Rabindranath Tagore
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Eu me recordo de já ter vivido, Cruz e Souza |
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enasce em ti mesmo. Multiplica os teus olhos, para verem mais. Multiplica-se os teus braços para semeares tudo. Destrói os olhos que tiverem visto. Cria outros, para as visões novas. Destrói os braços que tiverem semeado, Para se esquecerem de colher. Sê sempre o mesmo. Sempre outro. Mas sempre alto. Sempre longe. E dentro de tudo. Cecília Meireles |
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enho fases, como a lua Fases de andar escondida, fases de vir para a rua... Perdição da minha vida! Perdição da vida minha! Tenho fases de ser tua, tenho outras de ser sozinha. Fases que vão e que vêm, no secreto calendário que um astrólogo arbitrário inventou para meu uso. E roda a melancolia seu interminável fuso! Não me encontro com ninguém (tenho fases, como a lua...) No dia de alguém ser meu não é dia de eu ser sua... E, quando chega esse dia, o outro desapareceu... Cecília Meireles |
Imagem: AD |
Imagem: Philip Greenspun |
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Uma vez aceite a noção de |
Quem agora chora em algum lugar do mundo, Sem razão chora no mundo, Chora por mim. Quem agora ri em algum lugar na noite, Sem razão ri dentro da noite, Ri-se de mim. Quem agora caminha em algum lugar no mundo, Sem razão caminha no mundo, Vem a mim. Quem agora morre em algum lugar no mundo, Sem razão morre no mundo, Olha para mim. Rainer Maria Rilke |
Se te pareço ausente, não creias: |
Imagem: AD |
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Sozinho, sentado à mesa de jantar, o resto da casa às escuras, comecei a chorar.
Finalmente tinha conseguido colocar os dois meninos na cama.
Pai solteiro há pouco tempo, tinha de ser pai e mãe para meus filhos.
Dera banho nos dois, com suas risadas de prazer, corridas malucas pela casa, gargalhando e jogando coisas um no outro. Mais ou menos acalmados, deitaram para eu fazer em cada um os prescritos cinco minutos de massagem. Peguei, então, o violão e comecei meu ritual noturno de músicas folclóricas, terminando com a favorita dos dois meninos. Cantei-a repetidamente, reduzindo aos poucos o ritmo e o volume até que estivessem aparentemente dormindo.
Recentemente divorciado, com a custódia dos filhos, estava determinado a lhes proporcionar uma vida doméstica a mais normal e estável possível. Para eles, estava sempre feliz. Tentava, ao máximo, manter as atividades costumeiras sem muitas alterações. Esse ritual noturno sempre acontecera. A única diferença é que agora a mãe estava ausente. Eu conseguira realiza-lo mais uma vez: outra noite concluída com sucesso.
Imagem: AD |
Eu me levantei devagar, cuidadosamente, tentando não fazer nenhum barulho que pudesse despertá-los, pedindo mais canções e mais histórias. Saí do quarto na ponta dos pés, fechei a porta até a metade e desci as escadas.
Sentado à mesa de jantar, joguei-me na cadeira, ciente de que era a primeira vez, desde que chegara em casa do trabalho, que conseguia me sentar. Tinha cozinhado e servido o jantar aos meninos, batalhando para que comessem. Tinha lavado a louça ao mesmo tempo em que tentava lhes dar a atenção que exigiam. Ajudara o mais velho com o dever de casa. Tinha elogiado os desenhos do mais novo e exclamado ohs! De admiração com sua elaborada construção com os blocos de Lego. O banho, as histórias, as massagens nas costas, as canções, e agora, finalmente, um pequeno momento só para mim. O silêncio era um alívio, por enquanto.
Imagem: AD |
Então tudo se acumulou em mim: a fadiga, o peso da responsabilidade, a preocupação com as contas que não tinha a certeza de poder pagar naquele mês. Os detalhes infindáveis do dia-a-dia de uma casa.
Até a pouco tempo estava casado e tinha alguém para dividir essas tarefas, essas contas e essas preocupações.
E a solidão. Eu me sentia como se estivesse no fundo de um grande mar de solidão. Tudo aquilo vinha junto e eu estava completamente perdido, indefeso. Comecei a chorar, inesperada e convulsivamente. Fiquei ali, em silêncio, soluçando.
Bem nessa hora um par de bracinhos me rodeou pela cintura e um rosto me examinou com atenção. Olhei para a carinha simpática do meu filho de cinco anos.
Fiquei envergonhado por meu filho me ver chorando.
- Desculpe, filho... não sabia que você ainda estava acordado.
Não sei por que isso acontece, mas tantas pessoas se desculpam quando choram, e não sou exceção.
- Eu não queria chorar. Desculpe. Estou um pouco triste hoje.
- Tudo bem, papai. Não tem problema chorar, você é apenas uma pessoa.
Não posso descrever como me deixou feliz aquele garotinho que, com a sabedoria da inocência, me deu permissão para chorar. Parecia que estava dizendo que eu não tinha de ser sempre forte, que às vezes podia me permitir ser fraco e demonstrar meus sentimentos.
Ele deslizou para o meu colo e ficamos abraçados, conversando um pouco. Eu o levei de volta para a cama e o ajeitei entre as cobertas. De alguma forma, eu também consegui dormir naquela noite.
Hanoch McCarty
Imagem: Maurizio Moro1 |
O Pai não é somente aquele que fecunda, mas o que nos adota como filho.
Imagem:Edward Gordon |
Banhado em velhos sais e maresias; Arrasto velas rôtas pelo vento E mastros carregados de agonias. Provenho dêsses mares esquecidos Nos roteiros de há muito abandonados E trago na retina diluídos Os misteriosos portos não tocados. Retenho dentro da alma, prêso à quilha Todo um mar de sargaços e de vozes, E ainda procuro no horizonte a ilha Onde sonham morrer os albatrozes... Venho de longe a cortornar a esmo O cabo das tormentas de mim mesmo. Paulo Bonfim |
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ouvir uma linda canção, contemplar um belo quadro e dizer algumas bonitas palavras. Pensar é mais interessante que saber, mas é menos interessante que olhar. Johann Wofgang von Goethe |
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Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta. [Tg 2:26]
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Imagem: AD |
"A Vida é uma oportunidade, aproveite-a.
A Vida é beleza, admire-a.
A Vida é benção, aproveite-a.
A Vida é um sonho, concretize-o.
A Vida é um desafio, enfrente-o.
A Vida é um dever, cumpra-o!
A Vida é um jogo, jogue-o.
A Vida é preciosa, cuide bem dela.
A Vida é riqueza, conserve-a.
A Vida é amor, desfrute-o.
A Vida é mistério, descubra-o.
A Vida é uma promessa, cumpra-a.
A Vida é tristeza, supere-a.
A Vida é uma música, cante-a.
A Vida é um combate, aceite-o.
A Vida é uma tragédia, supere-a.
A Vida é uma aventura, ouse-a.
A Vida é sorte, faça-a.
A Vida é demasiado preciosa, não a destrua.
A Vida é vida, defenda-a!"
Madre Teresa de Calcutá
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Imagem: Philip Greenspun |
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Imagem: Philip Greenspun |
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Um livro para a gente pegar e ler quando quisesse esquecer a vida real... Eu entendo a Arte como sendo uma errata da vida. A página tal, onde se lê isto, leia-se aquilo... |
Imagem: AD |
Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do horror.
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Imagem: AD |
O meu amigo mais íntimo é o sujeito que vejo todas as manhãs no espelho do quarto de banho, à hora onírica em que passo pelo rosto o aparelho de barbear. Estabelecemos diálogos mudos, numa linguagem misteriosa feita de imagens, ecos de vozes, alheias ou nossas, antigas ou recentes, relâmpagos súbitos que iluminam faces e fatos remotos ou próximos, nos corredores do passado - e às vezes, inexplicavelmente, do futuro - enfim, uma conversa que, quando analisamos os sonhos da noite, parece processar-se fora do tempo e do espaço. Surpreendo-me quase sempre em perfeito acordo com o que o Outro diz ou pensa. Sinto, no entanto, um pálido e acanhado desconforto por saber que existe no mundo alguém que conhece tão bem os meus segredos e fraquezas, uns olhos assim tão familiarizados com a minha nudez de corpo e espírito. Talvez seja por isso que com certa freqüência entramos em conflito. Mas a ridícula e bela verdade é que no fundo, bem feitas as contas, nós nos queremos um grande bem. Estamos habituados um ao outro. Envelhecemos juntos. A face do Outro é o meu calendário implacável. "Os cabelos te fogem, homem" - murmuro-lhe às vezes - "Tuas carnes se tornas flácidas. Vejo a escrita do tempo no pergaminho do teu rosto". - "E como imaginas |
Imagem:desconheço a autoria |
As pessoas passam pela vida da gente... Umas, quase não deixam nada e da gente pouco levam. Poucas são as que levam consigo uma parte de nós e nos deixam saudades. Obrigada, Thais, pelo reencontro Final de tarde, domingo solitário. Rostos corados, pela suada |
Imagem: desconheço a autoria |
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No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas |
Imagem: Mikhail Garmash |
Imagem: desconheço a autoria. |
Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram. Imagem: desconheço a autoria. Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender. Carlos Drummond de Andrade. |
Imagem: desconheço a autoria. |
Imagem: desconheço a autoria. |
n algum lugar em que eu nunca estive, alegremente alémde qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio: no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram, ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre (tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa ou se quiseres me ver fechado, eu e minha vida nos fecharemos belamente, de repente, assim como o coração desta flor imagina a neve cuidadosamente descendo em toda a parte; nada que eu possa perceber neste universo iguala o poder de tua imensa fragilidade: cuja textura compele-me com a cor de seus continentes, restituindo a morte e o sempre cada vez que respira (não sei dizer o que há em ti que fecha e abre; só uma parte de mim compreende que a voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas) ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas. E. E. Cummings, tradução de Augusto de Campos. |
Imagem: desconheço autoria. |
Imagem: Robert Farnham |
Na Margem do Rio Piedra... |
Imagem: Robert Kocs |
Não é preciso ser um quarto para ser mal-assombrado. Nem é preciso ser uma casa; A mente tem corredores que superam qualquer lugar concreto. Emily Dickinson |
Imagens: autoria desconhecida
N
Imagens: H. Hargrova
Para encher um vazio |
Imagens: autoria desconhecida
nde estão os teus olhos – onde estão? – Oh – milagre de amor que escorres dos meus olhos! Na água iluminada dos rios da lua eu os vi descendo e passando e fugindo. Iam como as estrelas da manhã. Vem, eu quero os teus olhos, meu amor! A vida...sombras que vão e sombras que vêm vindo O tempo... sombras de perto e sombras na distância – vem, o tempo quer a vida! Onde ocultar minha dor se os teus olhos estão dormindo? Onde está tua face? Eu a senti pousada sobre a aurora Teu brando cortinado ao vento leve era como asas fremindo Teu sopro tênue era como um pedido de silêncio – oh, a tua face iluminada! Em mim, mãos se amargurando, olhos no céu olhando, ouvidos no ar ouvindo Na minha face o orvalho da madrugada atroz, na minha boca o orvalho do teu nome! Vem... Os velhos lírios estão fanando, os lírios novos estão florindo Vinícius de Moraes |
um ser em estado de torcida do Flamengo. Torce mais por ele (o amado) que pela Seleção. Entra no campo, agride o juiz, salta o alambrado, topa qualquer desafio. Só vê a vitória. Vai pro exílio, larga carreira, profissão, conveniência, partido político. Só tem um caminho e uma verdade: o amor. O resto virá depois. Sem ele, o tudo é nada. É o mais paciente dos seres impacientes. Sempre em estado de "estou pronta" leva anos esperando com uma insuportável e maravilhosa impaciência, exigência, dedicação, entrega, cegueira, vontade de quintais, praias e amarrações que supõe perfeitas e definitivas. Ninguém vive a provisoriedade com tanto sentido de permanência. Ninguém assina em branco e antecipa tantos avais de afeto. Ninguém erra com tanta convicção e decência. É fera e santa, guerreira e gato, desastrada e genial, capaz de usar fitas; meias coloridas; de enfrentar solidões, distâncias, presenças e furacões pelo ser amado. É o mais regular dos seres irregulares, porque não julga, não pensa, não avalia: sente. E que se danem o mundo, as regras, as regulações, disposições, legislações e tudo aquilo que a mãe ensinou! Que o mundo exploda em flores! Ser de grandezas só vive de migalhas. Entende de lençóis iluminados pela luz do corredor nas noites sem sono, conhece ruídos diferentes de tique-taques e entende de cantores e poetas (escolhidos secretamente). Interpreta as mensagens mais sutis do amado: tom de voz, espaço entre uma e outra frase, fomes dominicais, impressões vagas de cansaço, tédio, alegria ou saudade expressas por fungados, suspiros, desabafos, interjeições, gestos, sons, olhares. Mistura disposição com vontade. Possibilidade com ânsia. Dificuldade com não querer. Em suma: é o mais incapaz dos capazes do que há de melhor, mais lindo, legítimo e verdadeiro. Especialista em pretextos; modista de oportunidades; navegantes de esperanças; tecelã de ternuras; doceira de amarguras. É furacão e chuvisco; exaltação e placidez; adivinhação e alienação; sábia e patusca; maravilha e susto; mãe e mulher; filha e bruxa; santa e desastrada. O único ser que topa qualquer parada não é o herói, o desesperado ou o valente: é a mulher apaixonada. Artur da Távola |
Imagem: autoria desconhecida
mor que vai, amor que vem Amor foge e vai embora Amor que leva seus teréns Pra não ter motivo de voltar Amor que vai Num cavalo alado chamado brisa Amor que vem Num galope rasgado na beira-mar Amor maltrata, deseja Amor comendo a maçã Amor é pura incerteza O que será amanhã? Alceu Valença |