Psy

"Só algumas pessoas escolhidas pela fatalidade do acaso provaram da liberdade esquiva e delicada da vida" "Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa, ou forte como uma ventania, depende de quando e como você me vê passar" "Clarice Lispector"

17.1.09


O Livro das Perguntas
Gregory Stock, Ph.D





Geralmente as pessoas não se empolgam muito com os temas de suas conversas, não é? Pois experimente as perguntas expostas aqui e veja o que acontece. Comece com questões mais difíceis, aquelas que você nunca teve coragem de colocar a alguém, inclusive a si mesmo.

Estamos sempre evitando perguntas incomuns ou indiretas, quando justamente essas é que podem abrir caminho para a compreensão e a intimidade. Mas quando uma pessoa encontra quem a questione, porque deseja sinceramente conhecer sua opinião, não ficará constrangida. Ao contrario, gostará de abordar os temas importantes que volta e meia a preocupam.

Estas perguntas são uma forma agradável de descobrir mais sobre você e outras pessoas. Servem ainda para confrontar, não na teoria, mas na prática, grandes dilemas morais. Para respondê-los, você precisará rever seu passado, projetar-se a situações hipotéticas, encarar alternativas difíceis e fazer escolhas dolorosas. Com estas perguntas você poderá abrir caminho para seu crescimento pessoal, aprofundar amizades e relações sociais, conhecer mais rapidamente a personalidade de alguém ou simplesmente criar um agradável passatempo.

As respostas às perguntas não são certas ou erradas. Apenas honestas ou desonestas. Você pode realmente saber o que fará em uma situação hipotética e desconhecida? Certamente, não, mas por que evitá-la? Você tem aqui uma boa chance de ampliar sua visão interior sem precisar passar pela experiência. Procure se envolver ao máximo com as situações apresentadas para que as respostas reflitam realmente o que pensa. Resista à tentação de fugir a uma pergunta, negando sua realidade ou levantando objeções à sua compreensão. Não importa se as hipóteses são absurdas e se poderes mágicos não existem. Parta do principio de que as condições descritas são reais, as vantagens são verdadeiras e as promessas serão cumpridas. Isso é fundamental para a conscientização de suas respostas.
Não responda simplesmente “sim” ou “não”. Reflita e tire conclusões, procure novas hipóteses para a questão. Use-a como ponto de partida e solte sua imaginação.




1
Por um grande amor, você seria capaz de mudar para um pais distante, mesmo sabendo que dificilmente tornaria a rever sua própria família e amigos?

2
Você acredita em fantasmas ou espíritos maus? Concordaria em passar uma noite, inteiramente só, numa casa isolada e com fama de mal assombrada?

3
Se você fosse morrer esta noite e não tivesse a menor chance de se comunicar com ninguém, o que mais lamentaria não ter dito a alguém? Por que não disse até agora?

4
Você aceitaria viver um ano de sua vida na mais completa felicidade, se depois não lhe restasse qualquer lembrança dessa experiência? Se a sua resposta é não, diga por que.

4.1
O que é mais importante: a experiência real ou as lembranças deixadas pela experiência que já passou?

5
Descobriram um novo medicamento capaz de curar artrite. Mas que, em compensação, pode causar uma reação fatal em 1 por cento das pessoas que o tomarem. Se estivesse em suas mãos liberar o produto para o público, você o faria?

6
Você descobre que seu adorado filho de 1 ano de idade foi trocado na maternidade e não é realmente seu. Trocaria essa criança pelo filho verdadeiro?

7
Você acha que o mundo, daqui a cem anos, será melhor ou pior do que é agora?

8
O que você preferiria: ser membro de uma equipe esportiva campeã. Ou campeão de algum esporte individual? Qual esporte escolheria?

9
Se alguém lhe oferecesse 1 milhão de dólares para deixar o pais e nunca mais voltar, você aceitaria?

9.1
Se fosse expulso do pais e tivesse poucos recursos financeiros, onde tentaria reconstruir sua vida?

10
Em sua opinião, em nossa sociedade, a vida é mais fácil para o homem ou para a mulher? Alguma vez já desejou ser do sexo oposto?

11
Você adquire o poder de matar pessoas simplesmente pensando nelas e repetindo duas vezes a palavra “adeus”. Suas vitimas terão morte natural e ninguém suspeitará de nada. Existe alguma situação em que usaria este poder?

11.1
Você pode se imaginar matando alguém por meios indiretos? E se tivesse que olhar a pessoa nos olhos e golpeá-la até a morte? Alguma vez desejou realmente matar alguém ou que alguém morresse?

12
Se você pudesse viver até 90 anos e conservar ou o corpo ou a mente dos 30 para os últimos sessenta anos de sua vida, o que escolheria? Mente ou corpo?

13
O que é, em sua opinião, uma noite perfeita?

14
O que você escolheria: ter o mais absoluto sucesso profissional e uma vida pessoal tolerável. Ou uma vida pessoal extremamente feliz e a profissional apenas regular?

14.1
Já que tanta gente diz preferir uma vida particular feliz, por que acha que se empenham muito mais na carreira profissional?
Se diz que considera a vida particular mais importante, seu comportamento confirma isso? Será que não está apenas evitando admitir o quanto o trabalho o satisfaz? Você faz do trabalho um substituto? Espera que o sucesso profissional, de alguma forma mágica, o leve à felicidade pessoal?

15
Qual a pessoa que você mais admira? Até que ponto ela serve de modelo para sua própria vida?

16
Se na hora do nascimento do seu filho você pudesse escolher a futura profissão dele, você o faria?

17
Você aceitaria transformar-se numa pessoa muito feia fisicamente em troca de viver mil anos, conservando o corpo e a mente com a idade que quisesse?

17.1
Você trata as pessoas de acordo com a aparência física?
Se um acidente o tornasse muito menos atraente do que é, isso afetaria sua vida? A questão da imortalidade o preocupa? Qual a idade ideal para você?

18
Se você pudesse acordar amanhã com uma nova qualidade ou habilidade que não tem hoje, qual escolheria?

19
Você tem a chance de conhecer uma pessoa com quem poderá viver um maravilhoso caso de amor. Mas sabe que, em seis meses, ela irá morrer. Mesmo assim gostaria de conhecê-la e apaixonar-se? E se soubesse que essa pessoa não iria morrer, mas, ao invés disso, trair você?

19.1
No amor, o que acha mais importante: a intensidade ou a segurança? O que espera de alguém que o ama? O que o faria sentir-se traído pelo seu amor: indiferença, mentira ou infidelidade?

20
Sendo muito rico e sabendo que, depois de sua morte, sua herança poderia ser usada em beneficio de toda a humanidade, você mudaria seu testamento deixando apenas uma pequena parte para sua família?


21
Você prefere a companhia de homens ou mulheres? Seus amigos mais íntimos costumam sero do sexo masculino ou feminino?

22
Se tivesse que fazer um “despacho” para prejudicar alguém, você o faria?

23
Durante uma viagem, a pessoa que você ama conhece e passa uma noite com alguém muito atraente. Eles nunca mais se encontrarão e você só ficará sabendo do caso se o seu amor lhe contar. Você gostaria de saber? Se os papéis se invertessem, você contaria?

23.1
Até que ponto um caso com outra pessoa precisa ser sério para você preferir que seu amor lhe conte? Por que uma confissão dessas é tão ameaçadora que a maioria das pessoas prefere não ficar sabendo? Esse tipo de honestidade poderá ser destrutiva ou criar maior intimidade e confiança entre os parceiros? Até que ponto você confia em seu amor? Até onde pode-se confiar em você?

24
Há pessoas que você inveja a ponto de querer trocar de vida com eles? Quem são?

25
Por uma semana de férias em qualquer lugar do mundo, com todas as despesas pagas, você mataria uma linda borboleta arrancando suas asas? E se tivesse que pisar em uma barata viva?

25.1
Por que uma pessoa bonita merece mais consideração do que uma feia? Estamos nos prejudicando psicologicamente quando destruímos coisas que consideramos bonitas? Existe uma grande diferença entre arrancar as asas de um inseto e pisar nele? A decisão de como matar um ser vivo é menos importante do que a de matar ou não?

26
Você seria capaz de assassinar uma pessoa inocente se esta fosse a condição para acabar com a fome no mundo?

26.1
O que faria você sofrer mais: ser responsável pela morte de uma pessoa inocente ou saber que deixou milhões de pessoas morrerem? O que pensa de pessoas que tomam grandes decisões contrariando seus princípios? Há muita gente disposta a sacrificar sua própria vida, mas é incapaz de matar alguém. Há alguma coisa pela qual você seria capaz de sacrificar tudo, até sua alma?

27
Se Deus aparecesse em seus sonhos e dissesse para você abandonar tudo, seguir para o mar Vermelho e se transformar num pescador, o que faria? E se Deus pedisse para sacrificar um filho?

28
Qual a sua melhor recordação?

29
Você já odiou alguém? Em caso afirmativo, por que e por quanto tempo?

30
Você preferiria receber 10 mil dólares para seu próprio uso ou 100 mil dólares para distribuir a pessoas que não conhece? E se essas quantias mudassem para 1 milhão de dólares para você contra 20 milhões para os outros?

31
Se soubesse que haveria uma guerra nuclear dentro de uma semana, o que você faria?

32
Você aceitaria viver vinte anos na mais extraordinária felicidade se isto significasse morrer no fim deste período?

33
Qual a maior realização de sua vida? Existe algo que espera fazer que seja ainda melhor?

34
Qual foi seu melhor sonho? E seu pior pesadelo?

35
Você daria metade do que possui para ter uma pílula que com apenas uma hora de sono por dia o fizesse rejuvenescer?

35.1
Você acha que tem muito tempo pela frente? Em caso negativo, pó quê? Até que ponto a idade mudou sua atitude com relação ao tempo?

36
Se soubesse que, dedicando-se a qualquer atividade – música, literatura, negócios, política, medicina, etc. – estaria entre as melhores e mais bem sucedidas pessoas do mundo, qual você escolheria? E se tivesse apenas 10 por cento de probabilidade, você faria a mesma escolha?

37
Qual foi sua melhor experiência com drogas ou álcool? E a pior?

38
Num jantar, é servido um prato que você não conhece. O aspecto é estranho e nada apetitoso. Mesmo assim você o provaria?

39
Seus amigos mais íntimos são sempre mais velhos ou mais jovens do que você?

39.1
Com que tipo de pessoa gosta de passar seu tempo? O que essas pessoas despertam em você e as outras não? O que se pode aprender sobre você apenas observando seus amigos?

40
Se a pessoa com quem vai casar sofresse um acidente e não pudesse mais andar, você continuaria com ela ou desistiria do casamento?

41
Sua casa, com tudo o que lhe pertence, pega fogo. Depois de salvar seus entes queridos, ainda há tempo de, sem risco, buscar mais alguma coisa. O que seria?

42
Como reagiria se soubesse que a pessoa que você ama já teve um caso com alguém do mesmo sexo?

42.1
Já se sentiu sexualmente atraído por uma pessoa do mesmo sexo? Por alguém de sua família? Em caso positivo, como lidou com isso?

43
Quando foi a última vez que participou de uma briga? O que a provocou e quem ganhou?

44
A seguinte situação pode lhe render 1 milhão de dólares. À sua frente estão dez revólveres. Apenas um deles está carregado. Você deve escolher um, apontá-lo para a testa e puxar o gatilho. Se você sair dessa, estará milionário. Correria o risco?

45
Alguém que você quer muito bem está doente, sofrendo muito e só terá um mês de vida. Essa pessoa lhe suplica que apresse sua morte. Você atenderia ao apelo? E se fosse seu pai?

45.1
Concorda que seja ilegal ajudar um doente terminal a morrer? Se alguém não está morrendo, mas sofrendo muito, você acha que deveria ser permitido que se suicidasse? E se a dor for mais emocional do que física?

46
Qual foi a última vez que cantarolou para você mesmo? E para outra pessoa?

47
Você tem a oportunidade de viajar para qualquer época do futuro. E depois de um ano voltar ao presente com todos os conhecimentos experiências lá vividos. Você faria essa viagem se houvesse 50 por cento de possibilidade de perder a vida?

48

Se pudesse escolher qualquer pessoa do mundo, quem você gostaria de ter como convidado para jantar? E como melhor amigo? E como amante?

48.1
O que você procura nos amigos, mas não espera nem quer na pessoa amada? Você se envolve com pessoas saudáveis?

49
É tarde da noite e seu carro raspa levemente a lateral de um Porsche estacionado. Você tem certeza de que ninguém viu. O dano é pequeno e não será coberto pelo seguro. Você deixaria um bilhete com seu telefone no pára-brisa do carro?

50
Se pudesse escolher sua forma de morrer, como seria?

50.1
Você prefere morrer como herói, como mártir de uma grande causa, numa catástrofe natural ou placidamente? Por que desejamos que a morte nos surpreenda enquanto dormimos? Como seus sentimentos sobre a morte influenciam sua maneira de viver?

51
Você tem objetivos a serem atingidos a longo prazo? Cite um deles e como pretende alcançá-los.

51.1
Com que freqüência analisa sua vida e os rumos que ela está tomando? Sob que aspecto a conquista de suas metas tornam sua vida mais satisfatória?

52
Qual a coisa que mais gratifica você na vida?

53
Como você reage quando as pessoas cantam “Parabéns a você” num restaurante?

54
Qual a tortura psicológica que mais faria você sofrer? Não considere danos físicos, mesmo que sejam mínimos.

55
Você se importaria se a pessoa que ama fosse mais inteligente e atraente do que você?

56
Se descobrisse que um grande amigo seu está com AIDS, você o evitaria? E se fosse seu irmão ou irmã?

57
Você estaria disposto a desistir de sexo durante um ano se isso lhe trouxesse uma sensação de paz muito maior do que sente agora?

58
Um amigo faz uma brincadeira atingindo seus pontos fracos e coloca você em situação ridícula. Como você reage?

58.1
Até que ponto perdoa pessoas amigas que decepcionam você?

59
Você controla um centro de pesquisas médicas e pode garantir que nos próximos quinze anos será descoberta a cura para qualquer doença à sua escolha. Só que, infelizmente, durante esse período seriam suspensas as pesquisas sobre outras doenças. Qual escolheria para ser curada.

60
Você acrescentaria um ano à sua vida se, em troca, tivesse de tirar um ano de vida de alguém escolhido ao acaso no mundo? Faria diferença se lhe dissessem de quem seria a vida encurtada?

61
Você tem coragem de fazer xixi na frente de outras pessoas?

62
Se, ao sair de casa pela manhã, você visse um passarinho com uma asa quebrada debatendo-se num arbusto, o que faria?

63
Imagine um novo veículo em que se possa viajar de um continente a outro de forma tão rápida e econômica quanto entre cidades próximas, infelizmente, a nossa descoberta causaria também a morte de 100 mil pessoas por ano. Você tentaria impedir sua utilização?

63.1
Se, em meados de 1800, você pudesse olhar para o futuro e ver que o automóvel iria causar 5 milhões de mortes no século seguinte, como teria se sentindo sobre esse novo invento? Existe alguma descoberta científica que seria melhor não acontecer? Neste caso, que áreas de pesquisa deveriam ser proibidas?

64
Você e a pessoa a quem ama são colocados em quartos separados, tendo um botão ao lado de cada um. Ambos morrerão a não ser que um de vocês aperte o botão nos próximos sessenta minutos. Só que o primeiro que apertar o botão salvará o outro, mas morrerá imediatamente. O que você faria?

65
Quando você conta um fato, geralmente exagera ou tenta embelezá-lo? Em caso positivo, por quê?

66
Você acha que o conselho de uma pessoa idosa deve ser levado a sério porque ela é mais experiente?

66.1
Seus comentários e sugestões costumam ter muita influência sobre os outros? O que poderia fazer para que suas idéias tivessem mais impacto?

67
Se não doar um de seus rins para transplante, uma pessoa que você quer muito bem poderá morrer dentro de um mês. Há 50 por cento de chance de que você não sobreviva. Mas, se sobreviver, terá uma vida perfeitamente normal. Você faria a doação?

67.1
Arriscaria sua vida em beneficio de um conhecido, por obrigação ou por amor? Faria diferença se pudesse recusar, caso ninguém viesse a saber? E se a pessoa em perigo pedisse para você não se arriscar?

68
Alguma vez a sua vida já mudou completamente por fatores externos e sem que você houvesse previsto? Até que ponto você acha que controla sua vida?

68.1
Ficar pensando que controla seu próprio destino faz você se sentir com mais poder perante a vida?

69
Um amigo seu está sempre atrasado para os encontros. Você se aborrece ou encara normalmente? Você é do tipo pontuial?

70
Qual foi a última vez que gritou com alguém? Por quê? Depois você se arrependeu?

71
Você aceitaria ter pesadelos horríveis todas as noites, durante um ano, se como recompensa ficasse milionário?

71.1
Se, para deixar de ter insônias e um pesadelo por mês, tivesse que mudar de emprego ou reduzir seu salário em 25 por cento, você o faria? Existe alguma coisa pior do que um tenebroso pesadelo?

72
Se durante cinco anos você pudesse ter, de graça, um desses serviços, qual escolheria: cozinheira, motorista, empregada doméstica, massagista ou secretária particular?

73
Teria coragem de ir a um matadouro abater uma vaca? Você come carne?

74
Gostaria de passar um mês absolutamente sozinho em um lugar de grande beleza natural? Teria comida e abrigo, mas não veria ninguém.

75
Depois de um exame de laboratório, seu médico telefona e diz que você tem um tipo raro de câncer e apenas poucos meses de vida. Cinco dias depois, ele informa que os exames de laboratório foram trocados e sua saúde está perfeita. Durante esses dias, porém, você teve de encarar a proximidade da morte. Certamente pôde refletir como nunca sobre seus valores e ter uma nova visão da vida. Você acha que isso valeu o sofrimento por que passou?

76
Em uma tarde muito quente, você passa no estacionamento de um shopping center e vê um cachorro trancado dentro de um carro. Percebe que ele está sofrendo muito por causa do calor. O que faria?

77
Você se sente pouco à vontade quando vai a um restaurante ou no cinema sozinho? E ao sair de férias?

78
Se soubesse que dentro de um ano iria morrer de repente, você mudaria alguma coisa no seu modo de vida atual?

79
Por 20 mil dólares você aceitaria passar três meses sem tomar banho, escovar os dentes ou usar desodorante? Leve em conta que não poderia explicar o motivo a ninguém e nem deixar suas atividades normais durante esse período.

156
Em um avião, você está batendo um papo agradável com uma pessoa estranha e nada atraente. De repente, ela lhe oferece 10 mil dólares por uma noite de sexo. Sabendo que não corre nenhum risco e que realmente receberá o dinheiro, você aceitaria?



156.1
Já que tanta gente concorda em fazer sexo por dinheiro, por que há tanto preconceito contra a prostituição? Há grande diferença entre fazer sexo por dinheiro e fazer sexo na segurança de receber algum benefício futuro? A quantia paga altera a natureza da transação?

79.1
Como reagiria se soubesse que mais pessoas estão dispostas a fazer sexo por dinheiro (pergunta 156) do que deixar de tomar banho? Um século atrás não seria assim. Você acha que nossa atitude mais permissiva em relação ao sexo é uma saudável conquista? O que dizer de nossa maior preocupação com a higiene pessoal? Qual a responsabilidade da propaganda nessas mudanças?

80
Você prefere morrer tranquilamente entre seus entes queridos aos 50 anos, ou sofrendo sozinho aos 80? Considere que a maior parte de seus últimos trinta anos seriam bons.


81
Se de repente você descobrisse que seu melhor amigo é traficante de drogas, o que faria?

82
É fácil você aceitar ajuda quando precisa? Se precisar, você pede ajuda?

83
Vai haver um espetáculo beneficente. Alguém diz que doará uma grande importância em dinheiro, se você fizer um número no show. Você concordaria? Em caso positivo, o que apresentaria? Imagine que terá um público de cerca de mil pessoas.

84
Você concordaria em amputar um dedo de sua mão se isso lhe garantisse imunidade a todas as doenças graves?

85
Você gostaria de ser famoso? De que forma?

86
Como você imagina seu enterro? É importante para você que as pessoas chorem sua morte?

86.1
Como gostaria de ser lembrado depois da morte? O que gostaria que fosse dito no enterro? Quem gostaria que falasse?

87
Qual das duas imposições você aceitaria mais facilmente: deixar o pais para sempre ou nunca sair do lugar de onde vive?

88
Você, seu melhor amigo e seu pai estão passando as férias juntos e atravessam uma floresta distante. Seus dois companheiros pisam em um ninho de cobras venenosas e são atacados. Você sabe que nenhum deles viverá sem a aplicação imediata de soro antiofídico. Mas só há uma dose e está em seu bolso. O que você faria

89
Numa escala de 1 a 10, onde 1 significa muito trabalho, luta e grandes realizações, e 10 significa conforto, paz de espírito e nenhuma realização, onde você se posiciona? Por quê? Que lugar ocupa agora?

90
Se pudesse escolher o sexo e a aparência física do bebê que vai nascer, você o faria?

90.1
Você gostaria de ter um filho muito mais inteligente e atraente do que você? Que dificuldades isso provocaria? Quanto sofreria por ter um filho feio, bronco ou defeituoso? Para garantir um filho inteligente, bonito e saudável, você usaria um recurso médico seguro que alterasse geneticamente o desenvolvimento do embrião? Uma criança assim programada lhe daria a sensação de ser seu filho?

91
Você prefere disputar uma partida de qualquer jogo com um adversário mais forte ou mais fraco do que você? Faria diferença quem estivesse assistindo?

92
Existe algo que você sonha fazer há muito tempo? Por que ainda não fez?

92.1
O que é melhor: ter sonhos que nunca se realizarão ou não ter sonho algum? Sua vida seria bem melhor se o que sonha ter ou fazer se tornasse realidade?

93
Se um disco voador aparecesse e os extraterrestres o convidassem para viver cinco anos em seu planeta, você iria? E se, ao invés disso, eles o forçassem a acompanhá-los, permitindo apenas que levasse um baú com tudo o que quisesse? O que você colocaria lá dentro?

94
Você é abordado na rua por um estranho bem vestido. Ele diz que perdeu a carteira e lhe pede dinheiro para tomar um ônibus e dar um telefonema. O que você faria? E se fosse abordado por uma pessoa mal vestida que diz estar desempregada e com fome, agiria da mesma forma?

95
Você seria capaz de sacrificar sua vida em benefício da humanidade, se o seu gesto fosse mundialmente reconhecido e aclamado? Em caso positivo, faria o mesmo sacrifício se alguém de quem não gosta recebesse todas as honrarias e você ficasse no anonimato?

96
Num jogo você tem 50 por cento de chance de ganhar e, se ganhar, receberá dez vezes o que apostou. Quanto do que possui agora estaria disposto a arriscar?

97
Quais são seus maiores vícios? Você costuma tentar livrar-se deles?

98
Você sabe que dentro de três meses morrerá de uma doença incurável. Permitiria que o congelassem se houvesse uma pequena possibilidade de reviver após mil anos e prolongar sua vida?


99
Tarde da noite, você está dirigindo num bairro seguro, mas deserto. De repente um cachorro surge na frente de seu carro. Apesar de frear rapidamente, você o atropela. Pararia para verificar o estado do animal? Se parasse e visse que o cachorro está morto, mas tem uma coleira de identificação, entraria em contato com o dono?

100
Qual sua maior ambição na vida? Realização, segurança, amor, poder, diversão, cultura ou o quê?

15.1.09







Acordei com os primeiros pássaros, já minha lâmpada morria.
Fui até à janela aberta e sentei-me, com uma grinalda fresca
nos cabelos desatados...
Ele vinha pelo caminho na névoa cor de rosa da manhã.
Trazia ao pescoço uma cadeia de pérolas e o sol batia-lhe na fronte.
Parou à minha porta e disse-me ansioso:
— Onde está ela? Tive vergonha de lhe dizer:
— Sou eu, belo caminhante, sou eu.





Anoitecia e ainda não tinham acendido as luzes.
Eu atava o cabelo, desconsolada.
Ele chegava no seu carro todo vermelho, aceso pelo sol poente.
Trazia o fato cheio de poeira.
Fervia a espuma na boca anelante dos seus cavalos...
Desceu à minha porta e disse-me com voz cansada:
— Onde está ela? Tive vergonha de lhe dizer:
— Sou eu, fatigado caminhante, sou eu.





Noite de Abril.
A lâmpada arde neste meu quarto que a brisa do Sul enche suavemente.
O papagaio palrador dorme na sua gaiola.
O meu vestido é azul como o pescoço dum pavão,
e o manto verde como a erva nova.
Sentada no chão, perto da janela, olho a rua deserta ...
Passa a noite escura e não me canso de cantar:
— Sou eu, caminhante sem esperança, sou eu.

Rabindranath Tagore, in "O Coração da Primavera"





Damos, muitas vezes, nomes diferentes às coisas:
O que para mim são espinhos,
vós chamais-lhe rosas


Corneille , Pierre

O que é que há,
pois, num nome?
Aquilo a que
chamamos rosa,
mesmo com outro
nome, cheiraria
igualmente bem

Shakespeare, William

9.1.09


Imagem Christian Coigny




Minha alma tem o peso da luz.
Tem o peso da música.
Tem o peso da palavra nunca dita,
prestes quem sabe a ser dita.

Tem o peso de uma lembrança.
Tem o peso de uma saudade.
Tem o peso de um olhar.
Pesa como pesa uma ausência.
E a lágrima que não se chorou.
Tem o imaterial peso da solidão
no meio de outros."
"Clarice Lispector"

8.1.09



Léon Denis

O Porquê da Vida



II Os problemas da existência


O que importa ao homem saber, acima de tudo, é: o que ele é, de onde vem, para onde vai, qual o seu destino.

As idéias que fazemos do universo e de suas leis, da função que cada um deve exercer sobre este vasto teatro, são de uma importância capital. Por elas dirigimos nossos atos.
Consultando-as, estabelecemos um objetivo em nossas vidas e para ele caminhamos. Nisso está a base, o que verdadeiramente motiva toda civilização. Tão superficial é seu ideal, quanto superficial é o homem. Para as coletividades, como para o indivíduo, é a concepção do mundo e da vida que determina os deveres, fixa o caminho a seguir e as resoluções a adotar. Mas, como dissemos, a dificuldade em resolver esses problemas, muito freqüentemente, nos faz rejeitá-los.

A opinião da grande maioria é vacilante e indecisa, seus atos e caracteres disso sofrem a conseqüência. É o mal da época, a causa da perturbação à qual se mantém presa.


Tem-se o instinto do progresso, pode-se caminhar mas, para chegar aonde? É nisto que não se pensa o bastante.

O homem, ignorante de seus destinos, é semelhante a um viajante que percorre maquinalmente um caminho sem conhecer o ponto de partida nem o de chegada, sem saber porque viaja e que, por conseguinte, está sempre disposto a parar ao menor obstáculo, perdendo tempo e descuidando-se do objetivo a atingir.

A insuficiência e obscuridade das doutrinas religiosas e os abusos que têm engendrado, lançam numerosos espíritos ao materialismo.

Crê-se, voluntariamente, que tudo acaba com a morte, que o homem não tem outro destino senão o de se esvanecer no nada.
Demonstraremos a seguir como esta maneira de ver está em oposição flagrante à experiência e à razão. Digamos, desde já, que está destituída de toda noção de justiça e progresso.

Se a vida estivesse circunscrita ao período que vai do berço à tumba, se as perspectivas da imortalidade não viessem esclarecer sua existência, o homem não teria outra lei senão a de seus instintos, apetites e gozos. Pouco importaria que amasse o bem e a eqüidade. Se não faz senão aparecer e desaparecer nesse mundo, se traz consigo o esquecimento de suas esperanças e afeições, sofreria tanto mais quanto mais puras e mais elevadas fossem suas aspirações; amando a justiça, soldado do direito, acreditar-se-ia condenado a quase nunca ver sua realização; apaixonado pelo progresso, sensível aos males de seus semelhantes, imaginaria que se extinguiria antes de ver triunfarem seus princípios. Com a perspectiva do nada, quanto mais tivesse praticado o devotamento e a justiça, mais sua vida seria fértil em amarguras e decepções.


O egoísmo, bem compreendido, seria a suprema sabedoria; a existência perderia toda sua grandeza e dignidade. As mais nobres faculdades e as mais generosas tendências do espírito humano terminariam por se dobrar e extinguir inteiramente. A negação da vida futura suprime também toda sanção moral. Com ela, quer sejam bons ou maus, criminosos ou sublimes, todos os atos levariam aos mesmos resultados. Não haveria compensações às existências miseráveis, à obscuridade, à opressão, à dor; não haveria consolação nas provas, esperança para os aflitos. Nenhuma diferença se poderia esperar, no porvir, entre o egoísta, que viveu somente para si, e freqüentemente na dependência de seus semelhantes, e o mártir ou o apóstolo que sofreu, que sucumbiu em combate para a emancipação e o progresso da raça humana. A mesma treva lhes serviria de mortalha. Se tudo terminasse com a morte o ser não teria nenhuma razão de se constranger, de conter seus instintos e seus gostos. Fora das leis terrestres, ninguém o poderia deter. O bem e o mal, o justo e o injusto se confundiriam igualmente e se misturariam no nada. E o suicídio seria sempre um meio de escapar aos rigores das leis humanas. A crença no nada, ao mesmo tempo em que arruína toda sanção moral, deixa sem solução o problema da desigualdade das existências, naquilo que toca à diversidade das faculdades, das aptidões, das situações e dos méritos. Com efeito, por que a uns todos os dons de espírito e do coração e os favores da fortuna, enquanto que tantos outros não têm compartilhado senão a pobreza intelectual, os vícios e a miséria? Por que, na mesma família, parentes e irmãos, saídos da mesma carne e do mesmo sangue, diferem essencialmente sobre tantos pontos? Tantas questões insolúveis para os materialistas e que podem ser respondidas tão bem pelos crentes.



III Espírito e matéria


Não há efeito sem causa; nada procede do nada. Esses são axiomas, isto é, verdades incontestáveis. Ora, como se constata em cada um de nós a existência de forças e de poderes que não podem ser considerados como materiais, há a necessidade, para explicar sua causa, de se chegar a uma outra fonte além da matéria, a esse princípio que chamamos alma ou espírito.

Quando, descendo ao fundo de nós mesmos, querendo aprender a nos conhecer, a analisar nossas faculdades; quando, afastando de nossa alma a borra que a vida acumula, o espesso envelope de preconceitos, erros e sofismas que têm revestido nossa inteligência; penetrando nos recessos mais íntimos de nosso ser, encontramo-nos face a face com esses princípios augustos sem os quais não haveria grandeza para a humanidade: o amor ao bem, o sentimento de justiça e de progresso. Esses princípios, que se encontram em diversos graus, tanto entre os ignorantes quanto entre os homens de gênio, não podem vir da matéria, desprovida que está de tais atributos. E se a matéria não possui essas qualidades, como poderia formar, sozinha, os seres que delas são dotados? O senso do belo e do verdadeiro, a admiração que sentimos pelas grandes e generosas obras, não poderia ter a mesma origem que a carne de nossos membros ou o sangue de nossas veias. Está lá, na sua maior parte, como os reflexos de uma luz sublime e pura que brilha em cada um de nós, da mesma forma que o sol se reflete sobre as águas, quer estejam perturbadas ou límpidas.


Em vão se pretende que tudo seja matéria. E apesar de que ainda que nos ressintamos de poderosos impulsos de amor e de bondade, já conseguimos amar a virtude, o devotamento, o heroísmo; o sentimento da beleza moral está gravado em nós; a harmonia das coisas e das leis nos penetra, nos arrebata. E, com tudo isso, nada nos distinguiria da matéria? Sentimos, amamos, possuímos consciência, vontade e razão e procederíamos de uma causa que não encerra essas qualidades em nenhum grau, de uma causa que não sente, não ama nem conhece nada, que é cega e muda? Superiores à força que nos produziu, seríamos mais perfeitos e melhores que ela!

Uma tal maneira de ver não suporta um exame. O homem participa de duas naturezas. Por seu corpo, por seus órgãos, deriva da matéria; por suas faculdades intelectuais e morais, é espírito. Dizendo ainda mais exatamente, relativamente ao corpo humano, os órgãos que compõem essa admirável máquina são semelhantes a rodas incapazes de agir sem um motor, sem uma vontade que as coloque em ação. Esse motor é a alma. Um terceiro elemento religa os dois outros, transmitindo aos órgãos as ordens do pensamento. Esse elemento é o perispírito, matéria etérea que escapa aos nossos sentidos. Envolve a alma, acompanha-a após a morte nas suas peregrinações infinitas, depurando-se, progredindo com ela, constituindo um corpo diáfano, vaporoso.

O espírito jaz na matéria como um prisioneiro em sua cela; os sentidos são as aberturas pelas quais se comunica com o mundo exterior. Mas, enquanto a matéria, cedo ou tarde, declina, periclita e se desagrega, o espírito aumenta em poder, fortifica-se pela educação e experiência. Suas aspirações se engrandecem, se estendem para além do túmulo; sua necessidade de saber, de conhecer e de viver não tem limites. Tudo mostra que o ser humano pertence apenas temporariamente à matéria. O corpo não é senão uma vestimenta emprestada, uma forma passageira, um instrumento com a ajuda do qual a alma prossegue, nesse mundo, sua obra de depuração e de progresso. A vida espiritual é a vida normal, verdadeira, sem fim.

3.1.09

Rabindranath Tagore



Rabindranath Tagore





Como as gaivotas e as ondas se encontram, nos encontramos e nos unimos.
Vão-se as gaivotas voando, vão pairando sobre as ondas; e nós também vamos.

Se de noite choras pelo sol, não verás as estrelas.

A luz do sol me saúda sorrindo.
A chuva, sua irmã triste, me fala ao coração.

Se faço sombra em meu caminho, é porque há uma lâmpada em mim que ainda não foi acesa.

Teu sol sorri nos dias de inverno de meu coração, e não duvido jamais das flores de tua primavera.

Quando o dia cai, a noite o beija e lhe diz ao ouvido:
'Sou tua mãe a morte, e te hei de dar nova vida'.

O mistério da vida é tão grande como a sombra na noite.

A ilusão da sabedoria é como a névoa do amanhecer.

Lemos mal o mundo, e dizemos logo que nos engana.

A borboleta conta momentos e não meses, e tem tempo de sobra.

Quando eu estiver contigo no fim do dia, poderás ver as minhas cicatrizes, e então saberás que eu me feri e também me curei.

Cada criança nos chega com uma mensagem de que Deus ainda não se esqueceu dos homens.

Elogios me acanham, mas secretamente imploro por eles.




Se não Falas



Se não falas, vou encher o meu coração
Com o teu silêncio, e agüentá-lo.
Ficarei quieto, esperando, como a noite
Em sua vigília estrelada,
Com a cabeça pacientemente inclinada.

A manhã certamente virá,
A escuridão se dissipará, e a tua voz
Se derramará em torrentes douradas por todo o céu.

Então as tuas palavras voarão
Em canções de cada ninho dos meus pássaros,
E as tuas melodias brotarão
Em flores por todos os recantos da minha floresta.

Flor de Lótus



No dia em que a flor de lótus desabrochou
A minha mente vagava, e eu não a percebi.
Minha cesta estava vazia e a flor ficou esquecida.
Somente agora e novamente, uma tristeza caiu sobre mim.
Acordei do meu sonho sentindo o doce rastro
De um perfume no vento sul.
Essa vaga doçura fez o meu coração doer de saudade.
Pareceu-me ser o sopro ardente no verão, procurando completar-se.
Eu não sabia então que a flor estava tão perto de mim
Que ela era minha, e que essa perfeita doçura
Tinha desabrochado no fundo do meu coração.



Verdades



Roubo do hoje a força
Fazendo nascer o amanhã.
Da janela acompanho com olhar
As nuvens do céu.
De novo a sombra sinistra
Tolda tristemente meus sonhos.

Tua imagem me acompanha
Por todos os lugares por onde ando.
E em todos os momentos
É a tua presença que espanta
As brumas do desconhecido.

Não faço perguntas.
Tenho medo das respostas que já sei.
Liberta do invólucro físico
Devolverei a matéria ao pó de que fora feito.

Vivi meus três caminhos na terra.
Purgatório. Inferno. Céu.
Tudo de acordo com meus projetos,
Minhas atitudes,
Procurando não cair nos mesmos erros.

Agora — vago e espero
Entre tropeços e flagelos
O ressurgir da verdade.

A Lua Nova



Como discutem e como gritam!
Como desconfiam e se desesperam!
Nunca param de brigar!
Que tua vida se ponha entre eles, inalterável e pura
Como uma língua de luz
E lhes imponha silêncio com sua formosura.
Que cruéis os torna a cobiça e o ciúme! Como
Violências disfarçadas sedentas de sangue são suas palavras.
Ponha-se entre seus corações irados e que
Teu olhar sublime caia sobre eles como cai a indulgente
Paz do anoitecer sobre a batalha do dia.
Deixe que olhem tua face
E que assim compreendam o sentido de todas as coisas.
Que te amem, e assim amem um ao outro.
Vem ocupar teu lugar nos braços do Eterno.
Abre e levanta teu coração ao nascer do sol, como uma nova flor.
E quando o sol se pôr, inclina tua cabeça e reze
Em silêncio a oração da tarde.

Se me é negado o amor



Se me é negado o amor, por que, então, amanhece;
por que sussurra o vento do sul entre as folhas recém nascidas?
Se me é negado o amor, por que, então,
A noite entristece com nostálgico silêncio as estrelas?
E por que este desatinado coração continua,
Esperançado e louco, olhando o mar infinito?

Desejo



Desejo dizer-lhe as palavras mais profundas, mas não me atrevo, porque temo sua gozação. Por isso acho graça de mim mesmo e transformo em brincadeira meu segredo.
Duvido de minha angústia, para que você não duvide.
Desejo dizer-lhe as palavras mais sinceras, mas não me atrevo, porque temo que não acredite. Por isso as disfarço de mentiras e digo o contrário do que penso.
Me esforço para que minha angústia não pareça absurda para que você não ache que é.
Desejo dizer-lhe as palavras mais valiosas, mas não me atrevo, porque temo não ser correspondido. Por isso me declaro duramente e me orgulho de minha insensibilidade.
Desejo sentar-me silenciosamente a seu lado, mas não me atrevo, porque temo que meus lábios traiam meu coração. Por isso falo
disparatadamente, escondendo meu coração atrás das minhas palavras.
Trato a mim mesmo com dureza, para que você não o faça.
Desejo separar-me de você, mas não me atrevo, porque temo que descubra minha covardia. Por isso levanto a cabeça e fico perto de você com ar indiferente.
A constante provocação de nossos olhares remove minha angústia sem piedade.



Minha canção



Minha canção te envolverá com sua música, como os abraços sublimes do amor.
Tocará o teu rosto como um beijo de graças.
Quando estiveres só, se sentará a teu lado e te falará ao ouvido.
Minha canção será como asas para os teus sonhos e elevará teu coração até o infinito.
Quando a noite escurecer o teu caminho, minha canção brilhará sobre ti como a estrela fiel.
Se fixará nos teus lindos olhos e guiará teu olhar até a alma das coisas.
Quando minha voz se calar para sempre, minha canção te seguirá em teus pensamentos.

Presente de amante



Ela está perto de meu coração, tão linda quanto uma flor no jardim; é suave, como é o descanso para o meu corpo.
O amor que lhe tenho é minha vida fluindo plena, como corre o riacho nas manhãs de outono, em sereno abandono.
Minhas canções são únicas como meu amor, como é único o murmúrio de um rio que canta com todas suas ondas e correntes.


Na luz desta manhã de primavera, canta, poeta, daqueles que passam sem se deter, que vivem sorrindo sem olhar para trás, que florescem em uma hora de deleite sem sentido, e se entristecem num instante, sem pensar. Não fique calado, recitando o rosário de suas lágrimas e alegrias que passaram; não pare para colher as pétalas caídas das flores; não corra atrás do que é enganoso, por desconhecer o seu sentido. Deixe as coisas insignificantes de sua vida onde estão, para que a música surja de suas profundezas.

Durante a noite, no jardim, lhe ofereci o vinho espumante de minha juventude. Você bebeu, fechou os olhos e sorriu; e enquanto eu levantei seu véu, soltei suas tranças e deitei em meu peito seu rosto docemente silencioso; durante a noite, quando o sonho da lua embalava o seu sono. Agora, na calma refrescada do campo, você caminha em direção ao templo de Deus, banhada e vestida de branco, com uma cesta de flores na mão. Eu, à sombra da árvore, deito a cabeça; na calma refrescada do campo, junto ao caminho solitário do templo.



Meditação


O amanhã pertence a nós!
Ó Sol, levanta-te sobre os corações que sangram
E desabrocham como flores na manhã,
E também sobre o banquete do orgulho,
Ontem iluminado por tochas, e hoje reduzido a cinzas...



Se gostas de ouvir narrações dos tempos passados, então senta-te nesse degrau e presta atenção ao chapinhar da água.

Estávamos nas proximidades do mês de Ashwin (Setembro). A ribeira ia cheia. Da escadaria que descia, somente quatro degraus estavam fora da água. Na margem da ribeira cresciam tufos de plantas compactos sob os ramos dos bosques de mangueiras, onde a corrente formava um ângulo e deixava a descoberto três grandes montões de tijolo As barcas de pesca, amarradas aos troncos de babilas, balouçavam-se indolentemente. Os grandes caniços que cobriam o banco de areia captavam os primeiros raios de sol e começavam a florir antes de atingir o seu pleno desenvolvimento.

Os barcos abriam as suas velas sobre a ribeira cheia de sol. O sacerdote, com os seus vasos rituais, dispunha-se a tomar o banho. As mulheres, em grupos, vinham buscar água. Era a hora em que Kusum tinha o costume de aparecer no alto da escadaria e tomar banho.

Mas naquela manhã não a vi chegar. Diante do ghât (escadaria onde se toma banho), Bhudan e Swarno lamentavam-se. A sua amiga — diziam — tinha sido levada para casa do marido, uma localidade muito afastada da ribeira, e que se distinguia por uma população estranha, casas estranhas e caminhos estranhos.

Entretanto ela quase desapareceu da minha memória. Passou um ano. As mulheres que vinham tomar banho falavam novamente de Kusum. Uma tarde, porém, estremeci ao reconhecer dois pés familiares. Mas ai, eles não traziam anéis e tinham perdido o seu tilintar musical de outrora!

Kusum estava viúva. Dizia-se que o marido fora chamado a uma cidade longínqua e que ela apenas o vira uma ou duas vezes. O correio trouxera-lhe a notícia da sua morte. Viúva aos oito anos, apagara na fronte o sinal vermelho de casada, despojara-se dos seus braceletes e voltara para a velha casa à beira do Ganges. Mas encontrou poucas amigas dos tempos de solteira. Bhudan, Swarno e Amala tinham casado e partido; só Sarat ficara; mas afirmavam que se dispunha a casar em Dezembro.

Da mesma forma que o Ganges, na estação das chuvas aumenta gradualmente de volume e transborda, assim Kusum se aproximava, dia a dia, da plena floração de beleza. Mas com vestes brancas e sem enfeites, de rosto pensativo e atitude calma, lançavam-lhe um véu sobre a juventude e ocultavam-na, como uma bruma, aos olhos dos homens. Dez anos tinham decorrido sem que ninguém reparasse que Kusum se desenvolvia.








2.1.09


AUSTERIDADE E ARROGÂNCIA

- Se tens inclinação para a disciplina rígida e gostas de dispensar especial atenção às coisas mais insignificantes, executando todos os afazeres com extrema prontidão e eficiência, em horas sempre certas e locais apropriados, considera-te um homem de sorte.

Todavia não tentes levar aos outros, com desmedido entusiasmo e fagueiras esperanças, as convicções que te norteiam os atos, pois cada um cultiva um modo de ser.

- Se preferes agir com zelosa intransigência ao cumprir as obrigações do lar, considera-te no teu direito.

Entretanto, não violentes a liberdade Íntima dos familiares, dominando-os com a tua vontade vigorosa, pois eles também possuem uma cabeça para pensar.

- Se resolves as tuas dificuldades com um critério de absoluta retidão, considera-te um bem-aventurado.

Apesar disso, não condenes os que procedem de forma diversa, pois é sempre perigoso legislar sobre a vida alheia.

- Se estimas a mais estrita ordem nas atividades profissionais, como alguém suficientemente esclarecido sobre os benefícios resultantes da organização do trabalho, considera-te um felizardo.

Contudo, admitindo que ninguém é infalível, não exijas uma conduta drasticamente retilínea dos indivíduos que operam em teu derredor, sobretudo se eles estiverem sujeitos às tuas ordens; ao verberares erros de subordinados, fica ciente de que todo chefe prepotente é secretamente amaldiçoado.


Austeridade é uma coisa e arrogância é outra muito diferente. Ambas, porém, são parecidas, e às vezes se misturam em nossas atitudes bem intencionadas. Ainda que a consciência não te acuse de faltas e culpas, nunca sejas áspero no trato com os semelhantes, nem te sintas feliz no afã de censurar.

- Se não queres parecer pretensioso, arbitrário e soberbo, esconde a notável perfeição de que te julgas dotado, comportando-te com maior condescendência junto aos parentes, amigos, colegas e conhecidos em toda parte.

Não professando qualquer religião, e crendo apenas na matéria, recorda que desse ponto de vista não passas de um punhado de pó.

- Se, no entanto, admites a imortalidade da alma, lembra que, em nossa fatal prestação de contas depois da sepultura, não serão contabilizadas moedas reluzentes, e sim aquelas que tiverem o cunho da bondade.

Nazareno Tourinho




No amor, nem sempre são as faltas o que mais nos prejudica, mas sim a maneira como procedemos depois de as ter cometido. "Oví­dio"