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"Só algumas pessoas escolhidas pela fatalidade do acaso provaram da liberdade esquiva e delicada da vida" "Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa, ou forte como uma ventania, depende de quando e como você me vê passar" "Clarice Lispector"

29.9.07

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Sábias decisões


A grandeza da alma se reflete na ação das pequenas coisas.

Quanto mais desce para servir, mais se eleva na realização.

Nem sempre os heróis são aqueles que se revelaram nos graves momentos da Humanidade, pela atuação decisiva.

Existem incontáveis lidadores que impulsionam o homem e a sociedade no rumo do grande bem, através de contínuos sacrifícios que passam ignorados e, sem os quais, o caos se estabeleceria dominador.

Os discutidores inoperantes consideram em demasia o valor das palavras, perdendo o tempo útil que poderia ser aplicado nas ações relevantes.

Nos debates estéreis dizem o que não amadureceram pensando, quando poderiam agir bem, assim melhor ensinando.

Quem não pode revelar-se numa grande realização, sempre dispõe de meios para manifestar-se nas pequenas ações.

Se não possui recursos para acabar com a fome geral, pode atendê-la em uma pessoa necessitada; se não consegue resolver o problema das enfermidades, deve socorrer um doente; não logrando acabar com a miséria, dispõe-se a minorá-la naqueles que defronta e padecem-lhe a injunção.

Não é imprescindível estar presente nos grandes momentos da História, todavia, é importante facilitá-los para os outros, desde hoje, com a sua contribuição.

Jesus não quis vencer no mundo, antes, porém, venceu o mundo repleto de paixões mesquinhas.

Joanna de Ângelis, Psicografia de Divaldo P. Franco

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O Samadhi do Espelho

Durante uma conferência, o Buddha Shakyamuni tomou de uma flor e fê-la girar delicadamente entre os dedos. Os discípulos presentes não lhe compreenderam o gesto e apenas Mahakashyapa sorriu... Disse-lhe, então, o Buddha:

— Apenas tu compreendeste o segredo do nirvana, meu maravilhoso espírito; ei-lo, é teu.

É o samadhi do espírito do Buddha.

O espírito do Buddha é como um espelho e o espírito de Mahakashyapa se refletia nele. A imagem refletida era um espírito perfeitamente puro, o espírito original, em perfeita e total unidade com o espírito do Buddha. O Buddha era o espelho. O espírito de Mahakashyapa penetrou o espelho. Só o karma, só a forma de Mahakashyapa penetrou o espelho. Só a forma de Mahakashyapa olhava para o espelho; mas o reflexo do espelho não era Mahakashyapa, senão o espírito perfeitamente original, puro, em perfeita unidade com o espírito do Buddha, com a luz de Buddha.

O reflexo de Mahakashyapa tornara-se o Buddha. Mahakashyapa olhava objetivamente para o seu espírito no espírito do Buddha. E isso Mahakashyapa compreendera:

A imagem no espelho sois vós,
Mas vós não sois a imagem;
Vossa existência não é a imagem do espelho.

Quando o contemplamos, o espelho não fabrica o reflexo por si só. Não lhe é dado captar a forma. Faz-se mister a combinação dos dois.

Ainda que o espelho exista, se não olharmos para ele não veremos reflexo.

As relações da consciência e da sabedoria com o cosmo são as mesmas que existem entre o espelho, o reflexo e a forma.

Até a nossa morte não podemos ver o nosso rosto. Só conhecemos o reflexo do espelho, nunca nos contemplamos diretamente. Devemos passar pelo reflexo no espelho. Mas o espelho não é a verdade, é apenas um espelho.

Quinhentos macacos observam o reflexo da Lua na água e pensam: "Que fruto maravilhoso, vamos comê-lo?" Todos juntos, desde o vale até o lago, dão-se as mãos para ir colher o fruto maravilhoso da Lua que aparece na água, e todos caem no lago.

Querer meter o céu num balde. Querer agarrar o vento e tentar amarrá-lo com uma corda. Nossa civilização é assim, e por isso está dito no Shodoka: não se deve tentar pegar a Lua no balde, nem o vento no céu.

No zazen, temos ilusões provocadas pelos cinco sentidos: a cor, a voz, o olfato, o gosto, o tato. Ainda que tenhamos sensações, não devemos inquietar-nos com elas, pois o samadhi, a concentração do espelho, não é manchado por elas.

Não se deve separa shiki e kû (fenômeno e essência), é precioso abandonar os dois, tanto shiki quanto kû.

Não devemos estabelecer categorias. Na vida cotidiana, nas discussões, é sempre assim: "Estou certo, mas tu não estás."

Queremos estar sempre competindo com os demais.

Assim, nos sutras, no nirvana, no lótus, no diamante [vajra] corta, o monge zen fala com uma língua sem osso: isso significa que ele deve falar em todas as direções, abranger as contradições, sem oposição.

Deshimaru, Taisen. O Anel do Caminho: Palavras de um Mestre Zen.





Retratos

No que falas e escreves, a cultura te revela a imagem do celebro,
à frente dos semelhantes.
Nas provações que suportas com paciência e naquilo que fazes com amor,
a caridade, perante os outros, te mostra o retrato do coração.

Emmanuel, Psicografia do médium Francisco Cândido Xavier.



”Somos mais pais do nosso futuro do que filhos do nosso passado". Miguel de Unamuno



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28.9.07

Os versos que te fiz



Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.


Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!


Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!


Amo-te tanto ! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!

Florbela Espanca



27.9.07

Eclesiastes

1

1 PALAVRAS do pregador, filho de Davi, rei em Jerusalém.
2 Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade.
3 Que proveito tem o homem, de todo o seu trabalho, que faz debaixo do sol?
4 Uma geração vai, e outra geração vem; mas a terra para sempre permanece.
5 Nasce o sol, e o sol se põe, e apressa-se e volta ao seu lugar de onde nasceu.
6 O vento vai para o sul, e faz o seu giro para o norte; continuamente vai girando o vento, e volta fazendo os seus circuitos.
7 Todos os rios vão para o mar, e contudo o mar não se enche; ao lugar para onde os rios vão, para ali tornam eles a correr.
8 Todas as coisas são trabalhosas; o homem não o pode exprimir; os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos se enchem de ouvir.
9 O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol.
10 Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Já foi nos séculos passados, que foram antes de nós.
11 Já não há lembrança das coisas que precederam, e das coisas que hão de ser também delas não haverá lembrança, entre os que hão de vir depois.
12 Eu, o pregador, fui rei sobre Israel em Jerusalém.
13 E apliquei o meu coração a esquadrinhar, e a informar-me com sabedoria de tudo quanto sucede debaixo do céu; esta enfadonha ocupação deu Deus aos filhos dos homens, para nela os exercitar.
14 Atentei para todas as obras que se fazem debaixo do sol, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito.
15 Aquilo que é torto não se pode endireitar; aquilo que falta não se pode calcular.
16 Falei eu com o meu coração, dizendo: Eis que eu me engrandeci, e sobrepujei em sabedoria a todos os que houve antes de mim em Jerusalém; e o meu coração contemplou abundantemente a sabedoria e o conhecimento.
17 E apliquei o meu coração a conhecer a sabedoria e a conhecer os desvarios e as loucuras, e vim a saber que também isto era aflição de espírito.
18 Porque na muita sabedoria há muito enfado; e o que aumenta em conhecimento, aumenta em dor.


2

1 DISSE eu no meu coração: Ora vem, eu te provarei com alegria; portanto goza o prazer; mas eis que também isso era vaidade.
2 Ao riso disse: Está doido; e da alegria: De que serve esta?
3 Busquei no meu coração como estimular com vinho a minha carne (regendo porém o meu coração com sabedoria), e entregar-me à loucura, até ver o que seria melhor que os filhos dos homens fizessem debaixo do céu durante o número dos dias de sua vida.
4 Fiz para mim obras magníficas; edifiquei para mim casas; plantei para mim vinhas.
5 Fiz para mim hortas e jardins, e plantei neles árvores de toda a espécie de fruto.
6 Fiz para mim tanques de águas, para regar com eles o bosque em que reverdeciam as árvores.
7 Adquiri servos e servas, e tive servos nascidos em casa; também tive grandes possessões de gados e ovelhas, mais do que todos os que houve antes de mim em Jerusalém.
8 Adquiri servos e servas, e tive servos nascidos em casa; também tive grandes possessões de gados e ovelhas, mais do que todos os que houve antes de mim em Jerusalém.
9 E fui engrandecido, e aumentei mais do que todos os que houve antes de mim em Jerusalém; perseverou também comigo a minha sabedoria.
10 E tudo quanto desejaram os meus olhos não lhes neguei, nem privei o meu coração de alegria alguma; mas o meu coração se alegrou por todo o meu trabalho, e esta foi a minha porção de todo o meu trabalho.
11 E olhei eu para todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também para o trabalho que eu, trabalhando, tinha feito, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito, e que proveito nenhum havia debaixo do sol.
12 Então passei a contemplar a sabedoria, e a loucura e a estultícia. Pois que fará o homem que seguir ao rei? O mesmo que outros já fizeram.
13 Então vi eu que a sabedoria é mais excelente do que a estultícia, quanto a luz é mais excelente do que as trevas.
14 Os olhos do homem sábio estão na sua cabeça, mas o louco anda em trevas; então também entendi eu que o mesmo lhes sucede a ambos.
15 Assim eu disse no meu coração: Como acontece ao tolo, assim me sucederá a mim; por que então busquei eu mais a sabedoria? Então disse no meu coração que também isto era vaidade.
16 Porque nunca haverá mais lembrança do sábio do que do tolo; porquanto de tudo, nos dias futuros, total esquecimento haverá. E como morre o sábio, assim morre o tolo!
17 Por isso odiei esta vida, porque a obra que se faz debaixo do sol me era penosa; sim, tudo é vaidade e aflição de espírito.
18 Também eu odiei todo o meu trabalho, que realizei debaixo do sol, visto que eu havia de deixá-lo ao homem que viesse depois de mim.
19 E quem sabe se será sábio ou tolo? Todavia, se assenhoreará de todo o meu trabalho que realizei e em que me houve sabiamente debaixo do sol; também isto é vaidade.
20 Então eu me volvi e entreguei o meu coração ao desespero no tocante ao trabalho, o qual realizei debaixo do sol.
21 Porque há homem cujo trabalho é feito com sabedoria, conhecimento, e destreza; contudo deixará o seu trabalho como porção de quem nele não trabalhou; também isto é vaidade e grande mal.
22 Porque, que mais tem o homem de todo o seu trabalho, e da aflição do seu coração, em que ele anda trabalhando debaixo do sol?
23 Porque todos os seus dias são dores, e a sua ocupação é aflição; até de noite não descansa o seu coração; também isto é vaidade.
24 Não há nada melhor para o homem do que comer e beber, e fazer com que sua alma goze do bem do seu trabalho. Também vi que isto vem da mão de Deus.
25 Pois quem pode comer, ou quem pode gozar melhor do que eu?
26 Porque ao homem que é bom diante dele, dá Deus sabedoria e conhecimento e alegria; mas ao pecador dá trabalho, para que ele ajunte, e amontoe, para dá-lo ao que é bom perante Deus. Também isto é vaidade e aflição de espírito.


3

1 TUDO tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
2 Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
3 Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
4 Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
5 Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;
6 Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;
7 Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
8 Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.
9 Que proveito tem o trabalhador naquilo em que trabalha?
10 Tenho visto o trabalho que Deus deu aos filhos dos homens, para com ele os exercitar.
11 Tudo fez formoso em seu tempo; também pôs o mundo no coração do homem, sem que este possa descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até ao fim.
12 Já tenho entendido que não há coisa melhor para eles do que alegrar-se e fazer bem na sua vida;
13 E também que todo o homem coma e beba, e goze do bem de todo o seu trabalho; isto é um dom de Deus.
14 Eu sei que tudo quanto Deus faz durará eternamente; nada se lhe deve acrescentar, e nada se lhe deve tirar; e isto faz Deus para que haja temor diante dele.
15 O que é, já foi; e o que há de ser, também já foi; e Deus pede conta do que passou.
16 Vi mais debaixo do sol que no lugar do juízo havia impiedade, e no lugar da justiça havia iniqüidade.
17 Eu disse no meu coração: Deus julgará o justo e o ímpio; porque há um tempo para todo o propósito e para toda a obra.
18 Disse eu no meu coração, quanto a condição dos filhos dos homens, que Deus os provaria, para que assim pudessem ver que são em si mesmos como os animais.
19 Porque o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede aos animais, e lhes sucede a mesma coisa; como morre um, assim morre o outro; e todos têm o mesmo fôlego, e a vantagem dos homens sobre os animais não é nenhuma, porque todos são vaidade.
20 Todos vão para um lugar; todos foram feitos do pó, e todos voltarão ao pó.
21 Quem sabe que o fôlego do homem vai para cima, e que o fôlego dos animais vai para baixo da terra?
22 Assim que tenho visto que não há coisa melhor do que alegrar-se o homem nas suas obras, porque essa é a sua porção; pois quem o fará voltar para ver o que será depois dele?


4

1 DEPOIS voltei-me, e atentei para todas as opressões que se fazem debaixo do sol; e eis que vi as lágrimas dos que foram oprimidos e dos que não têm consolador, e a força estava do lado dos seus opressores; mas eles não tinham consolador.
2 Por isso eu louvei os que já morreram, mais do que os que vivem ainda.
3 E melhor que uns e outros é aquele que ainda não é; que não viu as más obras que se fazem debaixo do sol.
4 Também vi eu que todo o trabalho, e toda a destreza em obras, traz ao homem a inveja do seu próximo. Também isto é vaidade e aflição de espírito.
5 O tolo cruza as suas mãos, e come a sua própria carne.
6 Melhor é a mão cheia com descanso do que ambas as mãos cheias com trabalho, e aflição de espírito.
7 Outra vez me voltei, e vi vaidade debaixo do sol.
8 Há um que é só, e não tem ninguém, nem tampouco filho nem irmão; e contudo não cessa do seu trabalho, e também seus olhos não se satisfazem com riqueza; nem diz: Para quem trabalho eu, privando a minha alma do bem? Também isto é vaidade e enfadonha ocupação.
9 Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho.
10 Porque se um cair, o outro levanta o seu companheiro; mas ai do que estiver só; pois, caindo, não haverá outro que o levante.
11 Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só, como se aquentará?
12 E, se alguém prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; e o cordão de três dobras não se quebra tão depressa.
13 Melhor é a criança pobre e sábia do que o rei velho e insensato, que não se deixa mais admoestar.
14 Porque um sai do cárcere para reinar; enquanto outro, que nasceu em seu reino, torna-se pobre.
15 Vi a todos os viventes andarem debaixo do sol com a criança, a sucessora, que ficará no seu lugar.
16 Não tem fim todo o povo que foi antes dele; tampouco os que lhe sucederem se alegrarão dele. Na verdade que também isto é vaidade e aflição de espírito.


5

1 GUARDA o teu pé, quando entrares na casa de Deus; porque chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal.
2 Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu estás sobre a terra; assim sejam poucas as tuas palavras.
3 Porque, da muita ocupação vêm os sonhos, e a voz do tolo da multidão das palavras.
4 Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos; o que votares, paga-o.
5 Melhor é que não votes do que votares e não cumprires.
6 Não consintas que a tua boca faça pecar a tua carne, nem digas diante do anjo que foi erro; por que razão se iraria Deus contra a tua voz, e destruiria a obra das tuas mãos?
7 Porque, como na multidão dos sonhos há vaidades, assim também nas muitas palavras; mas tu teme a Deus.
8 Se vires em alguma província opressão do pobre, e violência do direito e da justiça, não te admires de tal procedimento; pois quem está altamente colocado tem superior que o vigia; e há mais altos do que eles.
9 O proveito da terra é para todos; até o rei se serve do campo.
10 Quem amar o dinheiro jamais dele se fartará; e quem amar a abundância nunca se fartará da renda; também isto é vaidade.
11 Onde os bens se multiplicam, ali se multiplicam também os que deles comem; que mais proveito, pois, têm os seus donos do que os ver com os seus olhos?
12 Doce é o sono do trabalhador, quer coma pouco quer muito; mas a fartura do rico não o deixa dormir.
13 Há um grave mal que vi debaixo do sol, e atrai enfermidades: as riquezas que os seus donos guardam para o seu próprio dano;
14 Porque as mesmas riquezas se perdem por qualquer má ventura, e havendo algum filho nada lhe fica na sua mão.
15 Como saiu do ventre de sua mãe, assim nu tornará, indo-se como veio; e nada tomará do seu trabalho, que possa levar na sua mão.
16 Assim que também isto é um grave mal que, justamente como veio, assim há de ir; e que proveito lhe vem de trabalhar para o vento,
17 E de haver comido todos os seus dias nas trevas, e de haver padecido muito enfado, e enfermidade, e furor?
18 Eis aqui o que eu vi, uma boa e bela coisa: comer e beber, e gozar cada um do bem de todo o seu trabalho, em que trabalhou debaixo do sol, todos os dias de vida que Deus lhe deu, porque esta é a sua porção.
19 E a todo o homem, a quem Deus deu riquezas e bens, e lhe deu poder para delas comer e tomar a sua porção, e gozar do seu trabalho, isto é dom de Deus.
20 Porque não se lembrará muito dos dias da sua vida; porquanto Deus lhe enche de alegria o seu coração.


6

1 HÁ um mal que tenho visto debaixo do sol, e é mui freqüente entre os homens:
2 Um homem a quem Deus deu riquezas, bens e honra, e nada lhe falta de tudo quanto a sua alma deseja, e Deus não lhe dá poder para daí comer, antes o estranho lho come; também isto é vaidade e má enfermidade.
3 Se o homem gerar cem filhos, e viver muitos anos, e os dias dos seus anos forem muitos, e se a sua alma não se fartar do bem, e além disso não tiver sepultura, digo que um aborto é melhor do que ele.
4 Porquanto debalde veio, e em trevas se vai, e de trevas se cobre o seu nome.
5 E ainda que nunca viu o sol, nem conheceu nada, mais descanso tem este do que aquele.
6 E, ainda que vivesse duas vezes mil anos e não gozasse o bem, não vão todos para um mesmo lugar?
7 Todo o trabalho do homem é para a sua boca, e contudo nunca se satisfaz o seu espírito.
8 Porque, que mais tem o sábio do que o tolo? E que mais tem o pobre que sabe andar perante os vivos?
9 Melhor é a vista dos olhos do que o vaguear da cobiça; também isto é vaidade e aflição de espírito.
10 Seja qualquer o que for, já o seu nome foi nomeado, e sabe-se que é homem, e que não pode contender com o que é mais forte do que ele.
11 Na verdade que há muitas coisas que multiplicam a vaidade; que mais tem o homem de melhor?
12 Pois, quem sabe o que é bom nesta vida para o homem, por todos os dias da sua vida de vaidade, os quais gasta como sombra? Quem declarará ao homem o que será depois dele debaixo do sol?


7

1 MELHOR é a boa fama do que o melhor ungüento, e o dia da morte do que o dia do nascimento de alguém.
2 Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, porque naquela está o fim de todos os homens, e os vivos o aplicam ao seu coração.
3 Melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração.
4 O coração dos sábios está na casa do luto, mas o coração dos tolos na casa da alegria.
5 Melhor é ouvir a repreensão do sábio, do que ouvir alguém a canção do tolo.
6 Porque qual o crepitar dos espinhos debaixo de uma panela, tal é o riso do tolo; também isto é vaidade.
7 Verdadeiramente que a opressão faria endoidecer até ao sábio, e o suborno corrompe o coração.
8 Melhor é o fim das coisas do que o princípio delas; melhor é o paciente de espírito do que o altivo de espírito.
9 Não te apresses no teu espírito a irar-te, porque a ira repousa no íntimo dos tolos.
10 Nunca digas: Por que foram os dias passados melhores do que estes? Porque não provém da sabedoria esta pergunta.
11 Tão boa é a sabedoria como a herança, e dela tiram proveito os que vêem o sol.
12 Porque a sabedoria serve de defesa, como de defesa serve o dinheiro; mas a excelência do conhecimento é que a sabedoria dá vida ao seu possuidor.
13 Atenta para a obra de Deus; porque quem poderá endireitar o que ele fez torto?
14 No dia da prosperidade goza do bem, mas no dia da adversidade considera; porque também Deus fez a este em oposição àquele, para que o homem nada descubra do que há de vir depois dele.
15 Tudo isto vi nos dias da minha vaidade: há justo que perece na sua justiça, e há ímpio que prolonga os seus dias na sua maldade.
16 Não sejas demasiadamente justo, nem demasiadamente sábio; por que te destruirias a ti mesmo?
17 Não sejas demasiadamente ímpio, nem sejas louco; por que morrerias fora de teu tempo?
18 Bom é que retenhas isto, e também daquilo não retires a tua mão; porque quem teme a Deus escapa de tudo isso.
19 A sabedoria fortalece ao sábio, mais do que dez poderosos que haja na cidade.
20 Na verdade que não há homem justo sobre a terra, que faça o bem, e nunca peque.
21 Tampouco apliques o teu coração a todas as palavras que se disserem, para que não venhas a ouvir o teu servo amaldiçoar-te.
22 Porque o teu coração também já confessou que muitas vezes tu amaldiçoaste a outros.
23 Tudo isto provei-o pela sabedoria; eu disse: Sabedoria adquirirei; mas ela ainda estava longe de mim.
24 O que já sucedeu é remoto e profundíssimo; quem o achará?
25 Eu apliquei o meu coração para saber, e inquirir, e buscar a sabedoria e a razão das coisas, e para conhecer que a impiedade é insensatez e que a estultícia é loucura.
26 E eu achei uma coisa mais amarga do que a morte, a mulher cujo coração são redes e laços, e cujas mãos são ataduras; quem for bom diante de Deus escapará dela, mas o pecador virá a ser preso por ela.
27 Vedes aqui, isto achei, diz o pregador, conferindo uma coisa com a outra para achar a razão delas;
28 A qual ainda busca a minha alma, porém ainda não a achei; um homem entre mil achei eu, mas uma mulher entre todas estas não achei.
29 Eis aqui, o que tão-somente achei: que Deus fez ao homem reto, porém eles buscaram muitas astúcias.


8

1 QUEM é como o sábio? E quem sabe a interpretação das coisas? A sabedoria do homem faz brilhar o seu rosto, e a dureza do seu rosto se muda.
2 Eu digo: Observa o mandamento do rei, e isso em consideração ao juramento que fizeste a Deus.
3 Não te apresses a sair da presença dele, nem persistas em alguma coisa má, porque ele faz tudo o que quer.
4 Porque a palavra do rei tem poder; e quem lhe dirá: Que fazes?
5 Quem guardar o mandamento não experimentará nenhum mal; e o coração do sábio discernirá o tempo e o juízo.
6 Porque para todo o propósito há seu tempo e juízo; porquanto a miséria do homem pesa sobre ele.
7 Porque não sabe o que há de suceder, e quando há de ser, quem lho dará a entender?
8 Nenhum homem há que tenha domínio sobre o espírito, para o reter; nem tampouco tem ele poder sobre o dia da morte; como também não há licença nesta peleja; nem tampouco a impiedade livrará aos ímpios.
9 Tudo isto vi quando apliquei o meu coração a toda a obra que se faz debaixo do sol; tempo há em que um homem tem domínio sobre outro homem, para desgraça sua.
10 Assim também vi os ímpios, quando os sepultavam; e eles entravam, e saíam do lugar santo; e foram esquecidos na cidade, em que assim fizeram; também isso é vaidade.
11 Porquanto não se executa logo o juízo sobre a má obra, por isso o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para fazer o mal.
12 Ainda que o pecador faça o mal cem vezes, e os dias se lhe prolonguem, contudo eu sei com certeza, que bem sucede aos que temem a Deus, aos que temem diante dele.
13 Porém o ímpio não irá bem, e ele não prolongará os seus dias, que são como a sombra; porque ele não teme diante de Deus.
14 Ainda há outra vaidade que se faz sobre a terra: que há justos a quem sucede segundo as obras dos ímpios, e há ímpios a quem sucede segundo as obras dos justos. Digo que também isto é vaidade.
15 Então louvei eu a alegria, porquanto para o homem nada há melhor debaixo do sol do que comer, beber e alegrar-se; porque isso o acompanhará no seu trabalho nos dias da sua vida que Deus lhe dá debaixo do sol.
16 Aplicando eu o meu coração a conhecer a sabedoria, e a ver o trabalho que há sobre a terra (que nem de dia nem de noite vê o homem sono nos seus olhos);
17 Então vi toda a obra de Deus, que o homem não pode perceber, a obra que se faz debaixo do sol, por mais que trabalhe o homem para a descobrir, não a achará; e, ainda que diga o sábio que a conhece, nem por isso a poderá compreender.


9

1 DEVERAS todas estas coisas considerei no meu coração, para declarar tudo isto: que os justos, e os sábios, e as suas obras, estão nas mãos de Deus, e também o homem não conhece nem o amor nem o ódio; tudo passa perante ele.
2 Tudo sucede igualmente a todos; o mesmo sucede ao justo e ao ímpio, ao bom e ao puro, como ao impuro; assim ao que sacrifica como ao que não sacrifica; assim ao bom como ao pecador; ao que jura como ao que teme o juramento.
3 Este é o mal que há entre tudo quanto se faz debaixo do sol; a todos sucede o mesmo; e que também o coração dos filhos dos homens está cheio de maldade, e que há desvarios no seu coração enquanto vivem, e depois se vão aos mortos.
4 Ora, para aquele que está entre os vivos há esperança (porque melhor é o cão vivo do que o leão morto).
5 Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco terão eles recompensa, mas a sua memória fica entregue ao esquecimento.
6 Também o seu amor, o seu ódio, e a sua inveja já pereceram, e já não têm parte alguma para sempre, em coisa alguma do que se faz debaixo do sol.
7 Vai, pois, come com alegria o teu pão e bebe com coração contente o teu vinho, pois já Deus se agrada das tuas obras.
8 Em todo o tempo sejam alvas as tuas roupas, e nunca falte o óleo sobre a tua cabeça.
9 Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias da tua vida vã, os quais Deus te deu debaixo do sol, todos os dias da tua vaidade; porque esta é a tua porção nesta vida, e no teu trabalho, que tu fizeste debaixo do sol.
10 Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque na sepultura, para onde tu vais, não há obra nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria alguma.
11 Voltei-me, e vi debaixo do sol que não é dos ligeiros a carreira, nem dos fortes a batalha, nem tampouco dos sábios o pão, nem tampouco dos prudentes as riquezas, nem tampouco dos entendidos o favor, mas que o tempo e a oportunidade ocorrem a todos.
12 Que também o homem não sabe o seu tempo; assim como os peixes que se pescam com a rede maligna, e como os passarinhos que se prendem com o laço, assim se enlaçam também os filhos dos homens no mau tempo, quando cai de repente sobre eles.
13 Também vi esta sabedoria debaixo do sol, que para mim foi grande:
14 Houve uma pequena cidade em que havia poucos homens, e veio contra ela um grande rei, e a cercou e levantou contra ela grandes baluartes;
15 E encontrou-se nela um sábio pobre, que livrou aquela cidade pela sua sabedoria, e ninguém se lembrava daquele pobre homem.
16 Então disse eu: Melhor é a sabedoria do que a força, ainda que a sabedoria do pobre foi desprezada, e as suas palavras não foram ouvidas.
17 As palavras dos sábios devem em silêncio ser ouvidas, mais do que o clamor do que domina entre os tolos.
18 Melhor é a sabedoria do que as armas de guerra, porém um só pecador destrói muitos bens.


10

1 ASSIM como as moscas mortas fazem exalar mau cheiro e inutilizar o ungüento do perfumador, assim é, para o famoso em sabedoria e em honra, um pouco de estultícia.
2 O coração do sábio está à sua direita, mas o coração do tolo está à sua esquerda.
3 E, até quando o tolo vai pelo caminho, falta-lhe o seu entendimento e diz a todos que é tolo.
4 Levantando-se contra ti o espírito do governador, não deixes o teu lugar, porque a submissão é um remédio que aplaca grandes ofensas.
5 Ainda há um mal que vi debaixo do sol, como o erro que procede do governador.
6 A estultícia está posta em grandes alturas, mas os ricos estão assentados em lugar baixo.
7 Vi os servos a cavalo, e os príncipes andando sobre a terra como servos.
8 Quem abrir uma cova, nela cairá, e quem romper um muro, uma cobra o morderá.
9 Aquele que transporta pedras, será maltratado por elas, e o que rachar lenha expõe-se ao perigo.
10 Se estiver embotado o ferro, e não se afiar o corte, então se deve redobrar a força; mas a sabedoria é excelente para dirigir.
11 Seguramente a serpente morderá antes de estar encantada, e o falador não é melhor.
12 Nas palavras da boca do sábio há favor, porém os lábios do tolo o devoram.
13 O princípio das palavras da sua boca é a estultícia, e o fim do seu falar um desvario péssimo.
14 O tolo multiplica as palavras, porém, o homem não sabe o que será; e quem lhe fará saber o que será depois dele?
15 O trabalho dos tolos a cada um deles fatiga, porque não sabem como ir à cidade.
16 Ai de ti, ó terra, quando seu rei é uma criança, e cujos príncipes comem de manhã.
17 Bem-aventurada tu, ó terra, quando seu rei é filho dos nobres, e seus príncipes comem a tempo, para se fortalecerem, e não para bebedice.
18 Por muita preguiça se enfraquece o teto, e pela frouxidão das mãos a casa goteja.
19 Para rir se fazem banquetes, e o vinho produz alegria, e por tudo o dinheiro responde.
20 Nem ainda no teu pensamento amaldiçoes ao rei, nem tampouco no mais interior da tua recâmara amaldiçoes ao rico; porque as aves dos céus levariam a voz, e os que têm asas dariam notícia do assunto


11

1 LANÇA o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás.
2 Reparte com sete, e ainda até com oito, porque não sabes que mal haverá sobre a terra.
3 Estando as nuvens cheias, derramam a chuva sobre a terra, e caindo a árvore para o sul, ou para o norte, no lugar em que a árvore cair ali ficará.
4 Quem observa o vento, nunca semeará, e o que olha para as nuvens nunca segará.
5 Assim como tu não sabes qual o caminho do vento, nem como se formam os ossos no ventre da mulher grávida, assim também não sabes as obras de Deus, que faz todas as coisas.
6 Pela manhã semeia a tua semente, e à tarde não retires a tua mão, porque tu não sabes qual prosperará, se esta, se aquela, ou se ambas serão igualmente boas.
7 Certamente suave é a luz, e agradável é aos olhos ver o sol.
8 Porém, se o homem viver muitos anos, e em todos eles se alegrar, também se deve lembrar dos dias das trevas, porque hão de ser muitos. Tudo quanto sucede é vaidade.
9 Alegra-te, jovem, na tua mocidade, e recreie-se o teu coração nos dias da tua mocidade, e anda pelos caminhos do teu coração, e pela vista dos teus olhos; sabe, porém, que por todas estas coisas te trará Deus a juízo.
10 Afasta, pois, a ira do teu coração, e remove da tua carne o mal, porque a adolescência e a juventude são vaidade.


12

1 LEMBRA-TE também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento;
2 Antes que se escureçam o sol, e a luz, e a lua, e as estrelas, e tornem a vir as nuvens depois da chuva;
3 No dia em que tremerem os guardas da casa, e se encurvarem os homens fortes, e cessarem os moedores, por já serem poucos, e se escurecerem os que olham pelas janelas;
4 E as portas da rua se fecharem por causa do baixo ruído da moedura, e se levantar à voz das aves, e todas as filhas da música se abaterem.
5 Como também quando temerem o que é alto, e houver espantos no caminho, e florescer a amendoeira, e o gafanhoto for um peso, e perecer o apetite; porque o homem se vai à sua casa eterna, e os pranteadores andarão rodeando pela praça;
6 Antes que se rompa o cordão de prata, e se quebre o copo de ouro, e se despedace o cântaro junto à fonte, e se quebre a roda junto ao poço,
7 E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.
8 Vaidade de vaidades, diz o pregador, tudo é vaidade.
9 E, quanto mais sábio foi o pregador, tanto mais ensinou ao povo sabedoria; e atentando, e esquadrinhando, compôs muitos provérbios.
10 Procurou o pregador achar palavras agradáveis; e escreveu-as com retidão, palavras de verdade.
11 As palavras dos sábios são como aguilhões, e como pregos, bem fixados pelos mestres das assembléias, que nos foram dadas pelo único Pastor.
12 E, demais disto, filho meu, atenta: não há limite para fazer livros, e o muito estudar é enfado da carne.
13 De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo o homem.
14 Porque Deus há de trazer a juízo toda a obra, e até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau.


Imagens Begann.de

25.9.07

1ª Epistola de São Paulo aos Coríntios




A
inda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, serei como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.


A
inda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada serei.


E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver caridade, nada
disso me aproveitará.


A
caridade é paciente, é benigna, a caridade não arde em ciúmes, não se ufana, não se e
nsoberbece, não se conduz incovenientemente, não procura seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal, não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.





24.9.07


O Sentimento de Ser em Tudo

Spring Meadow © SuperStock, Inc.


Sobre tudo o que se move e tudo que parece calmo;
Sobre tudo isso, perdido além do alcance do pensamento
E do conhecimento humano, para o olho humano
Invisível, mas vivido no coração;
Sobre tudo o que salta e corre, e grita e canta,
Ou agita o ar contente; sobre tudo o que desliza
Por sob a onda, sim, na onda mesmo,
E na poderosa profundidade das águas...

Wordsworth (The Prelude, Livro 1, 401-9)


Sunrise Over the Caribbean Sea, Playa del Carmen, Mexico © Lonely Planet Images


Isso, o Aquilo, o Sem Nome, O


O que faz a árvore, o que faz o vento, o que faz eu me perguntar essas coisas?
- Lá.
Vê: aquela árvore, lá, se movendo.
Vês, vendo?
Parece coisa de sonho, não é? Aquela árvore longe, no horizonte se movendo.
O que move a árvore?
Para isso a gente tem uma resposta humana na ponta da língua: o vento. Outro Verbo.
Mas, ah, o que sopra o vento?
Para isso, eu não tenho a resposta.
Tu tens?
Ninguém tem, te digo.
É o Isso, o Aquilo, o Sem Nome, e de onde vindo ninguém sabe, pois só sabemos que ao chegar aqui vai logo se escondendo de nós sob muitas formas, as Várias: aves, estrelas, insetos, peixes e de vento vento.
Pois se até sob a forma humana se esconde, em nós.

E se aquela árvore, lá, parar de se mover?
Para onde terá ido?
Diz-se disso: o vento sopra em toda parte, o vento: o Vento.
Da minha boca, agora mesmo ele está soprando para ti sob a forma destas palavras, onde também está e se mantém, escondido.

Abro a boca, sopro um pensamento, e eis: ele aparece, mas desaparece, pois só percebes as palavras.
Ouve, assim, com a tua mão roçando a minha boca.
É a voz do vento das palavras.
Sentes?
Ah, olha: agora a árvore parou de se mover.
Vês? Não-vendo ¿
Ele terá ido embora dela, ou se mantém lá, nela, até a próxima brisa, ventania, sopro disso que nos sopra? Escondido ¿

São muitas as perguntas que nos fazemos só de olhar as coisas, não é?
Então, essa que eu me faço agora: esse vento que sopra pela minha boca sob a forma das palavras com que estou te perguntando isto: ele é o mesmo vento que, antes, soprava lá aquela Árvore, longe, no horizonte, e agora veio soprar em mim, através de Mim?
Pudesse, pois se Isso sopra os ventos um só, se dispersando em vários istos, vários ventos, peixes, homens.
Ou será que depois que deixa de ser o Isto ele é, em cada isto, um Isto que não se compara a nenhum outro?

Então são muitas as perguntas que fazemos a elas, sós, olhando as coisas.
As Coisas.
Elas, de lá, nos olhando.
Aqui.
E aqui: um tU e um eU. Peixes homens.
Ah, somos mesmo dois homens conversando, ou só um? O Mesmo.
O Um ¿


Vicente Franz Cecim

21.9.07



The Rose




Há quem chame ao amor um rio,
submergindo o frágil rebento;
outros chamam-lhe lâmina,
sangrando a alma.


Outros ainda, chamam-lhe sede,
um desejo eternamente insatisfeito.
Eu chamo-lhe flor,
porque é a sua semente.


É um coração inseguro,
incapaz de aprender a dançar;
um sonho que se quer infinito,
adiando a hora de acordar.


É aquele que teme entregar-se,
por desconhecer a dádiva.
É a alma que,
de tão assustada com a morte,
se esqueceu de viver.


Quando a noite se preenche de solidão
e o caminho aumenta em distância,
quando julgas que o amor nasceu
para os afortunados, os audazes;
recorda que sob toda a neve do inverno
jaz a frágil semente
que o amor do sol primaveril
desabrochará em rosa.








20.9.07

Cardinal Among Pear Tree Blossoms © Adam Jones



No primeiro dia de aula nosso professor se apresentou aos alunos, e nos desafiou a que nos apresentássemos a alguém que não conhecêssemos ainda.
Eu fiquei em pé para olhar ao redor quando uma mão suave tocou meu ombro.
Olhei para trás e vi uma pequena senhora, velhinha e enrugada, sorrindo radiante para mim, com um sorriso que iluminava todo o seu ser.
Ela disse:
- Hei, bonitão. Meu nome é Rosa. Eu tenho oitenta e sete anos de idade. Posso te dar um abraço?
Eu ri, e respondi entusiasticamente:
- É claro que pode! - e ela me deu um gigantesco apertão.
- Por que você está na faculdade em tão tenra e inocente idade? - perguntei.
Ela respondeu brincalhona:
- Estou aqui para encontrar um marido rico, casar, ter um casal de filhos, e então me aposentar e viajar.
- Está brincando - eu disse.
Eu estava curioso em saber o que a havia motivado a entrar neste desafio com a sua idade, e ela disse:
- Eu sempre sonhei em ter um estudo universitário, e agora estou tendo um!
Após a aula nós caminhamos para o prédio da união dos estudantes, e dividimos um "milkshake" de chocolate.
Nos tornamos amigos instantaneamente.
Todos os dias nos próximos três meses nós teríamos aula juntos e falaríamos sem parar.
Eu ficava sempre extasiado ouvindo aquela "máquina do tempo" compartilhar sua experiência e sabedoria comigo.
No decurso de um ano, Rosa tornou-se um ícone no campus universitário, e fazia amigos facilmente, onde quer que fosse.
Ela adorava vestir-se bem, e revelava-se na atenção que lhe davam os outros estudantes.
Ela estava curtindo a vida!
No fim do semestre nós convidamos Rosa para falar no nosso banquete de futebol.
Jamais esquecerei do que ela nos ensinou. Ela foi apresentada e se aproximou do pódio.
Quando ela começou a ler a sua fala preparada, deixou cair três das cinco folhas no chão.
Frustrada e um pouco embaraçada, ela pegou o microfone e disse simplesmente:
- Desculpe-me, eu estou tão nervosa! Parei de beber por causa da Quaresma, e este uísque está me matando!
Eu nunca conseguirei colocar meus papéis em ordem de novo, então me deixe apenas falar para vocês sobre aquilo que eu sei
Enquanto nós ríamos, ela limpou sua garganta e começou:

- Nós não paramos de amar porque ficamos velhos; nós nos tornamos velhos porque paramos de amar.
Existem somente quatro segredos para continuarmos jovens, felizes e conseguindo sucesso.
Você precisa rir e encontrar humor em cada dia.
Você precisa ter um sonho.
Quando você perde seus sonhos, você morre.
Nós temos tantas pessoas caminhando por aí que estão mortas e nem desconfiam!
Há uma enorme diferença entre ficar velho e crescer.
Se você tem dezenove anos de idade e ficar deitado na cama por um ano inteiro, sem fazer nada de produtivo, você ficará com vinte anos.
Se eu tenho oitenta e sete anos e ficar na cama por um ano e não fizer coisa alguma, eu ficarei com oitenta e oito anos.
Qualquer um consegue ficar mais velho.
Isso não exige talento nem habilidade.
A idéia é crescer através de sempre encontrar oportunidade na novidade.
Isto não precisa nenhum talento ou habilidade.
A idéia é crescer sempre encontrando a oportunidade de mudar.
Não tenha remorsos. Os velhos geralmente não arrependem daquilo que fizeram, mas sim por aquelas coisas que deixaram de fazer.
As únicas pessoas que tem medo da morte são aquelas que tem remorsos.
Ela concluiu seu discurso cantando corajosamente "A Rosa".
Ela desafiou a cada um de nós a estudar poesia e vivê-la em nossa vida diária.
No fim do ano Rosa terminou o último ano da faculdade que começou há todos aqueles anos atrás.
Uma semana depois da formatura, Rosa morreu tranqüilamente em seu sono.
Mais de dois mil alunos da faculdade foram ao seu funeral, em tributo à maravilhosa mulher que ensinou, através de exemplo, que nunca é tarde demais para ser tudo aquilo que você pode provavelmente ser.

"Ficar velho é obrigatório, crescer é opcional".

Desconheço a autoria do texto.

Field of Tulips, Island of Mainau, Germany © Index Stock

19.9.07

John Cable Mill, Cades Cove, Great Smoky Mountains National Park, Tennessee © Dennis Flaherty


Se tratarmos um indivíduo como ele é,
elecontinuará a ser como sempre foi,
mas, se o tratarmos como se ele fosse o que poderia ser,
ele se transformará naquilo que poderia ser.

Goethe


Fruita Barn, Capitol Reef National Park, Utah © Russ Finley / Finley-Holiday Films



Se um homem de uma civilização anterior à nossa - um grego da Antiguídade, digamos, um romano - aparecesse de súbito entre os seres humanos do presente, suas primeiras impressões o levariam a considerá-los uma raça de mágicos, de semideuses. Mas fosse um Platão ou um Marco Aurélio e se recusasse a ficar deslumbrado ante as maravilhas materiais criadas pela tecnologia avançada e examinasse a condição humana com mais cuidado, suas primeiras impressões dariam lugar a uma grande consternação.

Notaria logo que o homem, não obstante o imponente grau de domínio sobre a natureza, possui um controle muito limitado sobre o seu interior. Perceberia que esse mágico moderno, capaz de descer ao fundo do oceano e de projetar-se até a lua, é, em larga medida, ignorante do que se passa nas profundezas do próprio inconsciente e incapaz de se elevar aos luminosos níveis da supraconsciência, tornando-se cônscio de seu próprio self. Verificaria que esse pretenso semideus que controla grandes forças elétricas com o mover de um dedo e inunda o ar de sons e imagens para divertimento de milhões de pessoas - é incapaz de lidar com as próprias emoções, impulsos e desejos.

Conforme indicaram diversos autores, entre os quais Toynbee, esse abismo que se interpõe entre as forças internas e externas do homem é uma das causas mais importantes e profundas dos males individuais e coletivos que afligem nossa civilização e tão gravemente lhe ameaçam o futuro.




O homem teve de pagar caro por suas realizações materiais. Sua vida tornou-se mais ampla, mais rica e mais estimulante, porém, ao mesmo tempo, mais complicada e extenuante. Seu ritmo acelerado, as oportunidades oferecidas para gratificação dos desejos, a maquinaria social e econômica onde se emaranhou – tudo isso exige cada vez mais de suas funções mentais, de suas emoções e de sua vontade. Se fosse necessária uma prova convincente deste fato, bastaria observar o dia de um homem de negócios, de um político, de uma mulher que tem uma carreira ou de uma dona-de-casa.

Não raro faltam, ao indivíduo, recursos para enfrentar as dificuldades e ciladas deste tipo de existência. Sua resistência pode ruir, em face das exigências, confusões e estímulos que ela propõe. Segue-se a isto um distúrbio que leva ao desânimo, à frustração – e mesmo ao desespero.

O remédio para tais males – para esse estreitamento e eventual fechamento do abismo fatal entre as forças externas e internas do homem – tem sido e deve ser buscado em duas direções: na simplificação da vida interior e no desenvolvimento das forças exteriores.



In: O Ato da Vontade, Roberto Assagioli
Imgens: da net

18.9.07


5% OU 95%? ONDE VOCÊ SE ENCAIXA?





Tínhamos uma aula de Fisiologia na escola de medicina logo após a semana da Pátria. Como a maioria dos alunos havia viajado aproveitando o feriado prolongado, todos estavam ansiosos para contar as novidades aos colegas e a excitação era geral.

Um velho professor entrou na sala e imediatamente percebeu que iria ter trabalho para conseguir silêncio. Com grande dose de paciência tentou começar a aula, mas você acha que minha turma correspondeu? Que nada. Com um certo constrangimento, o professor tornou a pedir silêncio educadamente. Não adiantou, ignoramos a solicitação e continuamos firmes na conversa. Foi aí que o velho professor perdeu a paciência e deu a maior bronca que eu já presenciei.

Veja o que ele disse:


- “Prestem atenção porque eu vou falar isso uma única vez”, disse, levantando a voz e um silêncio carregado de culpa se instalou em toda a sala e o professor continuou.


- “Desde que comecei a lecionar, isso já faz muito anos, descobri que nós professores, trabalhamos apenas 5% dos alunos de uma turma. Em todos esses anos observei que de cada cem alunos, apenas cinco são realmente aqueles que fazem alguma diferença no futuro; apenas cinco se tornam profissionais brilhantes e contribuem de forma significativa para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Os outros 95% servem apenas para fazer volume; são medíocres e passam pela vida sem deixar nada de útil.


O interessante é que esta porcentagem vale para todo o mundo. Se vocês prestarem atenção, notarão que de cem professores, apenas cinco são aqueles que fazem a diferença; de cem garçons, apenas cinco são excelentes; de cem motoristas de táxi, apenas cinco são verdadeiros profissionais; e podemos generalizar ainda mais: de cem pessoas, apenas cinco são verdadeiramente especiais."

É uma pena muito grande não termos como separar estes 5% do resto, pois se isso fosse possível, eu deixaria apenas os alunos especiais nesta sala e colocaria os demais para fora, então teria o silêncio necessário para dar uma boa aula e dormiria tranqüilo sabendo ter investido nos melhores. Mas, infelizmente não há como saber quais de vocês são estes alunos. Só o tempo é capaz de mostrar isso. Portanto, terei de me conformar e tentar dar uma aula para os alunos especiais, apesar da confusão que estará sendo feita pelo resto. Claro que cada um de vocês sempre poderá escolher a qual grupo pertencerá.


Obrigado pela atenção e vamos à aula de hoje”.


Nem preciso dizer o silêncio que ficou na sala e o nível de atenção que o professor conseguiu após aquele discurso. Aliás, a bronca tocou fundo em todos nós, pois minha turma teve um comportamento exemplar em todas as aulas de Fisiologia durante todo o semestre; afinal quem gostaria de espontaneamente ser classificado como fazendo parte do resto?


Hoje não me lembro muita coisa das aulas de Fisiologia, mas a bronca do professor eu nunca mais esqueci. Para mim, aquele professor foi um dos 5% que fizeram a diferença em minha vida. De fato, percebi que ele tinha razão e, desde então, tenho feito de tudo para ficar sempre no grupo dos 5%, mas, como ele disse, não há como saber se estamos indo bem ou não; só o tempo dirá a que grupo pertencemos.



Contudo, uma coisa é certa: se não tentarmos ser especiais em tudo que fazemos, se não tentarmos fazer tudo o melhor possível, seguramente sobraremos na turma do resto.


Desconheço a autoria do texto.

Imagens: da net



17.9.07




Você comigo aqui
Nesse lugar
É um sonho eu nem
Posso acreditar
É sempre tão difícil
Encontrar
Algum tempo só prá gente
Se amar...

Esquecemos de nos dois
Com tanta coisa prá fazer
E quem sofre mais com isso
É o coração
Quando a gente, então se vê
É bem maior nosso prazer
Impossível é conter
Nossa paixão...

A nossa história de amor
Se parece com um milhão
De outras mais
Tanta gente que se ama demais
Que dificilmente pode se vê...

Mas o amor que a gente faz
É tão lindo que não há
Outro igual
O desejo em nós é mais
Que o normal
Ninguém ama como eu e você...

Você comigo aqui à meia-luz
Tão misteriosamente sensual
Tão carinhosamente me conduz
Ao limite do prazer
Em alto astral...

É tão grande a emoção
De estar contigo aqui à sós
E ter tempo prá fazer
E acontecer
Ter você todo prá mim
E o mundo inteiro
Só prá nós
É tão bom que eu nem sei
O que dizer...

A nossa história de amor
Se parece com um milhão
De outras mais
Tanta gente que se ama demais
Que dificilmente pode se vê...

Mas o amor que a gente faz
É tão lindo que não há
Outro igual
O desejo em nós é mais
Que o normal
Ninguém ama como eu e você...



Paulo Sergio Valle - Augusto César
Imagens: da net

15.9.07



in The Bridges of Madison County (1995)

Carta deixada pela personagem principal aos seus filhos, para ser lida após a morte:

Queridos Filhos,
Ainda que não me sinta bem, creio que é hora de por minhas coisas em ordem. Existe algo muito importante, que vocês devem saber.

Para mim é difícil escrever isto a meus próprios filhos, mas devo fazê-lo. Aqui há algo que é demasiadamente forte, demasiadamente belo, para que morra comigo.

Como já descobriram, ele se chamava Robert Kincaid. Era fotógrafo e esteve aqui em 1965, fotografando as pontes cobertas.


Recordam como a cidade estava emocionada quando as fotos apareceram no National Geographic?

Recordam também que por essa época comecei a receber a revista?

Agora conhecem o motivo de meu repentino interesse.

A propósito eu estava com ele(levando uma das mochilas com as câmaras), quando ele tirou a foto da ponte Cedar.

Entendam que amei o pai de vocês de uma maneira tranqüila. Ele foi bom comigo e me deu vocês dois, a quem amo muito. Não o esquecem. Mas com o Robert Kincaid foi muito diferente. A primeira vez que o vi foi quando me pediu orientação para chegar a ponte Roseman. Vocês e seu pai estavam na Feira Estadual de Illinois. Creia-me, eu não andava buscando nenhuma aventura. Isso era o último pensamento que ocupava minha mente. Mas, ao mirá-lo, soube que o desejava, ainda que não tanto como cheguei a desejá-lo depois.

Ele era um pouco tímido, e eu tive tanta responsabilidade com o que passou como ele. A nota guardada junto com sua pulseira é a que eu preguei na ponte Roseman para que ele, na manhã depois de nos conhecermos. As fotos minhas que ele conservava foram a única prova que ele teve, ao longo dos anos, de que eu existia, de que não era algum sonho que ele havia tido. Em nossa velha cozinha, Robert e eu passamos horas juntos. Falamos e dançamos a luz das velas. E, sim, fizemos amor ali e no dormitório e no jardim e em qualquer outro lugar que pensem. Era uma relação incrível, poderosa, transcendente, e continuou durante dias, quase sem parar. Sempre tenho empregado a palavra forte ao pensar nele. Porque assim era quando nos conhecemos. Era como uma flecha na sua intensidade.


Filhos, compreendam que trato de expressar algo que não se pode dizer com palavras. Só desejo que algum dia os dois possam viver o que eu experimentei.
Se não fosse por seu pai e por vocês, eu teria ido a qualquer lugar com ele. Ele me pediu, me suplicou que o acompanhasse. Mas eu não pude fazê-lo e ele era uma pessoa muito sensível e afetuosa para nunca interferir nas nossas vidas.

O paradoxo é que se não houvera sido por Robert, nào estou segura de ter podido permanecer na granja por todos esses anos. Em quatro dias me deu toda uma vida, um universo, e uniu em uma só as partes separadas de mim.


Nunca tenho deixado de pensar nele, nem por um momento. ainda quando não se achava em minha mente consciente, o sentia em alguma parte, estava sempre ali.
Mas isso nunca diminuiu o que sentia por vocês dois e pelo seu pai. Ao pensar só em mim por um momento, não estou segura de ter tomado a decisão correta. Mas, tendo em conta a família, creio com bastante certeza que sim.

Não quero que sintam culpa ou lástima por nós. Só quero que saibam o quanto amei o Robert Kincaid. Eu o senti dia após dia, durante todos estes anos, o mesmo que ele. ainda que nunca mais voltamos a nos falar, permanecemos unidos tão estreitamente como é possível que se unam duas pessoas.


Não consigo encontrar as palavras para expressar-lo da forma adequada. Ele o fez melhor quando me disse que tínhamos deixado de ser dois seres separados, e, em troca, nos tínhamos convertidos em um terceiro, formado pelos dois. Nenhum de nós dois existia independentemente deste ser. E esse ser ficou sem rumo.



Não me envergonho do que Robert e eu vivemos juntos. Eu o amei com desesperação durante todos esses anos, ainda que, por minhas próprias razões, somente uma só vez tratei de entrar em contato com ele. Foi depois da morte de seu pai. O intento fracassou e temi que houvesse acontecido algo, Assim nunca mais voltei a tentá-lo, por causa desse medo. Simplesmente não podia enfrentar essa realidade. De maneira que agora podem imaginar o que senti quando soube da sua morte.

Como disse, espero que compreendam e não pensem mal de mim. Se me amam, devem amar o que fiz. Robert Kincaid me mostrou como era ser mulher de um modo que poucas mulheres experimentaram. Era atraente e carinhoso, e por certo merece o respeito e talvez o amor de vocês. Espero que possam dar-lhe as duas coisas. A seu próprio modo, através de mim, ele foi bom com vocês.

Que sejam felizes, meus filhos.


Mamãe

14.9.07


Não espere o vento soprar na sua direção,
Nem corra atrás do vento.
A vida está dentro de você
E viver este dia é o melhor que você pode fazer.
Não deixe alguém esperando pela sua palavra.

Abra o seu coração e olhe para a dor da humanidade.
Do seu lado pode estar alguém que sofre em silêncio.
Não se feche nem retenha as coisas boas.
Solte, libere a sua melhor parte.

Há muitas mãos estendidas, Há muitos rostos chorando,
Há muitas vidas precisando de você.
Há dor no mundo! Há fome! Há luta!
Há dor sobretudo NA ALMA das pessoas.

Você pode, se você acha que pode.
Faça algo neste dia...

Pode ser que amanhã a sua palavra
Fique presa na garganta porque
A morte se sobrepõe a vida.
Não retenha a sua fidelidade,
O seu gesto de amor, a sua solidariedade,
A sua amizade, o seu melhor sentimento.
Não sabemos o que nos espera no próximo minuto.
Uma existência pode se esvair num segundo.
Faça a sua parte no mundo.
Não silencie, não se omita.

Pode ter certeza, algum coração neste momento bate por você,
Uma alma ferida precisa das suas palavras,
Um amigo espera seu gesto,
Um faminto espera o pão, um doente a cura,
Alguém que você nem conhece deseja
Intensamente estar vivo e no seu lugar.

Texto: Dulce Regina Breim
Imagens: da net

11.9.07


Samyutta Nikâya
II 1
(Paticcasamuppãda)















"Condicionadas pela ignorância surgem as atividades intencionais;
condicionada pelas atividades intencionais, a consciência;
condicionados pela consciência, o nome-forma (mente e matéria);
condicionados pelo nome e forma, os sentidos;
condicionado pelos sentidos, o contato;
condicionada pelo contato, a sensação (sentimento);
condicionado pela sensação, o desejo;
condicionado pelo desejo, o apego;
condicionado pelo apego, o devir;
condicionado pelo devir, o nascimento;
condicionados pelo nascimento surgem a velhice e morte,
pesar, lamentação, sofrimento, tristeza e desespero.
Tal é o surgimento desta inteira massa de males.

[…] pela cessação da ignorância ocorre o cessar das atividades intencionais;
pela cessação das atividades intencionais, o cessar da consciência;
[…] pela cessação do nascimento cessam a velhice e morte,
o pesar, a lamentação, o sofrimento, a tristeza, e o desespero.
Tal é a cessação desta inteira massa de males".


7.9.07

Hula Dancer at Sunset, Oahu, Hawaii © Lonely Planet Images


"Amor, alegria e paz são estados profundos do SER, ou melhor, três aspectos do Ser Espiritual. Assim, não possuem opositores pela simples razão de que surgem da sua essência.
As emoções, por outro lado, sendo uma parte da mente dualística, estão sujeitas à lei dos opostos. Isso quer dizer, simplesmente, que não se pode ter o bom sem que haja o mau.
Portanto, numa condição de auto engano e inconsciência, aquilo que algumas vezes é erroneamente chamado de alegria é o lado geralmente breve do prazer, dentro da alternância contínua do ciclo sofrimento/prazer.

O prazer sempre se origina de alguma coisa externa a nós, ao passo que a alegria nasce do nosso Ser Espiritual. A mesma coisa que proporciona prazer hoje provocará sofrimento amanhã, ou nos abandonará, e essa ausência causará sofrimento. Do mesmo modo, o que se costuma chamar de amor pode ser prazeroso e excitante por um tempo, mas é um apego adicional, uma condição de necessidade extrema, que pode vir a se transformar no oposto, em um piscar de olhos. Muitas relações "amorosas", passada a euforia inicial, oscilam entre o "amor" e o ódio, a atração e a agressão.

O amor verdadeiro não permite que você sofra. Como poderia? Não se transforma em ódio de repente, assim como a verdadeira alegria não se transforma em sofrimento.
Antes de atingirmos a iluminação, antes mesmo de nos libertarmos da influência nefasta do Lado Escuro, podemos ter lampejos de alegria autêntica, de um amor verdadeiro ou de uma profunda paz interior, tranquila mas intensamente viva.
Esses são os aspectos da nossa verdadeira natureza, em geral obscurecida pelo Lado Escuro. Mesmo dentro de uma relação "normal" de dependência, é possível haver momentos onde podemos sentir a presença de algo genuíno, incorruptível.
Mas serão somente lampejos, a serem logo encobertos pela interferência do Lado Escuro. Você poderá ficar com a impressão de que teve alguma coisa muito valiosa mas a perdeu, ou a sua inconsciência pode lhe convencer de que tudo não passou de uma ilusão.

A verdade é que não foi ilusão e você também não perdeu nada. Esse algo valioso é parte de seu estado natural - pode estar encoberto, mas nunca ser destruído pelo
Lado Escuro.

Mesmo quando o céu está totalmente coberto, o Sol não desapareceu.
Ainda está lá, por trás das nuvens.
Exatamente como o seu DIAMANTE."



Texto extraído e adaptado do livro O PODER DO AGORA, de Eckhart Tolle


No amor, nem sempre são as faltas o que mais nos prejudica, mas sim a maneira como procedemos depois de as ter cometido. "Oví­dio"