Psy

"Só algumas pessoas escolhidas pela fatalidade do acaso provaram da liberdade esquiva e delicada da vida" "Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa, ou forte como uma ventania, depende de quando e como você me vê passar" "Clarice Lispector"

31.3.07



Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida ...


Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber por quê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!

Florbela Espanca

28.3.07

Para ler e pensar



Às vezes as pessoas que amamos nos magoam, e nada podemos fazer senão continuar nossa jornada com nosso coração machucado.
Às vezes nos falta esperança, mas alguém aparece para nos confortar.
Às vezes o amor nos machuca profundamente, e vamos nos recuperando muito lentamente dessa ferida tão dolorosa.

Às vezes perdemos nossa fé, então descobrimos que precisamos acreditar, tanto quanto precisamos respirar, é nossa razão de existir.
Às vezes estamos sem rumo, mas alguém entra em nossa vida, e se torna o nosso destino.
Às vezes estamos no meio de centenas de pessoas, e a solidão aperta nosso coração pela falta de uma única pessoa.


Às vezes a dor nos faz chorar, nos faz sofrer, nos faz querer parar de viver, até que algo toque nosso coração, algo simples como a beleza de um por do sol, a magnitude de uma noite estrelada, a simplicidade de uma brisa batendo em nosso rosto, é a força da natureza nos chamando para a vida.

Você descobre que as pessoas que pareciam ser sinceras e receberam sua confiança, te traíram sem qualquer piedade.


Você entende que o que para você era amizade, para outros era apenas conveniência, oportunismo.


Você descobre que algumas pessoas nunca disseram eu te amo, e por isso nunca fizeram amor, apenas transaram, descobre também que outras disseram eu te amo uma única vez e agora temem dizer novamente, e com razão, mas se o seu sentimento for sincero poderá ajudá-las a reconstruir um coração quebrantado.




Assim ao conhecer alguém, preste atenção no caminho que essa pessoa percorreu, são fatores importantes:
a) a relação com a família,
b) as condições econômicas nas quais se desenvolveu (dificuldades extremas ou facilidades excessivas formam um caráter),
c) os relacionamentos anteriores e as razões do rompimento,
d) seus sonhos, ideais e objetivos.


Não deixe de acreditar no amor, mas certifique-se de estar entregando seu coração para alguém que dê valor aos mesmos sentimentos que você dá.

Manifeste suas idéias e planos, para saber se vocês combinam, esteja aberto a algumas alterações, mas jamais abra mão de tudo, pois se essa pessoa te deixar, então nada irá lhe restar.


Aproveite ao máximo seus momentos de felicidade, quando menos esperamos iniciam-se períodos difíceis em nossas vidas.


Tenha sempre em mente que às vezes tentar salvar um relacionamento, manter um grande amor, pode ter um preço muito alto se esse sentimento não for recíproco, pois em algum outro momento essa pessoa irá te deixar e seu sofrimento será ainda mais intenso, do que teria sido no passado.


Pode ser difícil fazer algumas escolhas, mas muitas vezes isso é necessário, existe uma diferença muito grande entre conhecer o caminho e percorrê-lo.


Não procure querer conhecer seu futuro antes da hora, nem exagere em seu sofrimento, esperar é dar uma chance à vida para que ela coloque a pessoa certa em seu caminho.


A tristeza pode ser intensa,mas jamais será eterna.

A felicidade pode demorar a chegar, mas o importante é que ela venha para ficar e não esteja apenas de passagem, como acontece com muitas pessoas que cruzam nosso caminho.
Luiz Fernando Veríssimo


27.3.07


Cantábile

Basta-me um pequeno gesto,
Feito de longe e de leve,
Para que venhas comigo
E eu para sempre te leve...
- Mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
Das montanhas dos instantes
Desmancha todos os mares
E une as terras mais distantes...
- Palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
Entre os ventos taciturnos,
Apago meus pensamentos,
Ponho vestidos noturnos,
- Que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobre,
Os mundos vão navegando
Nos ares certos do tempo,
Até não se sabe quando...
- E um dia me acabarei.

Cecília Meireles


23.3.07

Guardei-me para ti









Guardei-me para ti como um segredo
Que eu mesma não desvendei:
Há notas nesta guitarra que não toquei,
Há praias na minha ilha que nem andei.

É preciso que me tomes, além do riso e do olhar,
Naquilo que não conheço e adivinhei;
É preciso que me ensines a canção do que serei
E me cries com teu gesto
Que nem sonhei.

Lya Luft




22.3.07

Canteiros



Quando penso em você fecho os olhos de saudade
Tenho tido muita coisa, menos a felicidade
Correm os meus dedos longos em versos tristes que invento
Nem aquilo a que me entrego já me traz contentamento

Pode ser até manhã, cedo claro feito dia
mas nada do que me dizem me faz sentir alegria
Eu só queria ter no mato um gosto de framboesa
Para correr entre os canteiros e esconder minha tristeza

Que eu ainda sou bem moço para tanta tristeza
E deixemos de coisa, cuidemos da vida,
Pois se não chega a morte ou coisa parecida
E nos arrasta moço, sem ter visto a vida.
Cecília Meireles

......


20.3.07

Amai-vos um ao outro...


.

Amai-vos um ao outro,
mas não façais do amor um grilhão.
Que haja, antes, um mar ondulante
entre as praias de vossa alma.

Enchei a taça um do outro,
mas não bebais da mesma taça.
Dai do vosso pão um ao outro,
mas não comais do mesmo pedaço.

Cantai e dançai juntos,
e sede alegres,
mas deixai
cada um de vós estar sozinho.

Assim como as cordas da lira
são separadas e,
no entanto,
vibram na mesma harmonia.

Dai vosso coração,
mas não o confieis à guarda um do outro.
Pois somente a mão da Vida
pode conter vosso coração.

E vivei juntos,
mas não vos aconchegueis demasiadamente.
Pois as colunas do templo
erguem-se separadamente.

E o carvalho e o cipreste
não crescem à sombra um do outro.
Gibran Kahlil Gibran





O amor que nos faz bem, não se apossa de nós,
mas nos dá a liberdade de escolha de qual caminho seguirmos
e ainda, nos acompanha, desde que a viagem nos conduza
à mais um degrau na escalada da nossa vida.

O amor bom nos ajuda a crescer enquanto gente,
e se alegra com as nossas pequenas
vitórias sobre nós mesmo.

MJ

16.3.07

O Tempo


Uma nuvem não sabe

por que se move em tal

direção e em tal
velocidade,

Sente um impulso... é para

este lugar que devo ir agora.


Mas o céu sabe

os motivos e desenhos
por trás de todas as nuvens,
e você também saberá, quando
se erguer o suficiente
para ver além dos
horizontes.

Richard Back



15.3.07

Nascimento de Vênus

Imagem de Sandro Botticelli (Florença, 1º de março de 1445 – 17 de maio de 1510), foi um pintor italiano da Escola Florentina.

Vênus – ou Afrodite- nasceu no mar.
Conta a lenda que desembarcou de sua concha na ilha de Citera (por isso é também chamada de Citeréia) e locomoveu-se, depois, para a ilha de Chipre.

Considerada a deusa da fecundidade, sob os seus passos a natureza florescia, as flores germinavam.
As chuvas da primavera eram de sua responsabilidade.
Mais tarde, pela sua extraordinária beleza e juventude, passou a ser venerada também como a deusa do amor em todas as manifestações: desde o mais puro sentimento amoroso até o amor erótico.
Por ter nascido do mar, foi protetora dos marinheiros.


Imagem: W.Bouguereau


Vocação de Médico




Ajuntar o que já se desintegrou
Suturar o que se rasgou
Integrar o que está desconjuntado
Reviver aquele que
acabou de suspirar
Amparar quem não mais se sustenta.

Reerguer aquele já desfalecido
Falecer a dor que castiga e castigar
A doença que corrói desfalecendo.

Reunir o que já não mais restou
Animar a chama que alinda fumega
Avivar a esperança, ainda que a
Desilusão seja inevitável.

Proporcionar a calma aquele
Que já encarnou o desespero
Encarnar a vida de quem quis extingui-la
De outrem ou de si mesmo.

Articular o que já está destroçado
Conformar o que está amorfo
Lutar incansavelmente, mesmo que
A batalha esteja inexoravelmente perdida.

Falar a verdade com diplomacia sem ser diplomata
Ser honesto sem ser tendencioso
Ponderar sem ser juiz
Mitigar, extinguir o sofrimento
Sonhar, acreditar e sempre defender a vida.

Zelar pela saúde, independentemente
Da aparência física, poder econômico,
Interesses religiosos e situação cultural,
Pois a alma não é aquilatada pela natureza do cifrão,
Nem mesmo pela sua cor, tamanho, peso, odor ou forma.

Só há um denominador comum
Uma só profissão
Um só vocábulo Uma só honra – MÉDICO!

Não abdique de sua condição
Nunca deixe perecer sua identidade
Jamais negligencie sua vocação


Escrito por Hélio Begliomini – Médico








Isso é o que se pensa e espera
daquele que se propõe a ajudar a salvar vidas.

Infelizmente, como há sempre o bom e o mal homem,

no caso dos Doutores, não haveria de ser diferente.

Desejamos, contudo, que o médico frio, mercenário e impessoal seja uma minoria.
Que seja dado, a todo ser humano, independente de sua condição financeira,

a oportunidade de curar os males que matam o seu corpo.
MJ



14.3.07

O Eco e Narciso







Eco era uma bela ninfa, amante dos bosques e dos montes, onde se dedicava as distrações campestres.
Era favorita de Diana acompanhava-a em suas caçadas. Tinha um defeito, porém: falava demais e, em qualquer conversa ou discussão, queria sempre dizer a última palavra.
Certo dia Juno saiu à procura do marido, de quem desconfiava, com razão, que estivesse se divertindo entre as ninfas. Eco, com sua conversa, conseguiu entreter a deusa, até as ninfas fugirem. Percebendo isto, Juno a condenou com essas palavras:
-Só conservará o uso dessa língua com que me iludiste para uma coisa se que gosta tanto: responder. Continuarás a dizer a última palavra, mas não poderás falar em primeiro lugar.





A ninfa viu Narciso, um belo jovem, que perseguia a caça na montanha. Apaixonou-se por ele e seguiu-lhe os passos. Quando desejava dirigir-lhes a palavra, dizer-lhe frases gentis e conquistar-lhe o afeto! Isso estava fora do seu poder, contudo. Esperou, com impaciência, que ele falasse primeiro, a fim de que pudesse responder. Certo dia, o jovem, tendo se separado dos companheiros, gritou bem alto:
- Há alguém aqui?
- Aqui, respondeu eco.
Narciso olhou em torno e, não vendo ninguém, gritou:
- Vem!
- Vem, respondeu Eco.
- Por que foges de mim? - perguntou Narciso.
Eco respondeu com a mesma pergunta.
Vamos nos juntar - disse o jovem.
A donzela repetiu com todo o ardor, as mesmas palavras e correu para junto de Narciso, pronta a se lançar em seus braços.
-Afasta-te! Exclamou o jovem recuando. - Prefiro morrer e te deixar possuir-me.
- Possuir-me disse Eco.
Mas tudo foi em vão. Narciso fugiu e ela foi esconder sua vergonha no recesso dos bosques. Daquele dia em diante, passou a viver nas cavernas e entre os rochedos das montanhas. De pesar, seu corpo definhou, até que as carnes desapareceram inteiramente. Os ossos transformaram-se em rochedos e nada dela restou além da voz. E assim ela continua disposta a responder a quem que a chame e conserva o velho hábito de dizer a última palavra.



Texto extraído do livro "O Livro de Ouro da Mitologia"de Thomas Bulfinch,pag 120

Imagens: William Bouguereau





Ainda hoje, o Eco não tem vida própria.
Existe na ressonância dos outros.
Narciso, por não conhecer nada além do seu próprio “Eu”
se limita a adorar e “amar” o seu reflexo que,
por não refletir em mais nada, se finda
na busca solitária de se realizar.
MJ

13.3.07



Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia, não há nada mais simples! Tem só duas datas — a da minha nascença e a da minha morte. Entre uma e outra coisa todos os dias são meus.
Alberto Caeiro



Imagem: William Bouguereau

Não sou a areia
onde se desenha um par de asas
ou grades diante de uma janela.
Não sou apenas a pedra que rola
nas marés do mundo,
em cada praia renascendo outra.
Sou a orelha encostada na concha
da vida, sou construção e desmoronamento,
servo e senhor, e sou
mistério

A quatro mãos escrevemos este roteiro
para o palco de meu tempo:
o meu destino e eu.
Nem sempre estamos afinados,
nem sempre nos levamos
a sério.

Lya Luft

9.3.07




Mensagem de um doador Anônimo




Não chamem o meu falecimento de leito da morte, mas de leito da vida.

Dêem minha visão ao homem que jamais viu o raiar do sol, o rosto de uma criança ou o amor nos olhos de uma mulher.

Dêem meu coração a uma pessoa cujo coração apenas experimentou dias infindáveis de dor.

Dêem meu sangue ao jovem que foi retirado dos destroços de seu carro, para que ele possa viver para ver os seus netos brincarem.

Dêem os meus rins às pessoas que precisam de uma máquina para viver de semana em semana.

Retirem meus ossos, cada músculo, cada fibra e nervo do meu corpo e encontrem um meio para fazer uma criança inválida caminhar.

Explorem cada canto do meu cérebro. Retirem minhas células, se necessário, e deixem-nas crescerem para que, um dia, um menino mudo possa ouvir o gritar em um momento de felicidade ou uma menina surda possa ouvir o barulho da chuva de encontro à sua janela.

Queimem o que restar de mim e espalhem as cinzas ao vento, para ajudarem as flores brotarem.

Se tiverem que enterrar algo, que sejam meus erros, minhas fraquezas e todo o mal que fiz aos meus semelhantes.

Dêem meus pecados ao diabo. Dêem minha alma a Deus.

Se, por acaso, desejarem lembrar-se de mim, façam-no com ação ou palavra amiga a alguém que precise de vocês.
Se fizerem tudo o que pedi, estarei vivo para sempre.
Robert N. Test - 1978







Se eu puder caminhar observando a amplidão do horizonte...

Não terei pressa, andarei mesmo assim com passos largos...

Terei a minha frente o infinito e poderei construir minha passagem...

Se eu vejo a amplidão, me vejo sem limites...

Não existirá em meu trajeto obstáculos intransponíveis...


Mas preciso da amplidão como espelho...

Na verdade não quero o fim da caminhada,

não quero um objetivo a minha frente como uma marca de chegada...

Quero a trilha e dela sentir sede de conquista-la para todo o sempre...

Se levantar os olhos e ver esta amplidão...

Estarei trilhando...
Passo a passo...
Estarei a caminho...


E com um horizonte tão imenso a minha frente, não terei retornos,
não vou questionar o que passou...

Apenas irei...
Se eu olhar para o lado e você estiver lá...
Estarei sorrindo, e certa de que emoções vividas não são vãs...
Te oferecerei aminha mão e poderemos ir juntos...
Passo a passo...
Em frente, com o mundo todo se abrindo a cada movimento

e sem nunca querer chegar ao fim....


Você não é erfeito...
Não gosto de perfeição, mas o que existe em você, o que sinto...
O que "vejo" faz com que eu deseje olhar a amplidão,

e queira caminhar em sua direção..."






Imagens: Moon and Back Graphics



Amo-te quanto em largo, alto e profundo
Minh’alma alcança quando transportada,
Sente, alongado os olhos deste mundo,
Os fins do Ser, a Graça entressonhada.

Amo-te em cada dia, hora e segundo :
A luz do sol, na noite sossegada.
E é tão pura a paixão de que inundo
Quanto o pudor dos que não pedem nada.

Amo-te com o doer das velhas penas;
Com sorriso, com lágrimas de prece,
E a fé da minha infância , ingênua e forte.

Amo-te até nas coisas mais pequenas.
Por toda a vida. E , se assim Deus o quisesse,
Ainda mais te amarei depois da morte.
Elizabeth Barret



III. A forma real das coisas




1. Desde que tudo no mundo é causado pelo concurso das causas e condições, não poderá haver nenhuma distinção básica entre as coisas. As aparentes distinções são criadas pelos absurdos e discriminadores pensamentos dos homens.

No firmamento não há distinção entre o leste e o oeste; os homens criaram, em suas mentes, esta distinção e a julgam como verdadeira.

Os números matemáticos, de um ao infinito, são números completos, e nenhum deles guarda em si qualquer distinção de quantidade; mas, para atender a própria conveniência, os homens fazem discriminações e atribuem a cada um dos números uma característica quantitativa.

No universal processo da criação não há, inerentemente, distinções entre o processo da vida e o da extinção, mas os homens fazem uma distinção, chamando a um nascimento e a outro de morte. Paralelamente, não havendo nenhuma discriminação entre o certo e o errado nos atos, os homens fazem uma distinção, para atender a sua tola conveniência.

Buda se afasta destas discriminações e considera o mundo como uma nuvem passageira. Para Buda toda coisa definitiva é mera ilusão; Ele sabe que tudo aquilo ao qual a mente se apega e despreza é sem substância; assim ele evita as ciladas das aparências e os pensamentos discriminadores.

Siddharta Gautama



No amor, nem sempre são as faltas o que mais nos prejudica, mas sim a maneira como procedemos depois de as ter cometido. "Oví­dio"