se estudassem docilmente.

Acima de tudo, os peixinhos deveriam rejeitar toda tendência baixa, materialista, egoísta e marxista, e denunciar imediatamente aos tubarões aqueles que apresentassem tais tendências.

Se os tubarões fossem homens, naturalmente fariam guerras entre si, para conquistar gaiolas e peixinhos estrangeiros.

Nessas guerras eles fariam lutar os seus peixinhos, e lhes ensinariam que há uma enorme diferença entre eles e os peixinhos dos outros tubarões. Os peixinhos, proclamariam, são notoriamente mudos, mas silenciam em línguas diferentes, e por isso não se podem entender entre si. Cada peixinho que matasse alguns outros na guerra, os inimigos que silenciam em outra língua, seria condecorado com uma pequena medalha de sargaço e receberia uma comenda de herói. Se os tubarões fossem homens também haveria arte entre eles, naturalmente.

Haveria belos quadros, representando os dentes dos tubarões em cores magníficas, e as suas goelas como jardins onde se brinca deliciosamente. Os teatros do fundo do mar mostrariam valorosos peixinhos a nadarem com entusiasmo rumo às gargantas dos tubarões. E a música seria tão bela que, sob os seus acordes, todos os peixinhos, como orquestra afinada, a sonhar, embalados nos pensamentos mais sublimes, precipitar-se-iam nas goelas dos tubarões. Também não faltaria uma religião, se os tubarões fossem homens. Ela ensinaria que a verdadeira vida dos peixinhos começa no paraíso, ou seja, na barriga dos tubarões. Se os tubarões fossem homens também acabaria a idéia de que todos os peixinhos são iguais entre si.

Alguns deles se tornariam funcionários e seriam colocados acima dos outros.
Aqueles ligeiramente maiores até poderiam comer os menores. Isso seria agradável para os tubarões, pois eles, mais freqüentemente, teriam bocados maiores para comer. E os peixinhos maiores detentores de cargos, cuidariam da ordem interna entre os peixinhos, tornando-se professores, oficiais, polícias, construtores de gaiolas, etc.

Em suma, se os tubarões fossem homens haveria uma civilização no mar.








Carlos Drummond de Andrade e Mário Quintana




Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata....





Um dia descobrimos que beijar uma pessoa para esquecer outra, é bobagem.
Você não só não esquece a outra pessoa como pensa muito mais nela...
Um dia descobrimos que se apaixonar é inevitável...
Um dia percebemos que as melhores provas de amor são as mais simples...
Um dia percebemos que o comum não nos atrai...
Um dia saberemos que ser classificado como o "bonzinho" não é bom.

Um dia perceberemos que a pessoa que nunca te liga é a que mais pensa em você...
Um dia percebemos que somos muito importante para alguém, mas não damos valor a isso...
Um dia percebemos como aquele amigo faz falta, mas ai já é tarde demais...
Enfim...

Um dia descobrimos que apesar de viver quase um século esse tempo todo não é suficiente para realizarmos todos os nossos sonhos, para dizer tudo o que tem que ser dito...
O jeito é: ou nos conformamos com a falta de algumas coisas na nossa vida ou lutar para realizar todas as nossas loucuras...

Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação.




Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em mente que expressem sua opinião.
Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente queremos dizer, o quanto queremos dizer, antes que a pessoa se vá.

Fácil é fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir.
Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso.
E com confiança no que diz.

Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre esta situação.
Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer.
Ou ter coragem para fazer.

Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo o deixa irritado.
Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece, te respeita e te entende.
E é assim que perdemos pessoas especiais.

Fácil é ver o que queremos enxergar.
Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto.
Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso é difícil.

Fácil é dizer "oi" ou "como vai?"
Difícil é dizer "adeus".
Principalmente quando somos culpados pela partida de alguém de nossas vidas...





Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados.
Difícil é sentir a energia que é transmitida.
Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa.

Fácil é querer ser amado.
Difícil é amar completamente só.
Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois.
Amar e se entregar. E aprender a dar valor somente a quem te ama.

Fácil é ditar regras.
Difícil é seguí-las.
Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ao invés de ter noção das vidas dos outros.

Fácil é perguntar o que deseja saber.
Difícil é estar preparado para escutar esta resposta.
Ou querer entender a resposta.

Fácil é dar um beijo.
Difícil é entregar a alma.
Sinceramente, por inteiro.

Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida.
Difícil é entender que pouquíssimas delas vão te aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro.

Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefônica.
Difícil é ocupar o coração de alguém.
Saber que se é realmente amado.






Fácil é sonhar todas as noites.
Difícil é lutar por um sonho.




No amor, nem sempre são as faltas o que mais nos prejudica, mas sim a maneira como procedemos depois de as ter cometido. "Oví­dio"