Pergunta a Osho:
Eu
tenho medo da morte, no entanto, ao mesmo tempo, ela
exerce uma atração inexplicável sobre mim. O que
isso significa?
A
morte é o maior mistério da vida. A vida tem muitos
mistérios, mas não existe nada que se compare à
morte. A morte é o clímax, o crescendo. A pessoa tem
medo dela porque ela ficará perdida, ela se
dissolverá nela.
Ela
tem medo da morte por causa do ego — o ego não pode
sobreviver à morte. Ele ficará nesta margem quando
você passar para a outra; ele não pode ir com você.
E o ego é tudo o que você sabe sobre si mesmo, daí o
medo, o grande medo: "Eu não existirei mais depois
de morrer."
Mas
existe uma grande atração também. O ego você
perderá, mas não a sua realidade. Na verdade, a
morte lhe revelará a sua verdadeira identidade; ela
levará embora todas as máscaras e revelará a sua
face original.
A
morte tornará possível, pela primeira vez, que você
encontre o seu âmago mais profundo, a sua
subjetividade mais profunda assim como ela é, sem
nenhuma camuflagem, sem nenhum fingimento, sem
nenhuma personalidade falsa. Por isso é que todo
mundo tem medo da morte e se sente atraído por ela.
Essa
atração foi mal interpretada por Sigmund Freud, que
achou que havia um desejo de morte no ser humano —
ele o chamou de Thanatos. Ele dizia, "O homem tem
dois instintos básicos, fundamentais; um é Eros — um
desejo profundo de viver, de viver para sempre, um
desejo pela imortalidade — e o outro é Thanatos, o
desejo de morrer, de acabar com tudo".
Ele
não entendeu o espírito da coisa, pois ele não era
um místico; ele só conhecia uma face da morte — que
ela é o fim da vida —, ele só sabia uma coisa: que a
morte é o fim. Ele não se deu conta de que a morte é
também um começo.
Todo
fim é somente um começo, porque nada acaba
totalmente. Nada pode jamais acabar. Tudo continua,
só a forma muda. A sua forma morrerá, mas você
também tem algo sem forma em você. O seu corpo não
existirá mais, mas você tem algo aí dentro, dentro
do seu corpo, que não faz parte do seu corpo.
A
sua parte terrena voltará à terra, é pó sobre pó,
mas você tem algo do céu em você, algo do além, que
empreenderá uma nova jornada, uma nova peregrinação.
A morte causa medo se você pensar no ego, e ela
agrada você, atrai você, se você pensar no seu
verdadeiro eu.
Então a pessoa sente uma vaga atração pela morte; se
você ficar totalmente consciente dela, ela pode se
tornar uma compreensão transformadora, pode se
tornar uma força de mutação.
Procure entender tanto o medo quanto a atração. E
não pense que eles sejam opostos — eles não se
sobrepõem, eles não são opostos um do outro; eles
não interferem um no outro. O medo está voltado para
uma direção: o ego; e a atração está voltada para
uma dimensão totalmente diferente: o eu destituído
de ego.
E a
atração é muito mais importante do que o medo. O
praticante de meditação tem de superar o medo. Ele
tem de se apaixonar pela morte, tem de convidar a
morte — o praticante de meditação não tem de esperar
por ela, ele tem de evocá-la, pois a morte é uma
amiga para ele.
E o
praticante de meditação morre antes do corpo. E essa
é uma das mais belas experiências da vida: o corpo
continua vivendo, externamente você continua vivendo
como sempre, mas interiormente o ego não existe
mais, o ego morreu.
Agora você está vivo e morto ao mesmo tempo. Você se
tornou um ponto de encontro entre a vida e a morte;
você contém agora os opostos polares e é grande a
riqueza quando os dois opostos polares estão
presentes.
E
esses são grandes opostos polares, a vida e a morte.
Se abarca ambos, você será capaz de abarcar Deus,
pois Deus é ambos. Uma face de Deus é a vida, a
outra face é a morte.
Isso
é belo — não torne isso um problema.
Medite a respeito, faça disso uma meditação e você
será imensamente beneficiado.
Osho, em "O Livro do
Viver e do Morrer: Celebre a Vida e Também a Morte
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