Psy

"Só algumas pessoas escolhidas pela fatalidade do acaso provaram da liberdade esquiva e delicada da vida" "Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa, ou forte como uma ventania, depende de quando e como você me vê passar" "Clarice Lispector"

29.1.08

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Eu Nunca Vi o Urzal
Emily Dickinson





Eu nunca vi o urzal,
Eu nunca vi o Mar;
Mas já sei eu como é a urze,
E onde a onda deve estar.

Jamais falei com Deus
Nem o céu visitei
Porém sei do lugar,
Pois o mapa eu ganhei.




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Entendemos Tão Pouco
Lenda Judaica.





Era uma vez dois irmãos que passaram a vida inteira na cidade e nunca haviam visto um campo ou um pasto. Decidiram-se, um dia, a fazer uma viagem para o interior. Enquanto caminhavam, observaram um fazendeiro arando a terra e ficaram intrigados com o que estava fazendo aquele homem.

E pensaram consigo mesmos: "Que tipo de comportamento é esse? Esse sujeito fica o dia inteiro marchando para frente e para trás, escavando sulcos profundos na terra. Por que alguém iria destruir uma campina tão bonita assim?"

À tardinha, tornaram a passar pelo mesmo local e viram o fazendeiro colocando as sementes nos regos.

Desta feita, pensaram: "O que estará fazendo ? Deve ser louco. Está jogando tribo bom dentro desses valões!"

- O campo não é lugar para mim. As pessoas agem com se fossem malucas. Vou voltar para casa - disse um dos irmãos. E retornou para a
cidade.

Mas o outro ficou e poucas depois verificou uma mudança maravilhosa. Os pés de trigo começaram a brotar, recobrindo os campos com um verdor que nunca fora capaz de imaginar. Tratou de escrever para o irmão a fim de que viesse ver aquele crescimento milagroso.

E o irmão voltou da cidade, ficando também maravilhado com as mudanças.
Passado alguns dias, o verde dos brotos foi dando lugar ao dourado dos trigais.
Só então compreenderam a razão do trabalho do fazendeiro.

O trigo amadureceu completamente e o fazendeiro trouxe a foice e começou a ceifá-lo. O irmão que havia retornado à cidade não acreditou.
- O que estará esse imbecil fazendo agora? Trabalhou o verão inteiro para cultivar esse lindo trigal e agora o está destruindo com as próprias mãos! Não passa mesmo de um doido varrido! Para mim já chega. Vou voltara para a cidade.

Mas o outro tinha mais paciência. Ficou no campo e assistiu o trabalho de colheita, quando o fazendeiro levou o trigo para o celeiro. Observou o esmero com que ele separou o joio e o cuidado ao armazenar o resto. E ficou estupefato ao constatar que a semeadura de um saco de trigo permitiu a colheita de todo um trigal. Só então compreendeu que havia uma razão por trás de cada ato do fazendeiro.


E percebeu:
- É assim que são as coisas com os trabalhos divinos. Nós mortais enxergamos apenas o início do plano de Deus. Não somos capazes de compreender todo o propósito e objetivo final de Sua criação. Portanto, precisamos ter fé em sua sabedoria.

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27.1.08

O Problema do Ser, Léon Denis




O primeiro problema que se apresenta ao pensamento é o do próprio pensamento, ou, antes, do ser pensante. É isto, para todos nós, assunto capital, que domina todos os outros e cuja solução nos reconduz às próprias origens da Vida e do Universo.
Qual a natureza da nossa personalidade?
Comporta um elemento suscetível de sobreviver à morte? A esta resposta estão afetas todas as apreensões, todas as esperanças da Humanidade.

O problema do ser e o problema da alma fundem-se num só.
É a alma que fornece ao homem o seu princípio de vida e movimento. A alma humana é uma vontade livre e soberana, é a unidade consciente que domina todos os atributos, todas as funções, todos os elementos materiais do ser, como a alma divina domina, coordena e liga todas as partes do Universo para harmonizá-las.

A alma é imortal, porque o nada não existe e nenhuma coisa pode ser aniquilada, nenhuma individualidade pode deixar de ser. A dissolução das formas materiais prova simplesmente uma coisa: que a alma é separada do organismo por meio do qual comunicava com o meio terrestre. Não deixa, por esse fato, de prosseguir a sua evolução em novas condições, sob formas mais perfeitas e sem nada perder da sua identidade.
De cada vez que ela abandona o seu corpo terrestre, encontra-se novamente na vida do Espaço, unida ao seu corpo espiritual, de que é inseparável, à forma imponderável que para si preparou com os seus pensamentos e obras.

Esse corpo sutil, essa duplicação fluídica existe em nós no estado permanente. Embora invisível, serve, entretanto, de molde ao nosso corpo material. Este não representa, no destino do ser, o papel mais importante.
O corpo visível, o corpo físico varia. Formado de acordo com as necessidades da vida terrestre, é temporário e perecível; desagrega-se e dissolve-se quando morre. O corpo sutil permanece; preexistindo ao nascimento, sobrevive às decomposições da campa e acompanha a alma nas suas transmigrações. É o modelo, o tipo original, a verdadeira forma humana, à qual vêm incorporar-se temporariamente as moléculas da carne.
Essa forma sutil, que se mantém no meio de todas as variações e de todas as correntes materiais, mesmo durante a vida pode separar-se, em certas condições, do corpo carnal, e também agir, aparecer, manifestar-se à distância, de modo a provar de maneira irrecusável sua existência independente.



A noção do bem, gravada no fundo das consciências, é, igualmente, prova evidente da nossa origem espiritual.
Se o homem procedesse do pó ou fosse resultante das forças mecânicas do mundo, não poderíamos conhecer o bem e o mal, sentir remorso nem dor moral.
"Essas noções, dizem-nos, provêm dos vossos antepassados, da educação, das influências sociais!"
Mas, se essas noções são heranças exclusivas do passado, de onde foi que ele as recebeu?
E por que se multiplicam em nós, não achando terreno favorável nem alimento?

Se a vista do mal vos tem causado sofrimento, se tendes chorado por vós e pelos outros, haveis de ter podido entrever, nessas horas de tristeza, de dor reveladora, as secretas profundezas da alma, as suas ligações misteriosas com o Além, e deveis compreender o encanto amargo e o fim elevado da existência, de todas as existências.

Este fim é a educação dos seres pela dor; é a ascensão das coisas finitas para a Vida Infinita.

Não, o pensamento e a consciência não derivam de um universo químico e mecânico. Ao contrário, dominam-no, dirigem-no e subjugam-no do Alto.
Com efeito, não é o pensamento que pesa os mundos, mede a extensão e discrimina as harmonias do Cosmo?
Só por um lado pertencemos ao mundo material. E por isso que tão vivamente padecemos com os seus males.
Se lhe pertencêssemos completamente, sentir-nos-íamos muito mais em nosso elemento e ser-nos-iam poupados muitos sofrimentos.

A verdade acerca da natureza humana, da vida e do destino, o bem e o mal, a liberdade e a responsabilidade não se descobrem no fundo das retortas nem na ponta os escalpelos.

A ciência material não pode julgar coisas do espírito.
Só o espírito pode julgar e compreender o espírito, e isso na razão do grau da sua evolução.
É da consciência das almas superiores, dos seus pensamentos, dos seus trabalhos, dos seus exemplos, dos seus sacrifícios, que brotam a luz mais intensa e o mais nobre ideal que podem guiar a Humanidade no seu caminho.

O homem é, pois, ao mesmo tempo, espírito e matéria, alma e corpo; mas, talvez que espírito e matéria não sejam mais do que simples palavras, exprimindo de maneira imperfeita as duas formas da vida eterna, a qual dormita na matéria bruta, acorda na matéria orgânica, adquire atividade, se expande e se eleva no espírito.

Não haverá, como admitem certos pensadores, mais do que uma essência única das coisas, forma e pensamento ao mesmo tempo, sendo a forma um pensamento materializado e o pensamento a forma do espírito?
E possível.
O saber humano é limitado e até os olhares do gênio não são mais do que relâmpagos no domínio infinito das idéias e das leis.
Todavia, o que caracteriza a alma e absolutamente a diferencia da matéria é a sua unidade consciente. Sob a ação da análise, a matéria dispersa-se e dissipa-se.

O átomo físico divide-se em subátomos, que, por sua vez, fragmentam-se indefinidamente.
A matéria é inteiramente desprovida de unidade, como o estabeleceram as recentes descobertas de Becquerel, Curie, Le Bon.

No Universo só o espírito representa o elemento uno, simples, indivisível e, por conseguinte, logicamente indestrutível, imperecível, imortal.



Imagens encontradas na net.

26.1.08


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Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.



Quando a pátria que temos não a temos
Perdida por silêncio e por renúncia
Até a voz do mar se torna exílio
E a luz que nos rodeia é como grades

Sofia de Mello Breyner Andresen



Imagens encontradas na net

Filosofia





Pensarei que o céu, o ar, a terra, as cores, as figuras, os sons, e todas as coisas exteriores que vemos não passam de ilusões e enganos de que ele (um deus enganador) se serve para surpreender minha credulidade.
Considerar-me-ei a mim mesmo como não tendo mãos, nem olhos, nem carne, nem sangue, como não tendo nenhum dos sentidos, mas acreditando falsamente possuir todas essas coisas.
Permanecerei obstinadamente apegado a esse pensamento; e, se por esse medo, não estiver em meu poder atingir o conhecimento, de nenhuma verdade, pelo menos estará em meu poder fazer a suspensão de meu juízo.
Eis por que cuidarei zelosamente de não receber em minha crença nenhuma falsidade, e prepararei tão bem meu espírito em face de todos os ardis desse grande enganador que, por mais poderoso e astucioso que seja, nunca poderá impor-me coisa alguma.
Posso duvidar de tudo, mas tenho certeza de que estou aqui, pensando, duvidando. Sou uma coisa que duvida, que pensa

René Descartes - Meditações Metafísicas


É justo que se apeguem a mim, embora o façam com prazer e voluntariamente. Eu iludiria aqueles em quem despertasse desejo, pois não sou o fim de ninguém e não tenho com o que satisfazê-los. Não estou eu pronto a morrer? E, assim, o objeto do apego dessas pessoas morrerá. Logo, quando não seria eu culpado por fazer crer numa falsidade, embora eu a adoçasse e acreditasse nela com prazer, e que ela me desse prazer, ainda assim sou culpado de me fazer amar. E, se atraio as pessoas para que se apeguem a mim, devo advertir aqueles que estariam prontos a consentir na mentira de que não devem acreditar, qualquer que seja a vantagem que daí me advenha.

Blaise Pascal, Pensamentos


Viver significa ter de ser fora de mim, no absoluto fora que é a circunstância ou mundo: é ter de, querendo ou não, enfrentar-me e chocar-me, constantemente, incessantemente com tudo que integra esse mundo: minerais, plantas, animais, os outros homens.
Não há remédio. Tenho de atracar-me com isso tudo. Tenho de me ajustar com tudo isso. Mas isso acontece ultimamente a mim só, e tenho de fazê-lo solitariamente.

José Ortega Y Gasset - O homem e a gente.


Imagens: Philip Toledano
Texto extraído da Revista Super Interessante, Ed 249.

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19.1.08




S
ê paciente;
espera que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto ao
passar o vento que a mereça.

Eugénio de Andrade

8.1.08

O tempo acaba o ano, o mês e a hora,
A força, a arte, a manha, a fortaleza;
O tempo acaba a fama e a riqueza,
O tempo o mesmo tempo de si chora.

Tempo busca e acaba o onde mora
Qualquer ingratidão, qualquer dureza;
Mas não pode acabar minha tristeza,
Enquanto não quiserdes vós, Senhora.

O tempo o claro dia torna escuro,
E o mais ledo prazer em choro triste;
O tempo a tempestade em grã bonança.

Mas de abrandar o tempo
Estou seguro o peito de diamante,
Onde consiste a pena e o prazer desta esperança.





- Que esperais, esperança? - Desespero.
- Quem disso a causa foi? - Uma mudança.
- Vós, vida, como estais? - Sem esperança.
- Que dizeis, coração? - Que muito quero.

- Que sentis, alma, vós? - Que amor é fero.
- E enfim, como viveis? - Sem confiança.
- Quem vos sustenta, logo? - Uma lembrança.
- E só nela esperais? - Só nela espero.

- Em que podeis parar? - Nisto em que estou.
- E em que estais vós? - Em acabar a vida.
- E tende-lo por bem? - Amor o quer.


- Quem vos obriga assim? - Saber que sou.
- E quem sois? - Quem de todo está rendida.
- A quem rendida estais? - A um só querer.

Luis de Camões



Imagens Moon and Back Photography

7.1.08

psyta.jpg picture by chalan3



Estes são os meus objetos.
Têm uma pátina que não é do tempo;
é minha inquietação
roçando neles sua mão aflita.

Este é o meu rosto;
uns olhos que de tanto buscar
olham demais para dentro.

Se tudo desemboca na morte,
esse é o meu destino. É para lá que vou,
esperança e protesto,
segurando o candelabro dos amores
que me iluminaram na vida.

(resistirão, singularmente,
ao meu último sopro?)

Lya Luft, Para não dizer adeus


Imagens: da net

6.1.08







Cupido e Psiquê



Certo rei e rainha tinham três filhas. Os encantos das duas mais velhas eram mais do que comuns, mas a beleza da mais nova era tão extraordinária que a pobreza do vocabulário humano não é capaz de expressar um elogio apropriado.

A fama de sua beleza era tão grande que pessoas de outros lugares vizinhos iam, em multidão,para vê-la e prestar-lhe homenagens que somente à própria Vênus eram apropriadas.

De fato, os altares de Vênus estavam cada vez mais desertos,enquanto os homens voltavam sua atenção e devoção à jovem virgem.
Quando ela passava, as pessoas teciam elogios e espalhavam flores e guirlandas sobre o caminho.

Essa perversão de uma homenagem consagrada somente aos poderes imortais, para exaltação de uma jovem mortal, ofendeu Vênus profundamente.
Sacudindo suas divinas medeixas encaracoladas, com indignação, exclamou a deusa:

“Terei, porventura, de ser eclipsada em minhas honrarias por uma simples mortal?
Foi em vão que aquele pastor real, cujo julgamento foi aprovado pelo próprio Júpiter, me concedeu o pomo da beleza, sobre minhas ilustres rivais, Palas e Juno?
Contudo, essa jovem não usurpará minhas honras tão facilmente. Dar-lhe-ei um motivo para se arrepender dessa beleza ilícita.”

Então chamou seu filho alado, Cupido, travesso por natureza, e o provocou com suas reclamações. Apontou Psiquê e disse:

“Meu querido filho, quero que castigues aquela beldade insubordinada; conceda à tua mãe uma vingança tão doce quanto são amargosos os danos que têm me causado.
Infunde no peito daquela donzela insolente uma paixão por um ser desprezível, baixo e vil, para que colha, assim, uma mortificação tão grande quanto à glória e triunfo recebidos.”

Cupido preparou-se para obedecer às ordens de sua mãe.
Existiam duas fontes no jardim de Vênus, uma de águas doces e outra de águas amargas. Cupido encheu dois jarros de âmbar, cada qual com água de uma das fontes e, suspendendo-os no alto de sua aljava,saiu em disparada em direção ao quarto de Psiquê, a qual encontrou dormindo.
Então, derramou algumas gotas da água da fonte amarga nos lábios dela, embora ao vê-la ficasse condoído. Depois, tocou-a com a ponta de sua seta.
Ao sentir o toque, a jovem acordou, com o olhar na direção que cúpido se encontrava (embora este se fizesse invisível).
Cupido ficou tão surpreendido que, na sua confusão, feriu-se com sua própria seta. Descuidou-se do ferimento, pois agora seu único pensamento era reparar o mal que fizera. Assim, derramou algumas gotas aromáticas de alegria sobre todos os cachos dourados e sedosos da jovem.




Daquele momento em diante, Psiquê, desprezada por Vênus, não podia mais desfrutar de nenhum benefício de sua beleza.
É verdade que todos os olhares se voltavam para ela, e que todas as bocas elogiavam-lhe a beleza; mas nenhum rei, jovem da nobreza, ou mesmo plebeu apresentou-se para pedi-la em matrimônio.
Suas duas irmãs mais velhas, de beleza mais vulgar, há muito já tinham se casado com dois príncipes reais; mas Psiquê, sozinha nos seus aposentos, lastimava sua solidão, cansada de sua beleza que, embora provocasse abundância de bajulações, fracassava em despertar o amor.

Os pais da jovem, temerosos de que, involuntariamente, pudessem ter provocado a ira dos deuses, consultaram o oráculo de Apolo e receberam esta resposta:

“A virgem não está destinada a ser noiva de um mortal. Seu futuro marido a espera no topo da montanha.
É um monstro que nem deuses nem homens podem resistir”.

Essa tenebrosa sentença do oráculo encheu o povo de terror, e seus pais se entregaram ao desespero. Contudo, Psiquê disse:

“Meus queridos pais, por que lamentais minha sorte? Teria sido melhor que tivésseis lamentado quando o povo fazia chover sobre mim honrarias impróprias e, em uníssono, chamavam-me Vênus.
Agora percebo que sou vítima desse nome. Mas submeto-me. Levai-me até a montanha, onde o meu triste destino me espera”.

Assim, todas as coisas foram preparadas e a donzela tomou seu lugar no cortejo, que mais parecia um funeral do que um casamento, e juntamente com seus pais, em meio às lamentações do povo, subiu a montanha, onde a deixaram só , e com o coração pesaroso retornaram a casa.

Enquanto Psiquê permanecia no topo da montanha, ofegante e temerosa, com os olhos cheios de lágrimas, o gentil Zéfiro suspendeu-a da terra e a carregou com muita facilidadeaté um vale florido.





Pouco a pouco, acalmou seu espírito e deitou-se na relva para dormir.
Quando acordou, descansada pelo sono, olhou à sua volta e avistou um lindo bosque repleto de árvores majestosas. No centro desse bosque encontrou uma fonte de água pura e cristalina, e bem perto dali um palácio magnífico, cuja fachada imponente dava a impressão de que não era obra de mãos humanas, mas o recanto feliz de algum deus.
Tomada de admiração e encantamento, aproximou-se do local e aventurou-se a entrar. A cada objeto que encontrava, enchia-se de prazer e surpresa. Colunas de ouro suportavam o teto abobadado e as paredes eram enfeitadas com gravuras e pinturas representando animais de caça e cenários rurais, para o deleite dos olhos do apreciador.
Prosseguindo, a jovem percebeu que,além dos aposentos de luxo, havia outros, cheios de toda espécie de tesouro e preciosas produções da natureza e da arte.

Enquanto ocupava seus olhos, uma voz dirigiu-se a ela, embora não visse ninguém, dizendo estas palavras:

“Soberana senhora, tudo quanto vês é teu. Nós, cujas vozes escutas, somos teus criados e obedeceremos às tuas ordens com o máximo cuidado e diligência.
Retira-te, pois, aos teus aposentos e repousa em teu leito e, quando tiveres te refeito, poderás banhar-te.
A ceia te espera no aposento adjacente, quando achares conveniente ali te assentares”.

Psiquê ouviu os avisos dos seus criados invisíveis, e depois do repouso e de um banho refrescante, sentou-se no aposento adjacente, onde imediatamente apareceu uma mesa, sem nenhuma ajuda visível de qualquer criado ou serviçal. Sobre ela havia uma grande variedade das mais deliciosas iguarias e vinhos.
Seus ouvidos também foram presenteados com melodias tocadas por músicos invisíveis: um cantava e outro tocava alaúde, enquanto os demais formavam um coro harmonioso.




Psiquê ainda não tinha visto o esposo a ela destinado. Ele aparecia apenas durante a noite e fugia antes do dia clarear, mas suas manifestações eram tão repletas de amor que despertaram nela paixão semelhante.

Com freqüência a jovem implorava para que ficasse e a deixasse olhá-lo, mas ele não consentia. Muito pelo contrário, instruiu-apara que não tentasse vê-lo, pois era necessário que permanecesse escondido.

“Por que insistes em me ver?”, perguntava ele. “Duvidas do meu amor? Tem algum desejo que não lhe foi atendido? Se me visses, poderia temer-me, ou talvez me adorar, mas tudo que te peço é que me ames.
Prefiro que me ames como a um igual a me adorares como um deus”.




Esses argumentos de certa forma sossegaram Psiquê por algum tempo, e como aquilo tudo era novo para ela, sentia-se feliz. Mas, aos poucos, a lembrança dos pais, deixados na mais completa ignorância sobre seu destino, e o impedimento de compartilhar com as irmãs as delícias de sua situação, foi atormentando seu espírito, fazendo-a sentir que o palácio não passava de uma prisão esplêndida.

Ao anoitecer, quando o marido chegou, contou-lhe sobre suas angústias, e finalmente conseguiu dele o consentimento – ainda que contrariado – para que suas irmãs viessem visitá-la.

Então, chamou Zéfiro e transmitiu-lhe as ordens do marido; ele prontamente obedeceu, trazendo as irmãs de Psiquê até a montanha. Elas se abraçaram e trocaram carinhos.

“Vinde!”, disse Psiquê. “entrai em minha morada e desfrutais de tudo que posso oferecer”. Então, tomando-as pelas mãos, levou-as para o palácio de ouro, entregando-as aos cuidados de seus numerosos criados invisíveis para que se banhassem , comessem de sua comida e apreciassem seus tesouros.

A visão de todas aquelas delícias celestiais provocou muita inveja no coração das duas irmãs, pois constataram que a irmã mais nova possuía muito mais riquezas e bens do que elas.

Perguntaram-lhe muitas coisas, entre elas, que tipo de pessoa era o marido. Psiquê respondia que era um belo jovem que geralmente passava o dia caçando nas montanhas. As irmãs, não satisfeitas com essa resposta, em pouco tempo fizeram-na confessar que, na verdade, nunca tinha visto o marido. Começaram, então, a encher-lhe o coração de dúvidas e suspeitas:

“Lembra-te”, disseram, “ de que o oráculo pitiano declarou que teu destino era te casares com um terrível e abominável monstro.
Os habitantes deste vale dizem que teu marido é uma monstruosa serpente, que agora te alimenta com deliciosas iguarias para devorar-te mais tarde.
Siga nosso conselho: providencia uma lâmpada e uma faca afiada, coloca-as num lugar onde teu marido não possa encontrar, e, quando ele estiver dormindo profundamente, sai do teu leito, traze a tua lâmpada e vê com teus próprios olhos se o que foi dito é verdadeiro ou não. Se for, não hesites em decepar a cabeça do monstro e recuperar tua liberdade.




Psiquê tentou resistir a esses conselhos tanto quanto pôde, mas eles não falharam em afetar seu espírito e, depois que suas irmãs tinham partido, o que disseram e sua própria curiosidade foram fortes demais para resistir. Então, providenciou uma lâmpada e uma faca afiada, e as escondeu do marido. Quando ele adormeceu, a jovem silenciosamente levantou-se e aproximou a lâmpada para descobrir, não um monstro horripilante, mas o mais belo e encantador dos deuses, com cachos dourados a lhe cair sobre o pescoço alvo como a neve e sobre as faces coradas, e um par de asas orvalhadas nos ombros, mais brancas que a neve, e com penas reluzentes como as flores da primavera.
Assim que abaixou mais a lâmpada para apreciar mais de perto, uma gota de óleo quente caiu no ombro do deus, que, assustado, abriu os olhos e olhou para Psiquê.
Então, sem dizer uma palavra, abriu suas asas brancas e voou através da janela.

Psiquê, na tentativa vã de segui-lo, jogou-se pela janela e caiu no chão.
Cupido, observando-a estendida no solo,interrompeu seu vôo por um instante e disse:

“Ó tola Psiquê, é assim que retribuis meu amor?
Depois de ter desobedecido às ordens de minha mãe e fazer de ti minha esposa, tu me tomas por um monstro e tentas cortar-me a cabeça?
Vai, retorna para tuas irmãs, cujos conselhos pareces preferir aos meus.
Não lhe imponho nenhum outro castigo além de deixar-te para sempre.
Amor e desconfiança não podem conviver sob o mesmo teto”.

Assim dizendo, partiu,deixando a pobre Psiquê prostrada no chão a levantar-se.




Quando se sentiu uma pouca mais fortalecida, olhou à sua volta, mas o palácio e os jardins tinham desaparecido, e ela se viu num campo aberto não muito distante da cidade onde moravam suas irmãs. Foi até elas e lhes contou toda a história de suas desventuras, com a qual as criaturas despeitadas, fingindo grande tristeza, na verdade se deliciavam.
“Agora, talvez uma de nós seja escolhida por ele”, pensaram.
Com essa idéia em mente, e sem dizer uma palavra a respeito de suas intenções, cada uma delas se levantou bem cedo na manhã seguinte para ir até a montanha.
Ao chegarem ao cume, cada qual invocou Zéfiro para recebê-la e lavá-la ate o seu senhor.
Depois, lançaram-se no espaço, mas não foram sustentadas por ele, caindo no precipício e morrendo despedaçadas.

Enquanto isso, Psiquê vagava dia e noite, sem comida nem repouso, à procura do esposo.
Tendo avistado uma montanha majestosa, a qual tinha em seu cume um templo magnífico, suspirou e disse consigo mesma:

“Pode ser que o meu amor, o meu senhor, faça ali sua morada”.
E dirigiu-se até o templo.
Mal entrara, avistou montes de grãos, alguns ainda em espigas e outros em feixes, misturados com cevadas.
Espalhados ao redor, havia ancinhos e foices, e todos os demais instrumentos utilizados para colheita, em completa desordem, como se tivessem sido atirados descuidadamente pelas mãos exaustas de um ceifeiro, no mais abafado dos dias.

A zelosa Psiquê decidiu organizar aquela confusão, separando e colocando cada coisa em seu devido lugar.
Acreditava que não deveria negligenciar a nenhum dos deuses, mas esforçar-se para, com sua devoção, conseguir que intercedessem em seu benefício.

A sagrada Ceres, a quem pertencia aquele templo, vendo-a tão religiosamente ocupada, falou-lhe:

“Ó Psiquê, verdadeiramente merecedora de nossa piedade! Embora eu não possa proteger-te do desprezo de Vênus, posso ensinar-te a melhor maneira de abrandar sua ira.
Vai, portanto, e espontaneamente te entregues à tua senhora e soberana.
Tenta, através da humildade e submissão, angariar seu perdão.
Talvez ela te favoreça e te restitua o marido que perdeste”.

Psiquê obedeceu às ordens de Ceres, e seguiu para o templo de Vênus, esforçando-se por fortalecer seu espírito e pensando sobre o que deveria dizer e qual a melhor maneira de se reconciliar com a deusa irritada. Contudo, sentia que o desfecho era incerto, e provavelmente fatal.




Vênus recebeu-a com o semblante carregado, dizendo:

“Tu, a mais insubordinada e desleal das servas, lembra-te finalmente que tens uma senhora? Ou, talvez, vieste até aqui somente para ver teu marido moribundo, ainda convalescendo da ferida que lhe foi causada por sua amada esposa?
És, para mim, tão desfavorecida e tão repugnante, que a única maneira de recuperar teu amor será passando por uma prova, através da qual farei um julgamento das tuas habilidades domésticas”.

E ordenou que Psiquê fosse ao celeiro do templo, onde havia grande quantidade de trigo, cevada, milho, ervilha, feijão e lentilhas preparados para alimentação dos pombos, e disse:

“Separa todos esses grãos, colocando todos os da mesma espécie em montes separados, e trata de terminar antes que anoiteça”.

Então, Vênus partiu, deixando-a com sua tarefa.
Mas Psiquê, assustada diante da magnitude do trabalho, sentou-se paralisada e silenciosa, sem mover um dedo sequer para separar o emaranhado de grãos.






Enquanto estava sentada, em desespero, Cupido incitou uma pequena formiga, nativa dos campos, para que tivesse compaixão dela.
A líder do formigueiro, seguida de seus súditos de seis pernas, aproximou-se do monte de cereais, e com a máxima diligência, escolhendo grão por grão, separaram todos os cereais, colocando-os em pilhas distintas. E tão logo terminaram o serviço, desapareceram num instante.

Com a aproximação do crepúsculo, Vênus retornou da ceia dos deuses, exalando perfume e coroada de rosas. Vendo a tarefa terminada, exclamou:

“Infeliz! Esse trabalho não foi realizado por ti, mas por aquele a quem conquistaste, para infelicidade de ambos”.

Dizendo isso, atirou-lhe um pedaço de pão para a ceia e se retirou.

Na manhã seguinte, Vênus convocou a presença de Psiquê, e disse-lhe:

“Olha para aquele bosque que se estende ao longo da margem das águas do rio. Ali encontrarás ovelhas pastando sem pastor. Suas carcaças estão cobertas de lã reluzente como ouro. Traga-me amostras daquela lã preciosa, retiradas de cada uma das ovelhas”.

Psiquê, obedientemente, dirigiu-se à margem do rio, e preparava-se para executar a tarefa da melhor maneira possível. Contudo, o deus do rio inspirou aos juncos murmúrios harmoniosos que pareciam entoar:

“Ó donzela, tão severamente posta à prova, não te arrisques nessas águas perigosas nem te aventures por entre as formidáveis ovelhas da outra margem, pois que sofrem a influência do sol da manhã e padecem de raiva cruel, capaz de destruir os mortais com seus chifres aguçados e dentes rudes.
Mas quando o sol do meio-dia tiver conduzido todo o rebanho para a sombra, e o espírito sereno das águas acalentar para o descanso, então poderás atravessar em segurança, e encontrar a lã dourada agarrada aos arbustos e aos galhos das árvores”.

Assim, o compassivo deus do rio ordenou a jovem Psiquê para que ela não cumprisse sua tarefa.




Tendo seguido as instruções, logo retornou à Vênus com seus braços cheios de lã dourada. No entanto, não recebeu nenhuma aprovação de sua implacável senhora, que lhe disse:

“Sei muito bem que não foi por teus próprios méritos que conseguiste cumprir esta tarefa, e ainda não estou convencida de tua capacidade em se fazer útil. Mas tenho outro serviço para ti.
Pega esta caixa, vai até as sombras infernais e entregue-a a Prosérpina, dizendo:
‘Minha senhora, Vênus deseja que lhe mandeis um pouco de tua beleza, pois, cuidando de seu filho adoentado, perdeu um pouco da sua'. E não demores muito tempo, pois necessito disso para aparecer no círculo dos deuses e deusas esta noite”.

Psiquê agora estava certa de que sua destruição estava a caminho, sendo obrigada a ir com os próprios pés diretamente ao Érebo.
Assim, para não retardar aquilo que era inevitável, dirigiu-se ao topo de uma torre muito alta a fim de precipitar-se ao solo, de maneira a encurtar o caminho até as profundezas sombrias. Contudo, uma voz que vinha da torre, disse-lhe:

“Por que, pobre jovem desventurada, desejas por fim aos teus dias de maneira tão tenebrosa?
E por que a covardia faz recusar perante este último perigo quem tão milagrosamente suportou todos os outros?”

Em seguida, a voz lhe disse como poderia alcançar o reino de Plutão através de determinada gruta, e como evitar os perigos da estrada, passar por Cérbero, o cão de três cabeças, e convencer Caronte, o barqueiro, a atravessá-la pelo rio negro e trazê-la de volta. E a voz acrescentou:

“Quando Prosérpina te conceder a caixa contendo sua beleza, observa este conselho acima de todos: de modo algum abra a caixa ou permitas que tua curiosidade espie o tesouro de beleza das deusas”.




Psiquê, encorajada por estas palavras, observou todas as recomendações e viajou em segurança até o reino de Plutão. Chegando lá, foi recebida no palácio de Propsérpina e, sem aceitar o delicado assento ou o delicioso banquete que lhe foi oferecido, apenas contentando-se com pão duro para alimentar-se, transmitiu a mensagem de Vênus.
Não demorou muito para que a caixa lhe fosse entregue, fechada e cheia do precioso tesouro. Então, a jovem regressou pelo mesmo caminho pelo qual viera, e ficou muito feliz por deixar as sombras e estar de volta à claridade do dia.

Porém, após ter passado com sucesso por tantos perigos, veio-lhe um desejo imenso de examinar o conteúdo da caixa, o que a fez exclamar:

“Por que não poderei eu, que transporto a beleza divina, tirar um pouco dela para colocar em minhas faces e parecer mais bela aos olhos de meu amado esposo?”

Então, abriu cuidadosamente a caixa, mas ali não encontrou beleza alguma, apenas um infernal e verdadeiro sono estígio, que, libertando-se de seu aprisionamento, apoderou-se dela, derrubando-a no meio da estrada e deixando-a imóvel e sem sentidos, como um cadáver.




Cupido, porém, já recuperado de suas feridas, e não suportando mais a ausência de sua amada Psiquê, saiu pela fresta da janela de seu quarto, que, por acaso, fora deixada aberta, voou até o lugar onde Psiquê se encontrava desacordada e, retirando o sono de seu corpo, fechou-o de novo na caixa e a acordou com o ligeiro toque de uma de suas setas.

“Mais uma vez”, disse ele, “quase pareceste pela mesma curiosidade.
Mas agora cumpre exatamente a tarefa imposta a ti por minha mãe, que eu vou tomar conta do resto”.

Então, Cupido, mais rápido que um raio penetrando as alturas celestiais, apresentou-se perante Júpiter com sua súplica.
Júpiter ouviu-o e defendeu a causa dos amantes tão veementemente junto a Vênus, que ganhou dela a aprovação. Uma vez conseguido isso, enviou Mercúrio para trazer Psiquê até a assembléia celestial e, quando ela chegou, entregou-lhe uma taça de ambrosia, dizendo:

“Bebe isso, Psiquê, e sê imortal! Cupido jamais rompera os laços aos quais já se encontra atado.
E que essas núpcias sejam eternas”.

Assim, finalmente, Psiquê uniu-se a Cupido e, em tempo devido, tiveram uma filha a quem deram o nome de Prazer.






A fábula de Cupido e Psiquê é normalmente considerada alegórica.
Psiquê, em grego, significa borboleta e também alma.
Não existe uma ilustração sobre a imortalidade da alma tão admirável e bela como a de uma borboleta, criando asas resplandecentes e libertando-se do túmulo, onde estivera enclausurada, depois de uma enfadonha e rastejante existência como lagarta, para voar no resplendor do dia e alimentar-se das mais perfumadas e delicadas produções da primavera.
Psiquê é, portanto, a alma humana, a qual é purificada pelos sofrimentos, preparando-se, dessa forma, para desfrutar de pura e verdadeira realização.






Nas obras de arte, Psiquê é representada como uma donzela com asas de borboleta, ao lado de Cupido, nas diferentes situações descritas pela alegoria.

Milton alude à história de Cupido e Psiquê na conclusão de seu Comus:

Cupido celestial, seu famoso filho, avançou
E segura sua querida Psiquê, docemente extasiada,
Depois de longas tarefas,
Até que entre os deuses consegue apoio
Para torná-la sua eterna noiva;
E dos seus imaculados e brancos quadris
Nascem dois belos gêmeos,
Juventude e Alegria; assim quis Jove.





A alegoria da história de Cupido e Psiquê é muito bem apresentada nos belos versos de T. K. Harvey:

Contavam brilhantes fábulas nos dias do passado,
Quando a razão pedia emprestada asas à Imaginação;
Quando o rio límpido da verdade corria sobre areias áureas.
E cantava suas coisas grandes e místicas
Tais como a doce e solene história daquela
De coração peregrino, a quemfoi dado um sonho,
Que a levouatravés do mundo – venerada do Amor
Procurando na terra aquele cujo lar era no céu!

Na cidade apinhada – ao lado da fonte ensombreada
Nas escuras grutas cheias de teias
No meio de templos de pinho, nos montes ao luar,
Onde o silêncio descansa para escutar as estrelas;
Nas profundasclareiras onde habitam os pombos,
No vale encantador, no ar perfumado,
Ela ouviu os ecos distantes da voz do Amor
E encontrava suas pegadas por toda parte.

Mas jamais se encontravam! Então, dúvida e medo,
Essas formas fantasmagóricas, que assustam e amedrontam o mundo,
Interpuseram-se entre ela, filha de lágrimas e pecado,
E aquele brilhante espírito imortal;
Até que sua sofredora alma e seus lacrimosos olhos,
Aprenderam a procurá-lo no firmamento só.
E assim ficou noiva angélica do Amor no céu!





A história de Cupido e Psiquê apareceu pela primeira vez nas obras de Apuleio, escritor do segundo século de nossa era.
É, portanto, uma lenda muito mais recente que a maioria das outras lendas da Idade da Fábula. É sobre isso que Keats se refere em sua Ode a Psiquê:

Oh! Mais bela e recém-nascida das visões,
Dentre todas da hierarquia murcha de Olimpo!
Mais bela que a estrela de Febo, na região de safira,
Ou Vésper, o amoroso pirilampo do firmamento;
Mais bela que qualquer desses, embora templo não tenha nenhum,
Nem altar cheio de flores;
Nem coros de virgens, para entoar deliciosos gemidos
Nas horas da meia-noite;
Nem voz, nem flauta, nem siringes ou doce incenso
Do turíbulo balouçado por correntes;
Nem santuário, ou pomar, ou oráculo, ou ardor,
De algum profeta de lábios pálidos sonhando.





Moore, em Festa de Verão, descreve um baile à fantasia, no qual um dos personagens representados é Psiquê:

... não em negro disfarce, esta noite,
Nossa heroína mascarou sua beleza;
Pois vejam: está na terra, a amada do Amor.
Sua noiva com quem se casou por laços sagrados,
Jurados no Olimpo e dados a conhecer
Aos mortais por esse símbolo que agora
Está pendurado na sua testa,
Essa borboleta, jóia misteriosa
Que significa alma (embora poucos o pensassem),
E brilhando assim naquela testa tão alva
A mostrar que temos Psiquê aqui, esta noite.







In o Livro de Ouro da Mitologia, Thomas Bulfinch

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No amor, nem sempre são as faltas o que mais nos prejudica, mas sim a maneira como procedemos depois de as ter cometido. "Oví­dio"